O SOM DA MÚSICA: NOSSA BANDA PODE SER NOSSA VIDA XIII

Wednesday, May 23, 2007

NOSSA BANDA PODE SER NOSSA VIDA XIII

XIII. Cores Vivas

Pretendo escrever novamente sobre algumas das músicas já mencionadas por mim nesta seção. Peço ao leitor ter em mente que nenhuma destas divagações é definitiva, daí o tal código open-source das músicas a fim de eu me possibilitar re-elaborá-las sempre que eu quiser.

"Cores Vivas" foi um dos primeiros temas que pintaram logo que comprei meu primeiro violão decente, em 2004, daqueles que aguentam as afinações não-ortodoxas que uso freqüentemente. Assim que tive o instrumento em mãos tive a certeza de que daria para explorá-lo bastante neste sentido - e olha que já havia até testado anteriormente violões caros sem ter essa certeza. Neste período rolou a minha fase mais regular de treinamento. Todos os dias tocava um pouco, nem que fosse meia horinha. E aos poucos fui fazendo este tema, que até hoje não consegui gravar de forma decente, pelo menos como eu o vislumbro. Vale lembrar...

Pintou de primeira as frases iniciais da música, harmonia e melodia, e ficava cantarolando isso praticamente quase todos os dias. Me refiro mais especificamente ao trecho "se você quiser me ver..." Essa música apareceu quando já estava um pouco mais safo com esta determinada afinação, até já havia escrito "Cantiga" anteriormente. Mas durante um bom tempo essa música foi meu xodó. Tive um pouco de dificuldade de fazer o texto, apesar de a frase inicial do texto da música também ter me sido "soprada" aos ouvidos sempre que eu a tocava em casa, concentrado. Mas não me sentia satisfeito com tudo quanto era rabisco meu. E estava de saco cheio de ficar criando alegorias, todas as que havia concebido para este tema me soavam artificiais demais, com a exceção de uma frase que cabia perfeitamente em determinado trecho da melodia: "sim, eu sei que o tempo nunca volta atrás..." Achei estranho me sentir confortável apenas com aquelas duas frases, apesar de a parada não me fazer o menor sentido até então.

Ficava aqui delirando como se a melodia em cima da harmonia me remetesse a algum tema musical à “moda Disney”. E, pelo o que me lembro, como nunca fui de ficar vendo filmes ao estilo “contos de fada”, então era mais ou menos como eu imaginava um tema daquele tipo. No padrão esquizo... Até que calhou de eu encontrar algum significado para a música, quando eu e minha garota nos reencontramos, inicialmente em nossa fase clandestina. Cof, cof...

Sei lá, de certa forma achei que a música poderia ser uma espécie de quadro que eu me desse ao luxo de pintar, sei lá, uma paisagem de sentimentos ou qualquer porra do tipo. Um lance galã, romântico, entende? E daí fui fazendo o restante da música sem amarras, simplesmente deixando sentimentos fluírem do meu manejo das seis cordas do violão. O interessante é que a música cada vez mais ficava gigantesca - é provavelmente o tema mais longo das Andaluz Aurora Demos. Tenho umas gravações aqui da música com dezoito minutos...

Nem esquentei quanto ao tamanho, pois me lembrei também do impacto de ter visto os painéis gigantescos de Salvador Dalí naquela exposição dele que passou pelo Rio no final da década passada. E, se a parada me soava como uma pintura musical, então quis que essa música representasse para mim uma espécie de um painel giganttesco daqueles, pelo menos em termos de impacto sensorial (ahahahah maionese comanda). E foda-se se os idiotas achassem que se tratava de tentativas minhas de fazer rock pÔgressivo. Tsc, francamente... Você sabe: hoje em dia ainda tem energúmeno que tacha de progressivo qualquer som com mais de três minutos...

A letra eu fui escrevendo à medida em que começamos a nos encontrar mais regularmente e o que nos parecia apenas ser uma espécie de flashback foi aparentando contornos mais visíveis. Por esta razão, me permiti apenas sublimar o que achava de bacana em nossa interação e como eu pinto com o meu pinto - ops, não resisti a essa pseudo-anedota - a perspectiva do "painel musical" se daria a partir de meu próprio enfoque narrativo. Do soturno preto-e-branco original a paisagem ganha forma com a inclusão de cores na paisagem matinal.

Como se tratava inicialmente de uma aventura existencial clandestina, um certo dia acordei bem cedo em um final de semana, peguei todos os meus rabiscos e resolvi finalmente dar algum sentido àquela alegoria toda. Um lance meio para lavar a alma e entregar o futuro ao acaso. O interessante é que, assim que consegui fazer a primeira parte da letra e cantarolei a fim de me certificar se o texto cabia realmente na métrica da melodia, recebi uma visita inesperada – inesperada em se tratando de nossos padrões de encontros clandestinos de outrora.

O mais bacana é que tive a oportunidade de tocar para ela a canção assim que a compus, mais precisamente a primeira parte da "pintura". Aproveitei e toquei outras canções também e obtive a recepção mais emocionada possível. Não somos emo, mas choramos agarradinhos debaixo do edredon. E ficamos um tempo confabulando sobre o tempo, incluindo diversas aspirações nossas e pendências de ordem cotidiana. A segunda parte da letra eu só finalizaria algum tempo depois. Vamos ver, qualquer dia desses eu posto na web uma versão mais adequada da música.

E, por mais que eu criasse resistência a mim mesmo, a história saiu como se alguém perambulasse cansado por alguma praia deserta à procura de algum recanto confortável que aos poucos se delineia na paisagem ao fundo: nas luzes da cidade durante a noite, no abraço acolhedor e amoroso, etc. Tendo em vista que é mais fácil enxergar durante a escuridão o brilho eterno de uma estrela de maior grandeza ou mesmo uma estrela bonita que se joga do céu na forma de um desejo atendido, pois este mesma nos cegaria os olhos se nos dispuséssemos a enxergá-la melhor do que com os nossos próprios corações, fui desenvolvendo o tema.

É também um alô que o apelo emocional do tema é mais importante do que propriamente racionalizar demais, pois certas coisas não se explica sem o risco da perda do encanto, então apenas se sente. Quando você vai ver uma imagem, sua primeira interação é icônica, se não me falha a memória das aulas de teorias de linguagem. Então, se você, na condição de ouvinte/leitor ou apreciador/depreciador em potencial, não se permitir se aquecer no calor do sentimento retratado na paisagem, não adianta apelar para a razão. Premissa básica neste caso...

E como não poderia deixar de ser, a aurora mais uma vez reaparece, como nos demais temas das Andaluz Aurora Demos, aqui representada naturalmente como um dia que nasce depois de uma noite aconchegante. Também há menções veladas ao meu imaginário musical, sem cronologia muito definida que não seja via parâmetros afetivos. Enfim, esta música é mais um xodó meu do que propriamente um lance que os caras da banda, Arthur e Daniel, se identifiquem mais do que acontece com outras das Andaluz Aurora Demos. No entanto, em algum ensaios nossos por volta de 2005, chegamos a versões melhores do que as que temos em registros overall. Depois eu escrevo mais sobre este temas ou demais que ainda não esmiucei por aqui.

Texto de Marcus Marçal. Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via email.


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