FRAGMENTOS DE MONOLITO XIX
"Era menino e achei que meu pai fosse Deus, foi quando eu mergulhei no mar pela primeira vez. Meu corpo uma ilha cercada de ondas que arrebatam homens ao sabor dos ventos. Na ágora o quase poente da eterna noite, não fosse a providência no afago de teus braços fortes em minha dor lavada que se estende ao Sol, pois o tempo só avara a quem não sabe esperar. Senhor da razão, pai da criação na eternidade daquele instante fugaz em que singravam águas borrascas de vento amigo a proclamarem no mais agradável dos sonos telemaquias minhas a meu herói forasteiro e, envolto em manto esplêndido no ventre da natureza-mãe que no peito alberga um coração de ferro, sou acolhido na noite divina e aquecido pelo clarão da chama no coração materno do Sol que levanta e cedo madruga a fazer o barco da sorte aprumar. Já que o medo também é força nos cabos da tormenta e o belo mar, generoso, se compreendemos a força que temos, ricocheteia, a boa esperança, os dentes podres da bocarra desditosa de quem se atreve a fazer troça do velho por sua inestimável bondade de nunca mitigar a verdade. Culpe minha língua gorda de insultos que me escaparam à boca fechada e me perdoa por não saber o que dizia ao praguejar insolência a teu exemplo de vida. A voz enlouquecida de um bêbado, um brinquedo quebrado nas mãos do ventríloquo até quando eu desenhasse na areia com olhos de criança o mundo e aos montes me chegassem moedas ao chapéu deste nobre vagabundo. Tudo o que você me ensinou é certo, eu precisava lhe dizer isso. Pois se eu falhasse, seria apenas uma lágrima, a enxugaria como ao suor do teu rosto e se eu caísse do chão eu me levantaria porque eu não vou te decepcionar, nem vou me render. Sei que não posso parar o tempo ou tampouco voltar atrás, mas te peço que realmente acredite nestas palavras que eu digo neste paradoxo de tempo e lugar onde rebelião é sopro de vida. Bálsamo que cura e seca a minha dor... Porque quanto mais vida afora eu caminhava a procurar o caminho de casa, o lar perfeito das lembranças de infância, mais eu sabia que não voltaria atrás. O vasto mundo parece cinema, paraíso dos sonhos, manjedoura da vida. Ópera em palco de épicos dramas que só a nós cabe chorar e atravessar os abismos da alma que nos levam aos campos eternamente floridos das nossas alegrias fecundas. Porque não vou te decepcionar..."
"Sabe, faz muito tempo! Já nem olho para trás, mas procurei nas perdidas amizades a irmandade que só poderia comungar com você. Como nos tempos idos de nossa tenra infância: dos catataus cheios de gás correndo atrás de diversões com as cores que só a inocência pinta. Pois se é da memória que se compõe a nossa alma e a juventude, ilusão de eternidade, o presente é um riacho contínuo que nos carrega. E quando a alvorada floresce na lembrança, como dourados nos reluzem aos olhos os mesmos diamantes que jamais veremos iguais. Pois nesta aventura que é a vida havemos de estar o tempo todo apaixonados. Sim, hoje eu sei que me perdi e fui tolo porque não valia o esforço de brigar com quem seria incapaz de lutar até o fim. Desculpa se um dia eu fugi, pois perdi a fala quando me faltou coragem e a força que tenho nas mãos é a mesma que as faz tremer. Logo um peixe de briga, bomba que explode no ventre da tormenta, eu vomito o anzol que me dilacera a garganta na ressaca do mar revolto em que um dia eu mergulhei. Assim eriço opérculos ao travar combate e espero a vez de seguir a corrente, já que a mentira é uma isca sedutora e a inveja, o atalho do preguiçoso... Ouça a criança que existe em você. Todo coração é um Sol e há de brilhar com toda intensidade... Sei que é triste e isso machuca, mas é verdade. No fundo do coração da criança, não me era permitido chorar. É quando o homem se olha no espelho e não se reconhece. E canções que nos redimem são tudo o que nos resta quando os nossos brinquedos se despedaçam eternamente esquecidos em algum canto do quarto. E sempre que a espiral do tempo nos tira da realidade, ela me leva numa transversal de volta àquela época. É quando o meu coração dilacera e a minha alma chora. E sigo esta estrada sem saber o caminho de volta para casa. Pois nunca mais voltarei, da minha janela eu vejo uma estrada..."
Transcrições de "O Velho e o Mar" e "Peixes de Briga", textos e música de Marcus Marçal. Ambas são canções código-fonte aberto do repertório do grupo Andaluz, da compilação Andaluz Aurora Demos. Andaluz é: Arthur Kowarski (baixo), Daniel Derenusson (bateria) e Marcus Marçal (guitarras, voz e textos). Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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"Sabe, faz muito tempo! Já nem olho para trás, mas procurei nas perdidas amizades a irmandade que só poderia comungar com você. Como nos tempos idos de nossa tenra infância: dos catataus cheios de gás correndo atrás de diversões com as cores que só a inocência pinta. Pois se é da memória que se compõe a nossa alma e a juventude, ilusão de eternidade, o presente é um riacho contínuo que nos carrega. E quando a alvorada floresce na lembrança, como dourados nos reluzem aos olhos os mesmos diamantes que jamais veremos iguais. Pois nesta aventura que é a vida havemos de estar o tempo todo apaixonados. Sim, hoje eu sei que me perdi e fui tolo porque não valia o esforço de brigar com quem seria incapaz de lutar até o fim. Desculpa se um dia eu fugi, pois perdi a fala quando me faltou coragem e a força que tenho nas mãos é a mesma que as faz tremer. Logo um peixe de briga, bomba que explode no ventre da tormenta, eu vomito o anzol que me dilacera a garganta na ressaca do mar revolto em que um dia eu mergulhei. Assim eriço opérculos ao travar combate e espero a vez de seguir a corrente, já que a mentira é uma isca sedutora e a inveja, o atalho do preguiçoso... Ouça a criança que existe em você. Todo coração é um Sol e há de brilhar com toda intensidade... Sei que é triste e isso machuca, mas é verdade. No fundo do coração da criança, não me era permitido chorar. É quando o homem se olha no espelho e não se reconhece. E canções que nos redimem são tudo o que nos resta quando os nossos brinquedos se despedaçam eternamente esquecidos em algum canto do quarto. E sempre que a espiral do tempo nos tira da realidade, ela me leva numa transversal de volta àquela época. É quando o meu coração dilacera e a minha alma chora. E sigo esta estrada sem saber o caminho de volta para casa. Pois nunca mais voltarei, da minha janela eu vejo uma estrada..."
Transcrições de "O Velho e o Mar" e "Peixes de Briga", textos e música de Marcus Marçal. Ambas são canções código-fonte aberto do repertório do grupo Andaluz, da compilação Andaluz Aurora Demos. Andaluz é: Arthur Kowarski (baixo), Daniel Derenusson (bateria) e Marcus Marçal (guitarras, voz e textos). Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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