O SOM DA MÚSICA: FRAGMENTOS DE MONOLITO XXIV

Friday, May 18, 2007

FRAGMENTOS DE MONOLITO XXIV

"No ar que se respira, nos gestos mais banais... Em regras, mandamentos, julgamentos, tribunais... Na vitória do mais forte, na derrota dos iguais... A violência travestida faz seu trottoir. Na procura doentia de qualquer prazer, na arquitetura metafisica das catedrais, nas arquibancadas, nas cadeiras, nas gerais, a violencia travestida faz seu trottoir. Na maioria silenciosa, orgulhosa de não ter vontade de gritar, nada pra dizer, a violência travestida faz seu trottoir nos anúncios de cigarro que avisam que fumar faz mal. A violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos, lâminas de barbear, armas de brinquedo, medo de brincar. A violência travestida faz seu trottoir no vídeo, na idiotice intergaláctica, na mídia, na moda, nas farmácias, no quarto de dormir, na sala de jantar. A morte anda tão viva, a vida anda pra trás. É a livre iniciativa, igualdade aos desiguais. Na hora de dormir, na sala de estar, a violência travestida faz seu trottoir. Uma bala perdida encontra alguém perdido, encontra abrigo num corpo que passa por ali
e estraga tudo. Enterra tudo, pá de cal, enterra todos na vala comum de um discurso liberal... A violência travestida faz seu trottoir em anúncios luminosos, lâminas de barbear, armas de brinquedo, medo de brincar, a violência travestida faz seu trottoir. Tudo que ele deixou foi uma carta de amor para uma apresentadora de programa infantil. Nela ele dizia que já não era criança e que a esperança também dança como monstros de um filme japonês. Tudo que ele tinha era uma foto desbotada, recortada de revista especializada em vida de artista. Tudo que ele queria era encontrá-la um dia - todo suicida acredita na vida depois da morte. Tudo que ele tinha cabia no bolso da jaqueta. A vida quando acaba, cabe em qualquer lugar. E a violência travestida faz seu trottoir... Não se renda às evidências, não se prenda à primeira impressão. Eles dizem com ternura: o que vale é a intenção; e te dão um cheque sem fundos do fundo do coração. No ar que se respira, nessa total falta de ar, a violência travestida faz seu trottoir. Em armas de brinquedo, medo de brincar, em anúncios luminosos, lâminas de barbear, nos anúncios de cigarro que avisam que fumar faz mal, a violência travestida faz seu trottoir. A violência travestida faz seu trottoir..."

"No ar da nossa aldeia, há rádio, cinema & televisão. Mas o sangue só corre nas veias por pura falta de opção. As aranhas não tecem suas teias por loucura ou por paixão e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção. Você sabe, o que eu quero dizer, não está escrito nos outdoors. Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior. No céu, além de nuvens, há sexo, drogas & palavrões. As coisas mudam de nome, mas continuam sendo religiões. No dia-a-dia da nossa aldeia, há infelizes enfartados de informação. As coisas mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão. Você sabe o que eu quero dizer, não está escrito nos outdoors. Por mais que a gente grite, o silêncio é sempre maior. No ar da nossa aldeia, há mais do que poluição. Há poucos que já foram e muitos que nunca serão. As aranhas não tecem suas teias por loucura ou por paixão e se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção. Você sabe o que eu quero dizer, não vale uma canção. Por mais que a gente cante, o silêncio é sempre maior. Você sabe o que eu quero dizer, não cabe na canção. Por pura falta de opção,
púrpura é a cor do coração..."

Citação sem intuito comercial de "A Violência Travestida Faz seu Trottoir" e "Além dos Outdoors", textos de Humberto Gessinger.

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Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


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Sinta-se livre para expressar quaisquer opiniões a respeito dos textos contidos no blog, uma vez que de nada vale a pena esbravejar opiniões no cyber espaço sem o aval da resposta do interlocutor.

Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


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