FRAGMENTOS DE MONOLITO XV
"Se eu não trabalhava, alguém dava duro e não faltava grande coisa lá em casa. El Caimán Barbudo sentava na própria cauda à meia-noite, enquanto você sonhava. Depois do batente, Vênus descansava. Marte, sempre cortês, jogava cartas. Preto era o céu, bom de se olhar, onde Três Virgos queriam se arrumar. Se você passava uma semana na praia e depois voltava, mesmo assim a gente dava uma pequena pausa e em ambos mundos se ajeitava".
"Pretendo ter dois lindos filhos: uma menina e um robusto menino. Botar eles na escola desde o princípio e mandar às favas os vizinhos. À noite, ouvem nossos ruídos. O que eles ganham, eles põem no cofre. Um filho, uma árvore e um livro. Herança de gente muito pobre. E terminar todas as fábulas, quando eu sair da chaminé. Depois montar na bicicleta e esperar que eles criem calos nos pés. À noite, ouvem nossos ruídos. Uma vida despojada de sentido e assim nós vamos indo. Minha pequena mulher vai dirigindo e assim nós vamos indo. Meu filho segue torcendo comigo e assim nós vamos indo... Meus filhos foram me chamar: um avião estava preso nos fios. Meus filhos foram me chamar..."
"Era menino e achei que meu pai fosse Deus, foi quando eu mergulhei no mar pela primeira vez. Meu corpo uma ilha cercada de ondas que arrebatam homens ao sabor dos ventos. Na ágora o quase poente da eterna noite, não fosse a providência no afago de teus braços fortes em minha dor lavada que se estende ao Sol, pois o tempo só avara a quem não sabe esperar. Senhor da razão, pai da criação na eternidade daquele instante fugaz em que singravam águas borrascas de vento amigo a proclamarem no mais agradável dos sonos telemaquias minhas a meu herói forasteiro e, envolto em manto esplêndido no ventre da natureza-mãe que no peito alberga um coração de ferro, sou acolhido na noite divina e aquecido pelo clarão da chama no coração materno do Sol que levanta e cedo madruga a fazer o barco da sorte aprumar. Já que o medo também é força nos cabos da tormenta e o belo mar, generoso, se compreendemos a força que temos, ricocheteia, a boa esperança, os dentes podres da bocarra desditosa de quem se atreve a fazer troça do velho por sua inestimável bondade de nunca mitigar a verdade. Culpe minha língua gorda de insultos que me escaparam à boca fechada e me perdoa por não saber o que dizia ao praguejar insolência a teu exemplo de vida. A voz enlouquecida de um bêbado, um brinquedo quebrado nas mãos do ventríloquo até quando eu desenhasse na areia com olhos de criança o mundo e aos montes me chegassem moedas ao chapéu deste nobre vagabundo. Tudo o que você me ensinou é certo, eu precisava lhe dizer isso. Pois se eu falhasse, seria apenas uma lágrima, a enxugaria como ao suor do teu rosto e se eu caísse do chão eu me levantaria porque eu não vou te decepcionar, nem vou me render. Sei que não posso parar o tempo ou tampouco voltar atrás, mas te peço que realmente acredite nestas palavras que eu digo neste paradoxo de tempo e lugar onde rebelião é sopro de vida. Bálsamo que cura e seca a minha dor... Porque quanto mais vida afora eu caminhava a procurar o caminho de casa, o lar perfeito das lembranças de infância, mais eu sabia que não voltaria atrás. O vasto mundo parece cinema, paraíso dos sonhos, manjedoura da vida. Ópera em palco de épicos dramas que só a nós cabe chorar e atravessar os abismos da alma que nos levam aos campos eternamente floridos das nossas alegrias fecundas. Porque não vou te decepcionar..."
Transcrições sem intuito comercial de "Ambos Mundos", "Pai" e "O Velho e O Mar". "Ambos Mundos" e "Pai" são textos de Cadão Volpato para canções do grupo Fellini. "O Velho e O Mar" (1997) é canção de código-fonte aberto. Texto e música de Marcus Marçal. Canção do repertório do grupo Andaluz, da compilação Andaluz Aurora Demos. Andaluz é: Arthur Kowarski (baixo), Daniel Derenusson (bateria) e Marcus Marçal (guitarras, voz e textos). Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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"Pretendo ter dois lindos filhos: uma menina e um robusto menino. Botar eles na escola desde o princípio e mandar às favas os vizinhos. À noite, ouvem nossos ruídos. O que eles ganham, eles põem no cofre. Um filho, uma árvore e um livro. Herança de gente muito pobre. E terminar todas as fábulas, quando eu sair da chaminé. Depois montar na bicicleta e esperar que eles criem calos nos pés. À noite, ouvem nossos ruídos. Uma vida despojada de sentido e assim nós vamos indo. Minha pequena mulher vai dirigindo e assim nós vamos indo. Meu filho segue torcendo comigo e assim nós vamos indo... Meus filhos foram me chamar: um avião estava preso nos fios. Meus filhos foram me chamar..."
"Era menino e achei que meu pai fosse Deus, foi quando eu mergulhei no mar pela primeira vez. Meu corpo uma ilha cercada de ondas que arrebatam homens ao sabor dos ventos. Na ágora o quase poente da eterna noite, não fosse a providência no afago de teus braços fortes em minha dor lavada que se estende ao Sol, pois o tempo só avara a quem não sabe esperar. Senhor da razão, pai da criação na eternidade daquele instante fugaz em que singravam águas borrascas de vento amigo a proclamarem no mais agradável dos sonos telemaquias minhas a meu herói forasteiro e, envolto em manto esplêndido no ventre da natureza-mãe que no peito alberga um coração de ferro, sou acolhido na noite divina e aquecido pelo clarão da chama no coração materno do Sol que levanta e cedo madruga a fazer o barco da sorte aprumar. Já que o medo também é força nos cabos da tormenta e o belo mar, generoso, se compreendemos a força que temos, ricocheteia, a boa esperança, os dentes podres da bocarra desditosa de quem se atreve a fazer troça do velho por sua inestimável bondade de nunca mitigar a verdade. Culpe minha língua gorda de insultos que me escaparam à boca fechada e me perdoa por não saber o que dizia ao praguejar insolência a teu exemplo de vida. A voz enlouquecida de um bêbado, um brinquedo quebrado nas mãos do ventríloquo até quando eu desenhasse na areia com olhos de criança o mundo e aos montes me chegassem moedas ao chapéu deste nobre vagabundo. Tudo o que você me ensinou é certo, eu precisava lhe dizer isso. Pois se eu falhasse, seria apenas uma lágrima, a enxugaria como ao suor do teu rosto e se eu caísse do chão eu me levantaria porque eu não vou te decepcionar, nem vou me render. Sei que não posso parar o tempo ou tampouco voltar atrás, mas te peço que realmente acredite nestas palavras que eu digo neste paradoxo de tempo e lugar onde rebelião é sopro de vida. Bálsamo que cura e seca a minha dor... Porque quanto mais vida afora eu caminhava a procurar o caminho de casa, o lar perfeito das lembranças de infância, mais eu sabia que não voltaria atrás. O vasto mundo parece cinema, paraíso dos sonhos, manjedoura da vida. Ópera em palco de épicos dramas que só a nós cabe chorar e atravessar os abismos da alma que nos levam aos campos eternamente floridos das nossas alegrias fecundas. Porque não vou te decepcionar..."
Transcrições sem intuito comercial de "Ambos Mundos", "Pai" e "O Velho e O Mar". "Ambos Mundos" e "Pai" são textos de Cadão Volpato para canções do grupo Fellini. "O Velho e O Mar" (1997) é canção de código-fonte aberto. Texto e música de Marcus Marçal. Canção do repertório do grupo Andaluz, da compilação Andaluz Aurora Demos. Andaluz é: Arthur Kowarski (baixo), Daniel Derenusson (bateria) e Marcus Marçal (guitarras, voz e textos). Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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