FRAGMENTOS DE MONOLITO XXIV
"No ar que se respira, nos gestos mais banais... Em regras, mandamentos, julgamentos, tribunais... Na vitória do mais forte, na derrota dos iguais... A violência travestida faz seu trottoir. Na procura doentia de qualquer prazer, na arquitetura metafisica das catedrais, nas arquibancadas, nas cadeiras, nas gerais, a violencia travestida faz seu trottoir. Na maioria silenciosa, orgulhosa de não ter vontade de gritar, nada pra dizer, a violência travestida faz seu trottoir nos anúncios de cigarro que avisam que fumar faz mal. A violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos, lâminas de barbear, armas de brinquedo, medo de brincar. A violência travestida faz seu trottoir no vídeo, na idiotice intergaláctica, na mídia, na moda, nas farmácias, no quarto de dormir, na sala de jantar. A morte anda tão viva, a vida anda pra trás. É a livre iniciativa, igualdade aos desiguais. Na hora de dormir, na sala de estar, a violência travestida faz seu trottoir. Uma bala perdida encontra alguém perdido, encontra abrigo num corpo que passa por ali
e estraga tudo. Enterra tudo, pá de cal, enterra todos na vala comum de um discurso liberal... A violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos, lâminas de barbear, armas de brinquedo, medo de brincar, a violência travestida faz seu trottoir. Tudo que ele deixou foi uma carta de amor para uma apresentadora de programa infantil. Nela ele dizia que já não era criança e que a esperança também dança como monstros de um filme japonês. Tudo que ele tinha era uma foto desbotada, recortada de revista especializada em vida de artista. Tudo que ele queria era encontrá-la um dia - todo suicida acredita na vida depois da morte. Tudo que ele tinha cabia no bolso da jaqueta. A vida quando acaba, cabe em qualquer lugar. E a violência travestida faz seu trottoir... Não se renda às evidências, não se prenda à primeira impressão. Eles dizem com ternura: o que vale é a intenção; e te dão um cheque sem fundos do fundo do coração. No ar que se respira, nessa total falta de ar, a violência travestida faz seu trottoir. Em armas de brinquedo, medo de brincar, em anúncios luminosos, lâminas de barbear, nos anúncios de cigarro que avisam que fumar faz mal, a violência travestida faz seu trottoir. A violência travestida faz seu trottoir..."
"No ar da nossa aldeia, há rádio, cinema & televisão. Mas o sangue só corre nas veias por pura falta de opção. As aranhas não tecem suas teias por loucura ou por paixão e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção. Você sabe, o que eu quero dizer, não está escrito nos outdoors. Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior. No céu, além de nuvens, há sexo, drogas & palavrões. As coisas mudam de nome, mas continuam sendo religiões. No dia-a-dia da nossa aldeia, há infelizes enfartados de informação. As coisas mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão. Você sabe o que eu quero dizer, não está escrito nos outdoors. Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior. No ar da nossa aldeia, há mais do que poluição. Há poucos que já foram e muitos que nunca serão. As aranhas não tecem suas teias por loucura ou por paixão e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção. Você sabe o que eu quero dizer, não vale uma canção. Por mais que a gente cante, o silêncio é sempre maior. Você sabe o que eu quero dizer, não cabe na canção. Por pura falta de opção,
púrpura é a cor do coração..."
Citação sem intuito comercial de "A Violência Travestida Faz seu Trottoir" e "Além dos Outdoors", textos de Humberto Gessinger.
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e estraga tudo. Enterra tudo, pá de cal, enterra todos na vala comum de um discurso liberal... A violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos, lâminas de barbear, armas de brinquedo, medo de brincar, a violência travestida faz seu trottoir. Tudo que ele deixou foi uma carta de amor para uma apresentadora de programa infantil. Nela ele dizia que já não era criança e que a esperança também dança como monstros de um filme japonês. Tudo que ele tinha era uma foto desbotada, recortada de revista especializada em vida de artista. Tudo que ele queria era encontrá-la um dia - todo suicida acredita na vida depois da morte. Tudo que ele tinha cabia no bolso da jaqueta. A vida quando acaba, cabe em qualquer lugar. E a violência travestida faz seu trottoir... Não se renda às evidências, não se prenda à primeira impressão. Eles dizem com ternura: o que vale é a intenção; e te dão um cheque sem fundos do fundo do coração. No ar que se respira, nessa total falta de ar, a violência travestida faz seu trottoir. Em armas de brinquedo, medo de brincar, em anúncios luminosos, lâminas de barbear, nos anúncios de cigarro que avisam que fumar faz mal, a violência travestida faz seu trottoir. A violência travestida faz seu trottoir..."
"No ar da nossa aldeia, há rádio, cinema & televisão. Mas o sangue só corre nas veias por pura falta de opção. As aranhas não tecem suas teias por loucura ou por paixão e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção. Você sabe, o que eu quero dizer, não está escrito nos outdoors. Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior. No céu, além de nuvens, há sexo, drogas & palavrões. As coisas mudam de nome, mas continuam sendo religiões. No dia-a-dia da nossa aldeia, há infelizes enfartados de informação. As coisas mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão. Você sabe o que eu quero dizer, não está escrito nos outdoors. Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior. No ar da nossa aldeia, há mais do que poluição. Há poucos que já foram e muitos que nunca serão. As aranhas não tecem suas teias por loucura ou por paixão e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção. Você sabe o que eu quero dizer, não vale uma canção. Por mais que a gente cante, o silêncio é sempre maior. Você sabe o que eu quero dizer, não cabe na canção. Por pura falta de opção,
púrpura é a cor do coração..."
Citação sem intuito comercial de "A Violência Travestida Faz seu Trottoir" e "Além dos Outdoors", textos de Humberto Gessinger.
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