O SOM DA MÚSICA: ARQUIVO DE REPÓRTER I

Saturday, October 14, 2006

ARQUIVO DE REPÓRTER I

Este texto foi escrito por mim em 1999 quando resolvi entender melhor o porquê de tanta gente que eu adoro amar incondicionalmente o trabalho de Patti Smith. Hoje, considero o texto muito boboca e espero em breve publicar por aqui uma nova versão de minhas observações sobre a carreira da artista. Até hoje recebo regularmente e-mails de pessoas falando que passaram a curtir mais ainda o trabalho de Patti Smith depois de ler este texto. Acho o texto uma bosta e já pedi várias vezes para o Marcelo do ScreamYell tirá-lo do site onde foi publicado na base da brodagem, após várias tentativas minhas mal-sucedidas de emplacar o texto em outros veículos, mas volta-e-meia a matéria reaparece. Em função da iminente apresentação da cantora no Brasil, resovi tirar este texto de meu empoeirado arquivo de repórter. Só não me responsabilizo se mais gente se tornar fã da moça... Presto meus agradecimentos a David Reynolds, colega da Babel List que me presenteou gratuitamente com versões remasterizadas em CD de todos os álbuns de Patti Smith que eu não tinha. Sua ajuda foi inestimável.

ELEGIA À ESTÉTICA PUNK

Sob um ponto-de-vista não-ortodoxo, Patti Smith pode tachada como uma perfeita encarnação do ideário punk! Não só no que se refere ao estereótipo associado ao gênero, mas sim à ética no discurso contestatório inerente ao punk. Aos vinte e cinco anos de uma carreira discográfica iniciada com o emblemático álbum Horses - um marco filosófico na história do punk rock, ela ainda consegue angariar respaldo intelectual ao gênero, em razão da ponte que há tempos promove entre a vanguarda estética e a tradição iconoclasta e dionísica do rock'n'roll.

A grande fã de rock'n'roll que idolatrava Keith Richards, Jim Morrison e Bob Dylan da mesma forma que mitificava os poetas malditos Allen Ginsberg, William Burroughs e Jean Arthur Rimbaud é, ainda hoje, aos 53 anos de idade, o paradigma de um artista íntegro no corrompido e artificialmente frívolo cenário da cultura norte-americana. Panorama que avaliou numa perspectiva histórica em "Gung Ho", seu oitavo álbum. No novo trabalho, a cantora-poetisa reitera a imensa admiração e culto incondicional a que é agraciada desde suas primeiras apresentações em sarais de poesia até os dias de hoje, inclusive por expoentes do cenário pop-rock, tais como Bono Vox (U2), Michael Stipe (REM) e Sonic Youth.

Aproveitando a ocasião, O SOM DA MÚSICA presta tributo a esta figura que incorpora à sua obra referências estéticas do melhor da arte feita no século XX, sempre partindo da perspectiva do apreciador que intertextualiza em seu trabalho as mais variadas manifestações artísticas. Da tradição à contestação, a biografia de Patti também é, por si só, uma elegia à ética e ao espírito empreendedor do qual se configuram as grandes obras.

Ela acreditou incondicionalmente em sua lenda pessoal e lutou com entusiasmo até conseguir seus objetivos. Essa é uma das razões para que sua história seja fascinante. Inicialmente, sua motivação era injetar um pouco de energia revolucionária no universo da poesia, mas ela acabou fazendo mais que isso. É o que você confere logo abaixo. Aprecie!

POR UM MUNDO MELHOR

Vinte e cinco anos depois do lançamento de seu primeiro álbum, Patti Smith continua sendo a mais influente e enigmática figura feminina na história do rock. Sua influência pode ser notada perfeitamente no trabalho de figuras tão distintas como Madonna e PJ Harvey, passando por Courtney Love e Alanis Morrissete.

Entretanto, a conotação atribuída à figura de Patti Smith vai muito além disso. O culto a que a cantora é agraciada poderia aludir à canonização dirigida a alguns ícones da tradição religiosa – se acha isso muita viagem da minha parte, se associe à Babel List, um grupo de discussão dedicado à cantora, e confira se esse é ou não real. Entretanto, Patti riria de quem a abordasse como uma figura santificada ou sobre-humana, mas tem a plena noção do impacto que seu trabalho tem na vida de muitas pessoas, as quais se sentem motivadas a explorar o máximo de seus potenciais. Trata-se de algo mágico e repleto de conexões sagradas para a vida de muita gente.

Não é exagero afirmar que Patti é, sem sombra de dúvida, o artista de trajetória mais idônea entre os sobreviventes de sua geração. Leve em conta que a dona é, de certa forma, contemporânea de figuras como Iggy Pop, David Bowie e Lou Reed, entre outros baluartes da história do rock. A única comparação pertinente poderia ser feita a Neil Young, diga-se de passagem.

Em "Gung Ho", Patti faz uma reflexão sobre o passado histórico de seu país, sempre a partir de uma perspectiva otimista. Afinal, quem mais poderia bradar libelos humanistas sem parecer rídiculo? Todos os que acompanham a carreira da cantora sabem que este papel lhe cai perfeitamente. Patti não é uma idealista utópica, tampouco demagoga. Em vários momentos de "Gung Ho", Patti avalia alguns períodos da história americana e reivindica uma evolução social por meio do amor. Desde a capa, temos uma prova desse flerte com o passado: uma foto de seu pai, uma polaróide de 1942 em preto e branco. Com uma produção apurada, a cargo de Gil Norton (conhecido por seus trabalhos com os Pixies), trata-se de um trabalho intricado - assim como boa parte de sua discografia, dissecada no decorrer da matéria. Na primeira faixa, "One Voice", Patti nos chama a atenção para que deixemos nossos corações falar por nós mesmos: "movidos pelo amor a servir, celebramos todos os méritos na vida /... / repleto de alegria que o paraíso transborda / Deixe o amor ressoar / Se ele estiver mudo, dê-lhe um sino / Se estiver deprimido, um apoio..." Os mais novos hão de notar a semelhança de alguns temas messiânicos típicos de Bono Vox e cia. Em tempos de babacas como Eminem e seu discursinho pseudo-durão pra enganar otário se torna referência pop, o que você diria de uma figura com culhão (êpa, apenas modo de dizer) suficiente para cantar uma parada dessas?

Mas o disco vai além disso! Duas faixas de "Gung Ho" são dedicadas à figuras históricas, uma delas é "Libbie's Song". Inspirada na esposa de General Custer, ela se assemelha a uma canção folclórica norte-americana. A diferença está em seu discurso contundente.

Outro exemplo disso é a poderosa faixa-título, um improviso de 11 minutos, em que a cantora reflete sobre a figura do líder vietnamita Ho Chi Minh. É um momento em que Patti acena à sua própria trajetória fonográfica, marcada pelo improviso sonoro e pela poesia declamada em longas faixas, artifício estético no qual se notabilizou desde o primeiro álbum. Nesta música, Patti clama por "uma nova revolução", longe de parecer uma figura caricata ou demagógica.

Na zeppeliniana "New Party", destaca-se a coesão entre as duas guitarras, a cargo do fiel escudeiro Lenny Kaye e de Oliver Ray. Vale ressaltar que a cantora é acompanhada pelos mesmos músicos do disco anterior, "Peace And Noise".

Em "Lo And Beholden", uma parceria com Lenny, Patti conta a saga de índios americanos na Batalha de Wounded Knee. Mas a narração da maioria das canções do novo álbum se dá a partir da perspectiva de escravos. Neste disco se percebe claramente a importância de Lenny Kaye no trabalho da cantora. Ao contrário de seus dois últimos lançamentos, trata-se de um trabalho concebido em conjunto. Isso é comprovado na fluidez do repertório, que reserva ao ouvinte uma audição agradável da primeira à última faixa.

Mas apesar da contundência, o disco também reserva momentos pop. Como na dançante "Gone Pie", uma canção pop que, por ironia do destino, não faria feio nas pistas de dança. Assim também é "Glitter in their Eyes", que conta com solo de guitarra de seu filho Jackson, que honra o sobrenome da família. Esta última conta o episódio do tumulto na Organização Mundial de Comércio, ocorrido ano passado, a única concessão feita à atualidade.

Um contraponto a todo esse bem-estar é conferido na climática "Strange Messengers", em que Patti canta sobre a escravidão na era pré-colonial. Para isso, ela incorporou o espírito de um mulher negra da época, algo como o xamanismo ao qual fazia uso em determinados momentos de sua carreira. É uma das canções mais fortes do disco, em que se destaca a fúria com a qual a cantora é acometida ao perceber a forma como a ancestralidade é tratada por parte dos negros americanos, espiritualidade que se esvai na fumaça de cachimbos de crack, conforme ela mesma ressaltou a forma como é paga a dívida destes com os antepassados.

Mágoa e sarcasmo em forma de música, o único momento raivoso em um trabalho calcado na devoção ao espírito humanitário. Tal julgamento, atípico a sua personalidade só entrou no disco em razão de sua perspectiva positiva com relação à situação, em que estes são observados como vítimas da história.

São vários os destaques de "Gung Ho", um trabalho em que Patti presta tributo a si mesma e ao culto ao qual é agraciada com o passar dos anos. Logo abaixo, você confere as razões para tamanha idolatria incondicional, que sobreviveu até nos hiatos em que a cantora-poetisa se afastou dos holofotes. Divirta-se!

"ENTÃO VOCÊ QUER SE TORNAR UMA ESTRELA DO ROCK?"
trecho retirado de "So You Wanna Be (A Rock’n Roll Star)", do álbum Wave


Nascida em dezembro de 1946 em Chicago, Patricia Lee Smith foi criada em Woodbury, New Jersey. Sua mãe, uma garçonete dublê de cantora de jazz, tinha propensões à fantasia. Já seu pai trabalhava no campo e, apesar de ser uma pessoa moldada pelo raciocínio objetivo, passou sua vida apostando em corridas de cavalos. Patti, a mais velha dos quatro filhos do casal, se tornaria uma síntese perfeita dos pais. Incapaz de encontrar espaço em seu meio ginasial, ela encontrou refúgio em imagens de Rimbaud, Bob Dylan, James Brown e Rolling Stones. Ela idolatrava seu pai, que a introduzia a leituras da Bíblia, Bertrand Russel, o mitologista Joseph Campbell e também livros de ufologia. Como tinha de tomar conta dos irmãos mais novos, ao mesmo tempo ela exercitou sua capacidade nata de contar histórias (herdada de sua mãe).

Foi justamente no vilarejo, no interior de New Jersey, que ela freqüentou bailes de música negra e teve contato com o rock'n'roll. Após uma desventura como Testemunha de Jeová, o gênero aos poucos se tornaria sua profissão de fé. Patti não conseguia entender porque as religiões se voltavam contra algumas manifestações artísticas, pois fora alertada de que os museus e as obras de arte não seriam dignas de salvação no final dos tempos. Em sua mente, criou um paradoxo entre devoção e carnalidade, que se tornaria uma constante em seus trabalhos iniciais. Era fascinada com a imagística da religião, ao mesmo tempo em que sentia repulsa à característica excludente dos dogmas.

Patricia trabalhou uns tempos no magistério e sonhava ser artista, embora fosse totalmente indisciplinada quanto ao aprendizado de qualquer ofício. Engravidou aos dezenove anos e, por essa razão, foi expulsa da escola. Na ocasião, contou com o apoio de um casal hippie e vegetariano. Encarou a gravidez até o final, mas não o filho, que o entregou para entidades de adoção. Anos depois, este episódio seria tema de um dos poemas de seu primeiro livro de poesias. Foi nessa época que seguiu em direção às luzes brilhantes da metrópole cosmopolita Nova Iorque, onde se sentiria acolhida pela diversidade cultural inerente à cidade.

Ao chegar à cidade com apenas dezesseis dólares, conheceu um estudante de arte e fotógrafo chamado Robert Mapplethorpe e foram morar juntos em alguns hotéis e muquifos. Conseguiu emprego como funcionária da livraria Strand And Scribner's, onde se sentia acolhida em meio a grandes obras da Literatura Universal. Em 69, viajou a Paris com sua irmã Linda, onde trabalhou nas ruas como artista performática e fez suas primeiras incursões junto às artes visuais.

Com a chegada dos anos 70, Patti retornou à Nova Iorque, onde posteriormente angariou repercussão em points como o Max Kansas City. Foi nesta cidade que conheceu figuras como Johnny Winter e Bob Neuwirth (bufão da trupe de Bob Dylan e em quem este se inspirou na canção "Like A Rolling Stone"), que a encorajaram a subir aos palcos. Nessa época, ela discretamente escrevia poesia, mais como um artifício estético que utilizava em suas pinturas.

VAI RIMBAUD!
trecho tirado de poema "Rock'n Rimbaud"!


Em fevereiro de 71, Patti foi atração de abertura para Gerard Malanga no Poetry Project, projeto semanal de leitura de poesia na Igreja de St. Mark, situada no Lower East Side. Sua estréia coincidiu com o aniversário de Bertold Bretch e, na ocasião, foi acompanhada em três canções por Lenny Kaye - incluindo "Oath", cujos versos posteriormente fariam parte de duas canções: "Fire of Unknown Origin" e também de sua releitura para "Gloria" (Them).

Kaye era um crítico de rock e também funcionário de uma loja de discos, que ela conheceu por intermédio de um artigo que ele havia escrito sobre música à capella. Patti o procurou no Village (Nova Iorque), bairro onde Lenny trabalhava, e o convidou para acompanhá-la com sua guitarra em seus sarais de poesia - estimulada pela descoberta de que gostavam do mesmo tipo de gravações obscuras. Assim, ela incluiu o ritmo de seus acordes à sua poesia cantada-declamada, ainda que já houvesse um certo senso de que isso poderia chegar mais longe.

Ao mesmo tempo, Patti fazia nome atuando no teatro underground (estrelando peças como Femme Fatalle e Vain Victory, do travesti teatrólogo Jackie Curtis - um sujeito notório por não se lavar regularmente) e colaborando com o dramaturgo Sam Shepard, com quem foi co-autora de Cowboy Mouth (alusão a uma canção de Bob Dylan). Esta última só seria encenada uma única vez em abril de 71 e, incipientemente, já expunha suas aspirações roqueiras.

Patti continuou se apresentando como uma poetisa-atriz pelos dois anos seguintes, sendo inclusive atração de abertura para os New York Dolls no Mercer Arts Center (espelunca que até 73 abrigou os futuros habitués do CBGB's). Escreveu canções para o Blue Oyster Cult (banda do baixista Allen Lanier, seu namorado na época), resenhou discos para as revistas Creem e Rock, como também teve publicados seus primeiros volumes de poesia.

Seus trabalhos com literatura, inicialmente capturados em três antologias - Seventh Heaven (71), Kodak (72) e Witt (73) - foram bastante inspirados por Rimbaud e William Burroughs, mas, à medida que os anos 70 seguiam, ela foi progressivamente levada a fundir sua verve literária com o rock'n'roll. Consta que sua primeira gravação para um grande selo foi de uma versão para um poema de Jim Morrison no álbum solo de Ray Manzarek, também ex-Doors. Em seu primeiro livro, Patti se notabilizou por incorporar ritmo à narrativa poética, elemento emblemático de todos os seus trabalhos posteriores. Seus poemas eram basicamente sobre garotas, pois tinha dificuldade em aceitar o fato de ser mulher. O livro marca o primeiro momento em que, de fato, considerou as mulheres. Apesar disso, Seventh Heaven apresentou poemas sobre mulheres seduzidas, violadas – sempre do ponto-de-vista masculino. Na adolescência, ela queria ser um garoto e se irritou quando seus seios começaram a crescer.
Patti tinha uma imensa dificuldade de aceitação pelo fato de ser feia e talvez isso explique essa obsessão, presente em outros momentos de sua carreira. Em Witt, seu terceiro livro de poemas, se apresentava como um ser humano "sem mãe, sexo ou pátria" - o que levou alguns críticos equivocados a tacharem a narrativa como se fossem geradas a partir de uma perspectiva lésbica.

Ela já demonstrava aspirações relacionadas ao mundo do rock, treinava seus dotes vocais acompanhando Iggy Pop em sua vitrola e até tentou formar uma banda só de garotas. Mas nenhuma delas estava tão ligada naquilo, achando que fosse apenas mais uma excentricidade de Patti. A coisa só começou a ficar séria em novembro de 72, quando ela se uniu a Lenny Kaye para uma performance de poesia, intitulada Rock'n'Rimbaud, num nightclub gay localizado no Times Square de Nova Iorque.

Ali foram plantadas as sementes para a formação de uma banda de verdade. Na ocasião, os dois apresentaram um set em homenagem ao dramaturgo Bertold Bretch e ao bad boy Jesse James. Um dos destaques da apresentação foi o poema "Oath", em que Patti declamou versos que seriam notabilizados por sua releitura de "Gloria", um clássico do rock: "Jesus morreu pelos pecados dos outros / E não pelos meus", assim ela regurgitava toda a culpa embutida na filosofia judaico-cristã, um de seus emblemas iconoclastas do início de carreira. Mas não se tratava de um mero brado ateísta, e sim um líbelo pelo livre arbítrio proposto no próprio Evangelho.

Numa dessas ocasiões, o poeta beat William Burroughs, um de seus ídolos, assistiu a uma de suas apresentações e ficou fascinado com seu senso de performance e showbiz. Posteriormente, a dupla Lenny/Patti passou a ser acompanhada por uma sucessão de pianistas, que culminou com a entrada de Richard "DNV" Sohl, no início de 74. Com o trio consolidado, começaram a tocar com maior regularidade. Era uma curiosa mistura musical com o improvisado jogo de palavras de Patti, algo entre o free rock e o free jazz. Canções próprias eram mescladas com estranhas releituras de trabalhos de outros artistas, usadas como contratempo, que enfatizavam a dinâmica das performances.

"VOU SER UMA ESTRELA! AGORA PRESTE A ATENÇÃO EM MIM"
trecho do poema "Piss Factory"

Uma delas, uma regravação de "Hey Joe", tendo como pano-de-fundo o amplamente comentado seqüestro da menina Patty Hearst, acabou se tornando sua primeira gravação oficial. Entraram no estúdio Electric Ladyland em junho de 74, onde grupo fez experimentações para ver se a eletricidade que geravam ao vivo poderia ser traduzida para o vinil. Com a ajuda de Tom Verlaine (do Television) na guitarra, intimado por Robert Mapplethorpe, e lançado pelo seu próprio selo do guitarrista Mer Records, o resultado foi um dos primeiros singles do indie-rock calcados no emblema do-it-yourself. O lado B trazia a profética "Piss Factory", inspirada angústia de Patti com seu trabalho numa linha-de-montagem e na promessa que havia feito a si mesma de que viajaria à Nova Iorque, rumo a uma nova vida: "Gonna be a star / Watch Me Now!" é um de seus versos.

Amparada por uma energética nova banda e pela emergente cena local centrada no CBGB's em Nova Iorque (levante pré-punk do qual surgiram Ramones, Blondie, Television, The Heartbreakers, entre outros expoentes da "blank generation"), o grupo (ainda contando somente com Patti, Lenny e DNV) viajou para a Califórnia no inverno de 74, onde tocaram no Whiskey a Go Go (Los Angeles) e no Fillmore East (São Francisco). Ao retornarem, sentiram que o som do grupo precisava de maior consistência e a trupe recrutou o guitarrista Ivan Kral, um refugiado tcheco.

Foi com este line up que o grupo tocou por oito semanas no CBGB's no início de 75, apresentações as quais incrementaram seu trabalho conceitual. Foi numa dessas ocasiões que o Patti Smith Group atraiu a atenção do produtor Clive Davis, que os contratou no meio do ano para seu recém-criado selo Arista Records. Antes mesmo de se tornar uma celebridade, Patti já era uma figura cult na efervescente cena nova-iorquina do início dos 70. E sua gravadora soube explorar bem esse potencial, não tratando seu trabalho como um mero produto de consumo.

Nos palcos ela incendiava as platéias como uma riot girrrl, muito antes do termo ser inventado, utilizando técnicas teatrais recomendadas por Antonin Artaud (mentor do pré-punk "Teatro da Crueldade", que também servia de manancial para as artes cênicas em Nova Iorque no início dos 70). Sua música combinava conto de fadas, felicidade histérica, traumas de infância e fantasias masturbatórias embaladas por vocais melódicos numa atmosfera hipnótica que remetia ao rock mais toscão dos anos 50 e 60.

Em suas apresentações, Patti evocava imagens da história do rock e isso era parte de seu apelo. Dotada de uma poderosa tensão dramática, ela atemorizava a audiência ao mesmo tempo em que a instigava a impulsos protetores. Energia fluindo da espinha, Patti lidava com a magia dionísica inerente às grandes manifestações artísticas.

Para completar o line up do Patti Smith Group, foi convocado o baterista Jay Dee Daugherty, que trabalhava o som do grupo sempre que se apresentavam no CBGB's. Ele já havia tocado várias vezes com o pessoal e integrou a banda oficialmente em tempo de gravar seu álbum de estréia, que contou com a produção de John Cale. Gravado no Electric Ladyland, Horses foi lançado em novembro de 75.

GLÓRIA
Cover do Them gravado pela cantora em versão personalíssima no álbum Horses


Durante anos, Patti perambulou pelas redondezas dos circuitos literários e boêmios do Greenwich Village e era tida como lunática por acreditar em amizades imaginárias com celebridades como Keith Richards, Bob Dylan, Marianne Faithfull, John Lennon, Frank Sinatra e Brian Jones. Não fazia a menor questão em esconder que todos esses ícones faziam parte de sua vida.

Vivia como se fosse um deles até que sua obstinação lhe valeu ao ponto de alcançar certo status cult por sua poesia, o que se concretizou posteriormente com o lançamento de Horses e o aval de um de seus maiores ídolos, Bod Dylan. Ao assinar contrato com a Arista, ela sabia que havia chegado sua vez e não desperdiçaria a chance. A aclamação atribuída a Horses coroou a obstinação de quem ralou durante anos na obscuridade e a adoração aos mitos do rock.

O disco contém releituras personalíssimas implementadas por Patti para clássicos do rock, tais como "Gloria" (da banda Them, mas também bastante conhecida pela versão dos Doors) e "Land" (Of a 1000 Dances), um hit de 1963 do grupo Cannibal and the Headhunters. Horses é clássico desde o lançamento.

Embora Horses tenha perdido o senso de humor característico de suas performances ao vivo, é um trabalho poderoso que incorpora poesia declamada e a pegada básica do rock'n'roll a um patamar inédito para os experimentos anteriores dos Doors, Frank Zappa, The Fugs e Velvet Underground, entre outros. A maioria das músicas surgiu de jam sessions com os músicos nas quais Patti sonhava acordada enquanto expelia poesia e o som rolava numa estrutura básica de acordes. O trabalho contém alusões a sexo rude, violência, apocalipse, suicídio e morte. Quatro de suas faixas são lamentações a pessoas mortas, sendo que três delas são celebridades. Uma delas é "Elegy", uma homenagem a Jimi Hendrix gravada no dia de seu aniversário de morte.

Vale ressaltar que o disco foi gravado no Electric Ladyland, estúdio planejado pelo cantor antes de sua morte. Outro cadáver ilustre dos sixties é homenageado em "Break it Up", uma canção sobre Jim Morrison repleta de simbolismos. A letra expressa a manifestação alegórica de um sonho em que ela se depara com Morrison aprisionado sobre um balcão de mármore. Ele possuía asas de pedra e tentava se libertar, mas suas asas o impediam. A narrativa é contada da perspectiva de uma criança que grita até que ele consegue se livrar de suas asas. Patti declarou que sua aptidão a devaneios e alucinações seja uma reminiscência da febre escarlate que a acometeu na infância, a mesma doença que seu discípulo Michael Stipe contraiu quando criança.

Inspirada em Book of Dreams, livro de Peter Reich, "Birdland" é um devaneio intertextual em que Patti narra um sonho infantil de Peter no qual é capturado por um OVNI, logo após a morte de seu pai, o psicólogo não-ortodoxo Wilhelm Reich. A canção remete ao funeral de Wilhelm e uma interpretação repleta de imaginação da experiência do jovem Peter em que imagina seu pai retornando em um disco-voador, que se assemelhavam às limusines pretas do cortejo fúnebre.

Mas Horses não é caracterizado apenas pelo drama. "Redondo Beach" narra de uma forma irônica a história de uma jovem lésbica que se mata ao atirar-se no mar revolto. Patti ironiza a dramaticidade da letra ao cantá-la sobre um leve sotaque reggae, quase que como uma paródia perversa aos números músico-teatrais típicos dos anos 50, que ela odiava. Apesar da ironia, duas canções do disco homenageiam mulheres: a já citada "Gloria" e "Kimberly", composta para a irmã da cantora, repleta de referências a seu nascimento. "Gloria" é a canção mais emblemática da primeira fase do Patti Smith Group, época em que a cantora entoava versos como "Jesus morreu pelos pecados de alguém, e não pelos meus /... / As pessoas falam para eu ter cuidado, mas eu não estou nem aí", uma idiossincrasia dirigida de forma curta e grossa aos dogmas cristãos. Mas o rock'n'roll básico também vem à tona em "Free Money", a história de uma garota pobre que sonha ter encontrado um bilhete de loteria premiado.

A dramaticidade reaparece em "Land", uma faixa de quase dez minutos com a narrativa ambígua de um garoto chamado Johnny, que é violado por outro no corredor da escola. Combinando a batida roqueira com overdubs vocais, o ápice da canção se dá no momento em que o garoto se sente rodeado por cavalos (uma alusão ao nome do álbum que antecede uma releitura curta-e-grossa de "Land of 1.000 Dances"). Repleta de imagens ligadas a sexo, a canção se encerra com um frágil sussurro. Fã de Doors, Patti deu um passo à frente na fusão entre desvarios poéticos e o rock com facetas dionísicas implementados pelo quarteto de Los Angeles.

A capa de Horses é uma das mais célebres da história do rock'n'roll e reflete todo o planejamento da cantora: uma imagem que mistura Rimbaud, Baudelaire, Frank Sinatra e o cineasta Jean Luc-Godard, criando uma persona situada entre o simbolismo francês e a nouvelle vague de Las Vegas. Durante um longo período, ela explicou arduamente ao fotógrafo Robert Mapplethorpe o que pensava para a capa do disco, que anos depois recebeu até um artigo entusiasmado da feminista "linha-dura" Camille Paglia.

"YOU CAN'T SAY 'FUCK' IN THE AMERICAN RADIO"
Lema de um manifesto promovido pela cantora após incidente com a mídia e censura

Após uma bem-sucedida turnê pela América e Europa, ao mesmo tempo em que se prenunciava a eclosão do punk safra-77 numa "incendiada" Londres, o Patti Smith Group retorna ao estúdio em meados de 76. Com produção Jack Douglas, Radio Ethiopia, o segundo álbum da banda, aponta em direção ao rock'n'roll básico, ao mesmo tempo em que contém rupturas radicais com o formato tradicional da canção pop.

Assim é a faixa-título, uma canção de 10 minutos que expressa o mais radical desvario poético e sonoro do quinteto, cuja fórmula foi apropriada e desenvolvida anos depois pelo Sonic Youth, expoentes da avant guarde nova-iorquina da década seguinte. Já esperando comparações com o bem-sucedido álbum anterior, logo de cara, Patti afirmou que a "culpa" pela sonoridade de Horses se deve única e exclusivamente à ela e seus músicos. Segundo ela, John Cale apenas deu opiniões que eram então rechaçadas pelo grupo.

Apesar disso, o disco contém material apresentando durante a excursão anterior. A ponto de duas canções, "Radio Ethiopia" e "Abyssinia" terem sido gravadas ao vivo no auge da aclamação da banda, em agosto de 76. Ambas são uma dedicatória a Rimbaud e, principalmente, ao escultor Constantin Brancusi, outra de suas influências.

Pouco antes do lançamento do segundo álbum, numa turnê européia já pairava no ar um clima não muito agradável para o Patti Smith Group, muito mais dado a celebrações dionísicas do rock'n'roll do que para a cretinice estéril com a qual se configurava a nova cena. O levante punk londrino começava a chamar atenção e o baterista Jay Dee Daugherty resolveu assistir a um show dos Pistols no Roundhouse em Londres e se surpreendeu com o discurso do frontman dos Pistols. Ao entrar no palco, Johnny Rotten gratuitamente bradou contra o grupo chamando-os de hippies velhos que ficam sacudindo seus pandeirinhos. "Horseshit" (bosta de cavalo), Johnny aludiu ao LP de estréia do quinteto. Assustado com a ovação, o baterista achou que seus quinze minutos de fama já eram coisa do passado.

Outro incidente da turnê européia se deu em Paris. Patti machucou sua mão direita numa das apresentações, além do desgaste natural de uma excursão internacional ao qual não estavam acostumados. E para piorar a situação, os músicos, inexplicavelmente, ficaram presos em um pequeno camarim enquanto a multidão gritava para que voltassem ao palco, à beira de um tumulto de grandes proporções. A turnê européia mostrou aos músicos uma vida a qual talvez não estivessem preparados, o que levou alguns amigos da antiga a tacharem Patti como uma pessoa oportunista e "mascarada".

Mas uma coisa era certa: Radio Ethiopia, dedicado à Wayne Kramer (guitarrista do MC5, então preso por porte de maconha), é bem diferente de seu antecessor, ao mesmo tempo mais comercial e mais vanguarda. Horses era um disco mais autoral, enquanto Radio Ethiopia foi um trabalho feito em conjunto.

Outro fator que contribuiu para a repercussão mediana do álbum foi um incidente ocorrido anteriormente, na ocasião de uma entrevista para a rádio WNEW-FM. O Patti Smith teria um concerto de final de ano transmitido ao vivo pela rádio, que se recusou a fazê-lo em razão de Patti ter proferido a palavra "fuck" um mês antes numa entrevista transmitida ao vivo pela rádio. Vale ressaltar que um incidente semelhante seria o estopim para a "aclamação" nacional dos Sex Pistols na Inglaterra, pouco tempo depois. Só que os ingleses tiveram mais sorte, já que se tornaram "a bola da vez" aos olhos do mercado fonográfico (o começo do punk rock do ponto-de-vista do grande público), enquanto Patti e cia. sofreram certa discriminação, o que a levou a escrever o manifesto "You Can't Say 'Fuck' in Radio Free America", publicado em março de 1977 por um jornal norte-americano.

As apresentações do grupo começavam a se tornar ainda mais caóticas, a frágil figura de Patti nos palcos evocava um certo instinto protetor nas platéias, num misto de admiração e medo. Muito em razão aos temas de algumas letras, que tinham significado um tanto hermético. Uma overdose em progresso era o tema de "Poppies", a mesma canção que também narra uma a história absurda de uma mulher dando à luz a um trator enquanto um artista plástico pintava um quadro. A canção é uma homenagem à atriz-modelo Eddie Sedwick, estrela da trupe de Andy Warhol a quem Patti sempre admirou, encontrada morta com uma "tonelada" de anfetaminas.

Mas o segundo álbum do grupo trazia material com potencial radiofônico, como "Ask the Angels" e "Pumping (My Heart)" - esta última uma parceria com Allen Lanier (Blue Oyster Cult). Uma canção de Radio Ethiopia, "Pissing In a River", remete à formação religiosa da cantora, algo como uma tentativa de reabilitação. O disco contém várias mensagens dirigidas a Deus, artifício estético que ela nunca mais utilizaria de uma forma tão contundente. Inclusive, uma das canções mais fortes do disco é justamente uma em que Patti sexualmente desafia o Criador. Em "Ain't It Strange", ela o encara de uma forma carnal, fazendo todo um misénsene durante os shows. Em entrevistas da época, ela chegou a dizer que, se Jesus estivesse por perto, ela seria uma groupie a acompanhá-lo por todo o tempo.

Essa canção justamente serve como pano-de-fundo para uma tragédia na vida de Patti. O grupo fazia o número de abertura para o cantor Bob Seger, que não os deixava utilizar todo o seu aparato de luzes. O Patti Smith Group iniciou a apresentação e receberam uma fria recepção por parte da platéia. Silêncio total ao final da primeira canção, o que fez com que os músicos voltassem com o maior gás para o próximo número, "Ain't It Strange". Nesta canção, Patti se confronta com Deus. Um de seus versos, "Come on, God / Make a Move", é o auge do embate, que nos shows ganhava uma proporção um tanto perigosa.

Patti considerava cada performance como um embate de vida ou morte com o êxtase e achava que sua obrigação era fazer com que a platéia entrasse em transe. Nas apresentações, esse era um número em que Lenny e Patti faziam um pequeno balé, em que a cantora começava a girar freneticamente no verso acima citado. Era uma alegoria corporal em que ela simulava uma fêmea entrando em êxtase após um contato mais "humano" com o criador. Tanta histeria não poderia dar em boa coisa. No final de 1976, uma tragédia aconteceu em Tampa (EUA), quando Patti rodopiou e errou ao tentar agarrar o microfone. Algumas pessoas ainda tentaram segurá-la, mas a cantora acabou caindo no foço em frente ao palco, quebrando o pescoço. Esse momento marcou o auge das apresentações caóticas implementadas pelo grupo e, ao mesmo tempo, o início de uma redenção impingida ao quinteto. Durante um ano, a cantora foi forçada a restabelecer seu estado físico, o que, conseqüentemente, impossibilitou que o Patti Smith Group participasse do auge da explosão do punk britânico, em meados de 77.

Patti caiu do palco enquanto cantava os versos "hand of God, I can feel the finger" e declarou que sentiu como se tivesse sido empurrada. Depois da queda, Patti nunca mais cantaria canções "heréges" como "Gloria" e segurou a onda nas poucas ocasiões em que cantou "Ain't It Strange", com Lenny fazendo o papel da fêmea que gozava. Apesar dos confrontos "artísticos" com Deus, Patti sempre foi muito cristã, o que fazia com que a religiosidade fosse tema recorrente em suas obras. Isso se reflete em seu novo trabalho, algo como uma "ressurreição", onde apresenta uma nova faceta espiritualista.

EASTER - A RESSURREIÇÃO
Título do terceiro álbum da cantora e uma canção do disco

No período de recuperação (quer dizer, "redescoberta", segunda a cantora), Patti aproveitou para escrever um novo livro de poesias, chamado "Babel". Mas o grupo teve sua primeira baixa, com a saída do tecladista Richard "DNV" Sohl, em decorrência de problemas de saúde. Chegou a pensar se um dia voltaria a se apresentar novamente, mas se rendeu. Contanto, o Patti Smith Group só voltaria aos palcos em 1978, com uma apresentação especial no CBGB's, em comemoração à Páscoa (também o nome de seu novo álbum, Easter). Contando com o tecladista Bruce Brody no lugar de Sohl, o grupo se mostrou mais sofisticado musicalmente e Patti mais interessada no Cristianismo, ainda que com um certo cuidado. Patti era muito ligada na relação direta entre Deus e humanidade, enquanto que depois do acidente, começa a levar em conta essa relação entre criador e criatura por intermédio de Jesus Cristo. Isso a levou a reavaliar a figura de Cristo e seu inabalável magnetismo na massa ao longo dos séculos. Antes ela achava que a única forma de se comunicar com Deus seria através de si mesma, razão pela qual ela acredita ter sofrido o acidente. Já recuperada, declarou que a misenscéne que ela promovia quando se machucou era uma tentativa de comunicação cerebral e sexual com Deus. E afirmou que a queda foi a forma que Deus encontrou para dizer que sabia que ela só pararia de bater naquela porta quando ele a abrisse e ela fosse ao chão.

Daí vem a temática redentora recorrente em Easter. Com a produção de Jimmy Lovine, o disco se referia à celebração da felicidade, algo como um renascimento após uma circunstância trágica. Um sinal de mudança: a capa do disco traz a cantora numa foto que explora sua sempre enrustida feminilidade, a despeito de alguns pêlos nas axilas de Patti saltarem a nossa vista. Apesar da serenidade, a performance de Patti nos palcos continuava selvagem, só que mais canalizada para sua guitarra, instrumento ao qual passou a se dedicar mais.

A maioria das canções do álbum nunca havia sido apresentada ao vivo, o que nunca ocorrera antes. Na faixa-de-abertura, "Till Victory", Patti pede a Deus que não a sacrifique "até que chegue a vitória", porque sabia que sua missão não havia acabado. Mas ao mesmo tempo, deixa transparecer no disco certo desconforto com dogmas religiosos. Em entrevistas, também começava a se mostrar entediada com os rumos do rock'n'roll e com sua própria carreira. Esse período coincide com seu primeiro grande sucesso radiofônico, a baladaça "Because The Night", parceria com Bruce Springsteen (que nos anos 90 recebeu uma versão dos 10.000 Maniacs, desprovida da sexualidade encontrada na versão original). Ambos gravavam no mesmo estúdio e aí surgiu a idéia de juntá-los. Inpirada em sua incipiente paixão por Fred, a canção chegou ao Top Ten americano, o que ocasionou um baita aumento nas vendas do disco. É, até então, o trabalho mais acessível do grupo e o eleva a um inédito patamar de popularidade. Patti Smith chegou até a ganhar um Grammy como "Melhor Artista Novo" (sic).

Em "Ghost Dance" (que posteriormente receberia versão definitiva a cargo de Marianne Faithful, outro ícone setentista sobrevivente até hoje) é quase um cântico indígena de celebração. Segundo a cantora, era um movimento iniciado por índios americanos no final do século XIV com o intuito de ressuscitar seus antepassados. A dança era uma chamada para a comunicação com passado e futuro por intermédio dos sons e ritmos do presente, prática exclusiva de índios americanos. "I don't f*ck with the past / But I f*ck too much with the future", assim Patti se mostrava liberta do passado em "Rock'n Roll Nigger". Trecho de um discurso gravado ao vivo no show de "ressurreição" no CBGB's que serviu de introdução para "Rock'n Roll Nigger" (que seria o nome do disco, não fosse a guinada espiritual de Patti) - um embate entre Patti e William Burroughs no meio do público em que se clama uma redefinição do conceito de Arte. Essa canção também é uma ode a todos os que se sentem excluídos socialmente.

Algumas letras do álbum fazem alusão direta a Babel, seu mais recente livro de poesias. Uma delas é "High On Rebellion", uma canção que reflete bem a faceta militante da cantora, também mostrada na já citada "Rock'n'Roll Nigger". Na letra desta última, ela alertava que "se você quiser viver fora da sociedade, então vai ter que encarar todas as responsabilidades" inerentes ao ato.

Apesar do sucesso, os músicos deixavam pistas de um certo esgotamento com a via-crucis do rock'n'roll. Mas ainda não havia chegado a hora. Assim Patti parecia se libertar de seus fardos, como atesta uma citação bíblica no encarte do disco: "Enfrentei uma grande luta / Encerrei minha maldição" (trecho do livro de Timóteo: capítulo 4, versículo 7). Outras referências à Bíblia são encontradas em "Privilege", com inserções de trechos do Salmo 23.

FREDERICK
Canção emblemática do quarto álbum de Patti, dedicada a Fred "Sonic" Smith

A busca à serenidade almejada por Patti só se concretizou posteriormente, quando ela se apaixonou por Fred "Sonic" Smith, ex-guitarrista do MC5. Numa ocasião em Ann Arbor (USA), um problema com o mau tempo fez com que Patti ficasse desguarnecida de sua banda para uma apresentação. Seus músicos estavam em nova Iorque e não puderam decolar a tempo de entrar em cena. Patti teve que recorrer à ajuda da Sonic Rendezvous Band, novo grupo de Fred. Eles a acompanharam enquanto ela improvisou alguns números de poesia e dedilhava sua guitarra. Pouco tempo depois já estavam juntos. Ao término da excursão do álbum "Wave" (lançado em 1979), o casal se casaria em 1980.

Patti concebeu o álbum como uma espécie de carta-de-despedida para seus fãs, pois iria largar tudo para se tornar uma mãe e esposa dedicada. O único a saber de seus planos era o produtor Todd Rundgren e, sem que Patti soubesse, Bebe Buel, sua "companheira" na época. Bebe chegou a ter um ataque de choro no meio das gravações por saber que se tratava de uma despedida, uma "infidelidade" da parte de Rundgren que irritou Patti, já que este havia jurado segredo. Uma amiga a visitou nessa época e se assustou ao ver a cantora no tanque lavando uma cueca de Fred: "Qual é? Estou lavando a roupa do meu macho!", falou na ocasião.

A capa do álbum traz Patti libertando uma pomba branca aprisionada numa gaiola. Após um período de reclusão, o tecladista dissidente Richard "DNV" Sohl retornou à banda nesse período, cheio de gás e morrendo de saudade dos ex-companheiros. Mal-recebido pela crítica, "Wave" celebra sua paixão por Fred em temas como a 'fleetwoodmackiana' "Dancing Barefoot" (um tema sobre heroína, já gravado pelo U2, em que Patti emula o vocal de Stevie Nicks) e "Frederick", uma declaração de amor e um emblema da nova fase na vida da cantora-poetisa. Nesta última, Patti faz poesia com as coisas simples e bonitas da vida, e também acena adeus - como em várias passagens do disco.

O discurso contundente tem lugar na obra, ainda que de uma forma aleatória em algumas canções. A exceção vai para uma releitura de "So You Want To Be (a Rock'n'Roll Star)", uma antiga dos Byrds que reflete seu descontentamento com a vida de estrela do rock. Era uma canção que Patti já conhecia há tempos, mas que antes não havia levado fé no desencantamento com o métier roqueiro sugerido pela música ainda que com certo otimismo. Os dois últimos shows da primeira encarnação do Patti Smith Group foram na Itália e transcorreram sob clima de estresse. Garotos da platéia invadiram o palco no final da apresentação e os músicos não tinham o mínimo amparo de segurança. Mas todo o caos se resolveu em paz, respeitosamente os rapazes sentaram no palco, num misto entre respeito e honra. Isso foi visto pelo grupo como uma metáfora na qual eles estavam passando a bola para que outros mostrassem a que vinham. Patti se despediu de um público de 70.000 pessoas com a saudação "Bye bye, hey hey", tirada de "Frederick", faixa-de-abertura de "Wave". Para celebrar o fim da banda, cogitou-se o lançamento de um disco ao vivo, o que não se concretizou.

Fred oficializou seu amor a Patti em 1980 e logo o casal se mudou para Detroit. Apesar da vida doméstica, a música serviu aos dois como hobbie, sem as pressões da vida na estrada. Como foi dito na época, Patti conseguiu ser um mito do rock'n'roll sem ter que morrer para isso.

DREAM OF LIFE: UMA CELEBRAÇÃO À VIDA DOMÉSTICA
Referência ao Título do quinto disco de Patti Smith

Patti e Fred foram morar num subúrbio de Detroit e se dedicaram com afinco à vida em família. Nesse período fizeram poucas aparições públicas - na maioria das vezes, em eventos beneficentes. Somente nove anos depois, Patti voltaria à cena - só que acompanhada pelo marido. Em 1988, o casal lançou o plácido "Dream of Life", álbum produzido por Fred e Jimmy Lovine. Apesar de um trabalho concebido pela dupla, Fred achou melhor que se promovesse o álbum como o primeiro trabalho solo de Patti. Isso deixa bem claro que o extinto Patti Smith Group era uma banda que prestava auxílio luxuoso ao seu trabalho. Do antigo grupo, só participaram Jay Dee e Richard Sohl, line up complementado por músicos de estúdio. É seu melhor trabalho segundo os mais ferrenhos fãs da cantora, incluindo este que vos escreve. No disco, Patti parecia se inspirar em Chrissie Hynde, uma de suas "pupilas". Trata-se de uma retratação a seu público em formato pop, longe de sua imagem militante, presente apenas na inspiradora "People Have the Power": um hino populista em que clama que as pessoas não se rendam a líderes.

São oito canções em que celebra sua felicidade: seu amor por Fred e sua família. Para se ter uma idéia, "The Jackson Song" é uma canção de ninar composta para seu filho mais novo. Mas "Dream of Life" também tem seu épico, "Where Duty Calls", uma canção sobre as filosofias religiosas da humanidade. Essa é uma prova da serenidade que a cantora passava naquele período.

Patti concedeu poucas entrevistas e logo voltou à reclusão doméstica, onde se realizou como ser humano na educação e criação de seu casal de filhos: Jackson Frederick (agora com 17 anos) e Jesse Paris (8). Só reapareceria no início dos anos 90, quando fez aparições em recitais em alguns recitais de poesias. Apesar do "ostracismo" voluntário, o casal continuou trabalhando informalmente com música em jam sessions familiares que varavam a madrugada.

Fred e Patti ainda planejavam lançar outro álbum em dupla em 1995, projeto interrompido após sua morte em decorrência de um ataque cardíaco, no final de 94. Um mês depois, seu irmão Todd morreria pela mesma razão. Outras mortes também são espectros aos quais Patti é levada a abordar com perspicácia durante o período em que compõe o novo repertório: Robert Mapplethorpe, seu "irmão espiritual", também morreu alguns anos antes, assim como seu antigo tecladista Richard "DNV" Sohl, morto logo após a gravação de "Dream of Life", a primeira morte decorrente de enfarte entre seus entes queridos. No novo repertório, a cantora "acende velas para seus mortos e continua dança", conforme a citação de Allen Ginsberg inserida no encarte de seu próximo álbum, repleto de alusões a anjos e fantasmas.

Nessa ocasião, Patti foi confortada por Ginsberg, um de seus ídolos a quem havia se tornado amiga. Ela só aparecia em público em 1995, recitando poemas de Allen em Ann Arbor. Esses acontecimentos infelizes seriam retratados em seu próximo disco, trabalho em que tratou de sua dor a base de música.

Mas antes do lançamento do álbum, Patti fez aquecimento colaborando para duas trilhas sonoras: uma versão para o standard de Nina Simone "Don't Smoke In Bed" foi incluída na trilha de "Ain't Nothing But She" e uma releitura para "Walkin' Blind", de Oliver Ray, presente em "Dead Man Walking". Ela ainda fez alguns shows em Nova York, antes de integrar a turnê itinerante Loolapalooza daquele ano. E só depois da excursão, adentrou novamente o Electric Ladyland para registrar o repertório do novo disco, intitulado "Gone Again".

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Título de uma canção do álbum Gone Again

Lançado em 1996 e produzido por Malcom Burn e pelo escudeiro Lenny Kaye, "Gone Again" recebeu imediata aclamação da crítica. Já na capa do álbum, Patti aparece de luto e com a cabeça baixa. Sua fotografia faz uma discreta alusão ao trabalho de Mapplethorpe em Horses, mas ouvimos no disco são reflexões da cantora sobre a morte do marido. "Gone Again" foi um trabalho planejado pelo casal. Inclusive, o título do álbum foi escolhido pelo próprio Fred, que na época ensinava sua esposa a tocar guitarra. Algumas canções são parcerias com o falecido, com destaque para a maravilhosa "Summer Cannibals", melhor momento do álbum.

No disco, Patti contou com o auxílio inestimável da guitarra de Tom Verlaine (Television) e de John Cale em algumas faixas e se reuniu a antigos companheiros como Lenny Kaye e o baterista Jay Dee Daugherty. Este último é, até hoje, o único músico a acompanhá-la em todos os seus discos. Completaram o line up o baixista Tony Shenahan e o tecladista Luis Resto. "Gone Again" é marcado por canções lentas, arrastadas, que fazem fundo para as narrativas poéticas da cantora. Um dos temas mais fortes do álbum é "Dead to the World", que trata a morte como uma coisa boa, como se as pessoas apenas caíssem em sono profundo. Assim também é "My Madrigal", uma referência explícita ao luto por Fred.

Para admiradores não-ortodoxos do trabalho de Patti, este é o seu melhor trabalho. Mas o álbum não é apenas uma elegia ao marido morto. Prova disso é uma homenagem a Kurt Cobain em "About a Boy", canção em que a improvisação impera nos shows, ao ponto de sua duração atingir quase quinze minutos. Outra homenagem é dirigida a Bob Dylan, na boa releitura de "Wicked Messenger". Paralelamente, Patti se concentrava esforços em dois novos livros. "Wild Leaves" e "The Coral Sea". No primeiro, compila textos em verso e prosa em memória de seus entes queridos; enquanto o segundo traz poemas em prosa em homenagem a Robert Mapplethorpe, compostos logo após sua morte em 89, em decorrência da AIDS. Nesse período, a poetisa também teria suas primeiros trabalhos compilados em um único livro, chamado "Early Work" 1970/1979).

Aproveitando uma folga da turnê de Monster, Michael Stipe (R.E.M.), um de seus maiores fãs se ofereceu para acompanhar Patti e sua banda em turnê junto a Bob Dylan. Na ocasião, ele mesmo se descreveu como um mero roadie e fotógrafo. E aproveitou para publicar esses registros fotográficos em um livro chamado "Two Times Intro: On The Road with Patti Smith". O livro contém fotos de toda entourage da cantora, além de polaróides de seus ilustres amigos-ídolos William Burroughs e Allen Ginsberg. Michael se disse um privilegiado por testemunhar a turnê e mensurar a influência de Dylan no trabalho de Patti e, por conseguinte, a influência que a obra da cantora teve em sua carreira.

Em turnê, Patti voltou a apresentar sua versão para "Gloria", mas com uma mudança no primeiro verso. Este passou a ser cantado assim: "Jesus died for somebody sins / Why not mine?", mais uma prova da constante reavaliação existencial a que sempre se submeteu.

Em 1996, a Arista preparou um presente para seus fãs: Patti teve todos os seus álbuns remasterizados e acrescidos de faixas inéditas. Eles podiam ser comprados individualmente ou compilados em um boxset. Em abril deste ano, Patti e Allen Ginsberg fizeram uma aparição pública num evento beneficente para a Jewel Heart (uma organização budista tibetana). Na ocasião, Ginsberg fez uma memorável introdução à apresentação de Patti e recitou vários de seus poemas. Nada mal para uma pessoa que era tida como lunática na ocasião de seus primeiros trabalhos com poesia.

Posteriormente, o poeta beat ainda a acompanharia em várias de suas performances até a última colaboração conjunta no evento beneficente Tibetan New Year's, no Carnegie Hall em fevereito de 97. Nesse ano, Ginsberg morreu de câncer, aos 71 anos.

PAZ E BARULHO
Título do sétimo disco da cantora, Peace And Noise

Em 1998, Patti retorna à cena com Peace And Noise, seu trabalho mais introspectivo. Esse estado de espírito se reflete na capa do CD em que a cantora aparece sentada em sua cama rabiscando alguns versos. O disco também deixa transparecer seu flerte com a cultura tibetana, principalmente sua filosofia espiritual a qual foi iniciada pelo clássico Livro Tibetano da Vida e da Morte - a mesma obra que inspirou Billy Corgan no épico Mellon Collie and Infinite Sadness.

Na nova empreitada, Patti contou com Lenny Kaye e o novato Oliver Ray, nas guitarras, além do baixista Shanahan e J. D. Daugherty. Oliver é seu novo namorado e deu sangue novo à banda, em muito contribuindo ao novo repertório. Praticamente gravado ao vivo em estúdio, Peace And Noise traz de volta a rusticidade de Radio Ethiopia, e uma de suas faixas, "Memento Mori" é um improviso de 11 minutos dedicado à memória de seu ídolo-amigo William Burroughs. Trata-se de um trabalho igualmente passional ao anterior "Gone Again", mas com um ponto de vista externo à vida da cantora.

Sonoramente, o álbum alude à pegada roqueira do Patti Smith Group, lá pelos idos anos 70. Mas no que diz respeito ao discurso, da primeira ("Waiting Underground") à última faixa ("Last Call"), "Peace And Noise" é um trabalho mais direcionado para questões políticas e deveres sociais do que para adversidades particulares. Para se ter uma idéia, "Last Call" faz alusão ao episódio de suicídio coletivo dos adeptos da seita Heavens Gate, que acreditavam no fim do mundo. Esta conta com a participação de Michael Stipe (REM), nos backing vocais, como uma retribuição à participação de Patti no álbum "New Adventures In Hi-Fi" (na faixa "E-Bow the Letter").

Uma das razões para tal preocupação ideológica se deu após uma comparação dos dias de hoje com os anos 60, época em que as preocupações sócio-políticas eram bem mais evidentes. Patti reconhece que atualmente paira no ar uma certa alienação conformista.

Para promover o álbum, Patti começou dando entrevistas para zines e jornais ginasiais, em vez de privilegiar dinossauros da imprensa musical como as revistas Spin e Rolling Stone. Expressando sua militância underground, a despeito dos antigos fãs que a tacharam como "vendida" em determinado momento de sua vida, a cantora começou sua excursão em shows memoráveis no minúsculo CBGB's, antecipando uma turnê nacional. De acordo com o noticiado na época de seu lançamento, boa parte de Peace And Noise é composto pelo material idealizado como o segundo disco do casal "Fred & Patti".

Apesar de promovido como um trabalho em conjunto, uma das canções do álbum foi composta somente por Patti: "Death Singing". A canção foi dedicada a Robert Curtis Dickerson, vulgo Benjamim, líder da banda Smoke. Benjamim era um expoente da cena musical de Atlanta há pelo menos uns dez anos e nessa época fora apresentado a Patti por Richard Sohl. As canções de seu grupo eram tragicômicas, repletas da decadência e dos riscos a quem se submetem o que se configura como a escória da sociedade.

Um assumido speedfreak esquecido pelos parentes, Benjamim era portador do vírus HIV e seu estado físico somado ao auto-paródico senso de humor muitas das vezes afastava as pessoas que queriam ajudá-lo. Uma pessoa que não se deixou levar pelo medo foi Patti Smith, a mesma pessoa que mudou sua vida em 1976 quando este se deparou com o álbum Horses. Esta começou a visitá-lo após uma de suas freqüentes estadias em hospitais, havia escutado seus CDs e, para seu espanto declarou-lhe que seu trabalho havia sido fonte de inspiração para ela. Em forma de alegoria, esta faixa conta a história de um vocalista de uma banda de rock que morre de AIDS em pleno palco.

Boa parte do novo repertório foi composto à moda antiga, em jam sessions promovidas pelos músicos - o que se concretizou em ótimos shows. Após se dar por satisfeita com a promoção do álbum, Patti recolheu-se ao lar, o que fez com que alguns fãs achassem que a cantora fosse se dedicar a outro período em exílio doméstico. Isso não se confirmou e estes podem agora se contentar com Gung Ho, mais um motivo para que estes continuem ardorosamente a adulá-la por vários anos. No momento, fala-se de uma coletânea abrangendo o melhor de toda a discografia da cantora, com um repertório escolhido pelos fãs na Babel List e no site oficial de Patti Smith!

Texto de Marcus Marçal. Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.

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