O SOM DA MÚSICA: FRAGMENTOS DE MONOLITO XVIII

Saturday, March 03, 2007

FRAGMENTOS DE MONOLITO XVIII

Tijolo por tijolo / Zelig / Peixe Vivo / Peixes de Briga

"As pessoas estão tristes e eu sei o porquê, sem chance alguma de viver antes que você morra. Aí você fica muito puto se tem de guardar isso dentro de si. Eu quero construir uma casa onde um anúncio de propaganda não grite. Eu quero viver em paz, quietamente. Eu quero ter um lugar de amor e segurança onde as pessoas possam viver como e onde quiserem, onde as pessoas se respeitem e se relacionem bem entre si. Então larga da minha rola porque a estou construindo tijolo por tijolo. Tijolo por tijolo. Estou construindo uma casa onde eu possa pensar e ter um pouco de equilíbrio e dignidade. Estou construindo uma casa onde ninguém possa me machucar. Estou construindo uma casa onde os fracos são fortes, construindo-a com uma canção verdadeira. Estou usando uma fé que é imortal. Estou construindo isto com simplicidade e a maneira como sentimos, eu e você. Estou construindo esta casa com aquilo em que eu acredito. Então larga da minha rola porque a estou construindo tijolo por tijolo. Tijolo por tijolo. Agora estou simplesmente observando um pequeno espaço de tempo. Então que seja assim - eu quero ser verdadeiro para com meu simples coração e não colocar nada acima dele. Tijolo por tijolo. Tijolo por tijolo. Tijolo por tijolo. Tijolo por tijolo. Tijolo por tijolo por tijolo..."

"Se olhe no espelho e encare o estranho. Você nunca vai reviver o passado, pois não pode afagar nos braços uma memória, apenas algum retrato amarelado. E você pode até pintar um quadro, emoldurar o meu retrato ou desenhar uma caricatura, mas sabe que não estou ali. Agora se inscreva no show de calouros. Vista seu uniforme predileto, depois me diga com quantas cópias se faz um original. Especule o que quiser. Nada se cria, falou o sósia do Chacrinha. Até Elvis competiu com seus clones, ficou em nono lugar no concurso. Então sou Didi, Dedé, Mussum e Zacarias no concurso anual em Liverpool. Quantos não querem ser John Malckovitch... Sete faces do Mandrake de araque da sessão da tarde. Esquizóide factóide, andróide paranóide, personas folclóricas, escolas de escândalos... O teatro absurdo do cotidiano. E na verdade tudo isso é culpa do meu irmão gêmeo, fomos separados na maternidade. Nos conhecemos em um programa de auditório, mas ele é um cara muito louco, rei da canastra. Reformou um Maverick à la Bruce Wayne, depois vestiu sua fantasia de Batman mas, quando fui buscá-lo no asilo de loucos, me falou numa lucidez desconcertante: 'Mimetismo pop é muito divertido. Quanto mais me expuser, menos tu irás me ver. Sou um reflexo amplificado do que a sua visão consegue captar: um espelho. E quanto mais alto eu for capaz de gritar, menos tu irás me ver. Não importa quantas vezes eu mude o meu nome, eu só posso ser eu mesmo...'"

"A minha alma chorou tanto, que de pranto está vazia, desde que aqui fiquei sem a sua companhia. Não há pranto sem saudade, nem amor sem alegria. É por isso que eu reclamo essa tua companhia. Como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Como poderei viver? Como poderei viver sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia? Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia?"

"Sabe, faz muito tempo! Já nem olho para trás, mas procurei nas perdidas amizades a irmandade que só poderia comungar com você. Como nos tempos idos de nossa tenra infância: dos catataus cheios de gás correndo atrás de diversões com as cores que só a inocência pinta. Pois se é da memória que se compõe a nossa alma e a juventude, ilusão de eternidade, o presente é um riacho contínuo que nos carrega. E quando a alvorada floresce na lembrança, como dourados nos reluzem aos olhos os mesmos diamantes que jamais veremos iguais. Pois nesta aventura que é a vida havemos de estar o tempo todo apaixonados. Sim, hoje eu sei que me perdi e fui tolo porque não valia o esforço de brigar com quem seria incapaz de lutar até o fim. Desculpa se um dia eu fugi, pois perdi a fala quando me faltou coragem e a força que tenho nas mãos é a mesma que as faz tremer. Logo um peixe de briga, bomba que explode no ventre da tormenta, eu vomito o anzol que me dilacera a garganta na ressaca do mar revolto em que um dia eu mergulhei. Assim eriço opérculos ao travar combate e espero a vez de seguir a corrente, já que a mentira é uma isca sedutora e a inveja, o atalho do preguiçoso... Ouça a criança que existe em você. Todo coração é um Sol e há de brilhar com toda intensidade... Sei que é triste e isso machuca, mas é verdade. No fundo do coração da criança, não me era permitido chorar. É quando o homem se olha no espelho e não se reconhece. E canções que nos redimem são tudo o que nos resta quando os nossos brinquedos se despedaçam eternamente esquecidos em algum canto do quarto. E sempre que a espiral do tempo nos tira da realidade, ela me leva numa transversal de volta àquela época. É quando o meu coração dilacera e a minha alma chora. E sigo esta estrada sem saber o caminho de volta para casa. Pois nunca mais voltarei, da minha janela eu vejo uma estrada..."

Tradução livre, não-necessariamente literal de "Brick by Brick" (1990), texto de Iggy Pop, realizada por Marcus Marçal sem qualquer intuito comercial, seguida das transcrições de "Zelig", "Peixe Vivo" e "Peixes de Briga". "Peixe Vivo" é canção folclórica brasileira, "Zelig" e "Peixes de Briga" são canções código-fonte aberto do repertório do grupo Andaluz, da compilação Andaluz Aurora Demos. Andaluz é: Arthur Kowarski (baixo), Daniel Derenusson (bateria) e Marcus Marçal (guitarras, voz e textos). Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.

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Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


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Sinta-se livre para expressar quaisquer opiniões a respeito dos textos contidos no blog, uma vez que de nada vale a pena esbravejar opiniões no cyber espaço sem o aval da resposta do interlocutor.

Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


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