O SOM DA MÚSICA: FRAGMENTOS DE MONOLITO XII

Saturday, January 27, 2007

FRAGMENTOS DE MONOLITO XII

JINGLE - Após caminhar dias e anos, vislumbrou o que tanto almejara. Catou um punhado de lembranças, conteve a euforia. Não se reconheceu nos antigos retratos do passado remoto. Remontou velhas amizades, se indagou até que ponto verdadeiras. Lamentou rancores, redimiu enganos, celebrou a inocência do ontem. Por um instante sorriu, nada tinha a menor importância. O tempo despira a fantasia nos uniformes caricatos e nas emoções sucateadas das vítimas da mídia. Eternamente à procura de um trem que partiu sorrateiro, alheio ao tique-taque surdo de teu relógio atrasado. Algumas vezes se sentiu só e perguntou a si mesmo por quê continua a caminhar nesta estrada perdida. Enquanto sacia a sede, estranho à pressa de quem prossegue ensandecido na certeza cega da mais nova mentira que não se compra. E quando seus sonhos não valem pouco, eles nunca envelhecem. Mas para levá-los adiante, só mesmo sendo um palhaço louco. É aí que você amadurece, não se iguala à corja de hipócritas nem se vende por micharia onde os perdedores alcançam a vitória. Aparte aos modismos, o dinheiro sujo do mafioso banca o ego do iludido, a ostentação do bajulador e a picuinha do invejoso. Inebriados pela vaidade dos aspirantes a gloriosos na imensa fila até serem nocauteados pelo próprio cansaço. Libertados do paraíso ilusório do reclame na tevê. Um céu de diamantes repleto de vagalumes e estrelas de plástico... Pois jovens são cheios de verdades absolutas, afetadas arrogâncias. Quanto mais velhos, menos seguros das próprias certezas. E música é mero item pra bacana empoeirar na sala de estar. No corredor, em direção ao escritório, o carcamano artimanha a megalomania marketeira das farsas e trapaças do mundo do roque, maquinando clones, nossa mais sincera forma de elogio: a rebeldia fake alucinada do rebanho de ovelhas negras desgarradas. Por isso não acredite no que mentem para você o tempo todo. Viva à sua maneira, cante uma canção que fale da sua vida. Comemore toda pujança em meio a uma confraria de alcoólatras. Celebre a alegria da vitória numa euforia melancólica, desencantada. Dispa-se numa só vez dos personagens das noites solitárias: heróis arruinados, superamigos invisíveis e inimigos de infância. Esqueça os que se perderam no tempo, nunca estiveram do seu lado. Realmente nunca acreditaram em você, enquanto você batalhava. Deixe-os lá atrás junto à ladainha de vagabundas e de desafetos. Iguais aos que rastejam em busca da fama para saciarem os egos flácidos nas lendas e histórias dos superfreaks no viés da cultura pop. Não vou negar a mágoa, nem vou negar a dor do factóide roquestrela. Rei da ilusão, rei da multidão, rei da solidão... Mitômano de si mesmo, das legiões imaginárias a lhe povoar a mente. Rei da covardia, senhor da grosseria, mestre da ironia... E se tudo o que já viveste for um filme bem diante de seus olhos, afaga com carinho teu desapego, já que a vida é a matéria dos sonhos...

http://rapidshare.com/files/13639516/Jingle_11_mp3.mp3.html (Jingle - Versão Demo)

BELADONA Há uma fanfarra tocando na minha memória. Não tente captar o olho no furacão, seu ricochete afugenta saltimbancos se te capturar em cheio o olhar. Nem subestime toda simplicidade porque teu coração é o melhor de você... Não ouse tentar domar este cavalo selvagem! Há um filme rodando em minha mente. Compram-te a simpatia com flores de plástico e mudam as regras do jogo sem lhe avisar. Marionete circense de cidade em cidade até perceber-te bancando o tolo. Ignore o canto da sereia... Tu te precavejas da beleza de toda flor selvagem! Há um disco soando em meus ouvidos e, quando a música nos toca a alma, somos os homens mais velhos do mundo: neandertais reinventando a roda, reis da idade da pedra, três garotos imaginários... Nossa banda pode ser nossa vida: pão, circo & canções-de-ninar, anciãos em seus jogos na praça... E a molecada rumo ao show de rock me lembra como tudo começou. Há uma banda pulsando em meu coração...

http://download.yousendit.com/A1709E6C1B7B6307 (Beladona - Versão Demo)


Transcrições de "Jingle" (1995) e "Beladona" (2002), canções de código-fonte aberto. Jingle: texto e música de Marcus Marçal. Beladona: texto de Marcus Marçal e música de Arthur Kowarski, Daniel Derenusson e Marcus Marçal. Canções do repertório do grupo Andaluz, da compilação Andaluz Aurora Demos. Andaluz é: Arthur Kowarski (baixo), Daniel Derenusson (bateria) e Marcus Marçal (guitarras, voz e textos). Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.

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Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


As seções do blog você encontra ao lado, sempre no post ÍNDICE DE SEÇÕES, e a partir dele fica fácil navegar por este site pessoal intitulado O SOM DA MÚSICA.

Sinta-se livre para expressar quaisquer opiniões a respeito dos textos contidos no blog, uma vez que de nada vale a pena esbravejar opiniões no cyber espaço sem o aval da resposta do interlocutor.

Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


De qualquer forma, sejam todos bem-vindos! Sintam-se como se estivessem em casa.

Caso queira entrar em contato, meu email é marcus.marcal@yahoo.com.br.
Grande abraço!
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