O SOM DA MÚSICA: MINHA BANDA PODE SER MINHA VIDA VI

Sunday, March 04, 2007

MINHA BANDA PODE SER MINHA VIDA VI

Peixes de Briga

Comecei a compor "Peixes de Briga" em 1994. Foi um dos períodos em que mais treinei violão/guitarra até hoje. Estava até começando a tirar um som limpinho e tal... Saravá! E confesso que talvez nunca tenha sido tão veloz na palheta e nos solos como naquela época. Mas era foda, em Maxambomba era difícil arrumar banda que não tivesse um som manjado. Eu já havia aloprado com algumas bandas e vagabundo ficava um pouco bolado porque eu sempre curti improvisar, acho um saco fazer as coisas que exigem criatividade sempre do mesmo modo. E estava em um período em que fazia meus próprios planos de estudo, um lance absolutamente caótico. Enfiei a fuça principalmente na obra do alemão bigodudo naquela época e, em razão de um ou outro aforismo anti-social em uma de suas obras, comecei a escrever algumas das minhas músicas mais pessoais.

Com o passar do tempo, boa parte desse repertório foi pro espaço, eu tinha apenas registrado as idéias em um K-7 que deixei com um colega de faculdade e esta fita nunca reapareceu. Já os textos originais e "psicodélicos" simplesmente sumiram inexplicavelmente. Não eram muitos, como os dos cadernos que eu queimei certa vez, mas estavam bem organizados... Era um período em que eu passei a querer fazer canções com acordes dissonantes carregados de distorção. Deste material, sobrou apenas o que consegui decorar, ou melhor, não esquecer até hoje de como se tocava as músicas. Tanto que a palhetada dos riffs originais de "Peixe de Briga" era à moda "cavalada" metálica. E passei um bom tempo sem conseguir finalizar a letra da música.

Quando eu montei o grupo Andaluz com o Arthur e chamamos seu irmão Daniel para tocar bateria, chegamos a tentar alguns arranjos que eu bolei nesse meio-tempo, de 1994 até à formação do grupo, mas eu só viria a formatar a música realmente lá pelo final de 2005. Todas as Vira-Lata Tapes, sessões overall que gravamos em nosso período mais regular de ensaios, mostram bem como rolaram as mudanças de arranjo. A cada dia, ela foi soando diferente. Acabei juntando nesta "nova versão" trechos de uma outra música da safra de 1994 ao "Peixes de Briga" original, chamada embrionariamente "Runaway". Esta era uma música longa, cheia de variações de andamento e, qualquer dia, pode vir à tona rearranjada com outro nome. Quem sabe?

"Peixes de Briga" é um tema que fiz em homenagem a S., mais precisamente em referência a uma fase do início de nossa adolescência em que ele parecia me idealizar, uma forma de sublimar a saudade que ele tinha de mim da época em que fui morar em outra cidade. Isso me remeteu, não-necessariamente de forma literal, ao sentimento retratado no filme Rumble Fish. E como passamos parte de nossas vidas aprimorando nossos dotes de nadadores, achei que o nome "Peixes de Briga" seria o mais apropriado para a música. Um amigo dele, agora nosso, comentou certa vez que S. vivia falando de mim, enumerando situações e, desde então, sempre quis retratar isso de alguma forma em música.

Como disse, demorei muito para finalizar o texto. Mas acho que ele é vago o suficiente para que eu pudesse expressar de forma alegórica meus sentimentos acerca de nossa infância em Maxambomba. Período que compreende até nossas primeiras férias para uma outra cidade, lembranças que me seriam sempre uma espécie de Rosebud. Fala, Charles Foster Kane! É um pouco sobre a perda da inocência no início da adolescência a partir da perspectiva predominantemente emocional de um adulto. Não quis texto com narrativa linear porque a música é um tanto fora dos padrões. Então é um lance com algumas idas e vindas em relação ao tempo propriamente cronológico. Talvez esta seja a música que eu mais possa divagar dentre as Andaluz Aurora Demos...

O foda é que, quanto mais alegórica é a tua escrita, mas vagabundo viaja errado. São incríveis algumas interpretações que já ouvi sobre alguns de meus textos, as piores são aquelas com verniz pseudopsicanalítico ou amparadas em conclusões pseudobiográficas - o que me leva a atestar que o problema não é o sujeito escroto filho-da-puta, e sim o medíocre e sua mentalidade tacanha. A expectativa em relação a inspirações bisonhas seriam frustradas se eu passasse a explicar o porquê de cada palavrinha, com combinações às vezes utilizadas para propiciar interpretações variadas em alguns momentos. Quem disse que texto só vale se for objetivo? Fala pros caras, Calvino! E talvez o texto de "Peixes de Briga" seja menos inusitado do que sugere o instrumental. Mas é aquela coisa: Saussure, quantas verdades cabem em apenas uma oração? Opa, 'peraí, isso aí já descamba papo sobre outro texto das Andaluz Aurora Demos, "Verve". Como o nome diz, são elocubrações sobre o ato de escrever e também uma forma de contextualizar melhor os demais temas, atestando o perfil código-fonte aberto dos textos e músicas, aos quais EU sempre me apropriarei para reinventar esses temas sempre que quiser, para não fossilizá-los...

Texto open-source de Marcus Marçal. Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.

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