JUKEBOX III
"Broken Boy Soldier"
Esta canção me remeteu imediatamente ao documentário How Many Roads produzido pelo holandês Jos de Putter em 2005, sutil retrato em road movie dos EUA da era Bush Jr. baseado em algumas canções de Dylan, sem que o próprio sequer apareça no filme. Em meio às quase duas dezenas de pessoas que se tornaram personagens na narrativa do documentário, havia um rapaz estrangeiro prestes a se apresentar a sua junta a fim de exercer seu ofício. No filme, todas as personagens elegem uma música da majestosa vasta obra de Bob e explicam a razão de a terem escolhido. O bacana é que todo tipo de gente aparece na tela, desde contemporâneos de Village, até mesmo uma dona-de-casa dylanfreak ou mesmo malucos comuns e até um aspirante a oficial das Forças Armadas. Uns escolhem material da fase inicial, outros canções mais recentes de Love and Theft, até o lançamento do novo álbum Modern Times, o último disco do bardo. Eles pinçam trechos, associam suas próprias biografias sob a forma de reflexões sobre texto, música e peculiaridades. Enfim, tudo aquilo que nos interessa na assimilação de uma canção. Alguns se apresentavam espantados com o teor "premonitório" das alegorias poéticas de Dylan em Love & Theft lançado em 11 de setembro e a comoção gerada pelo catastrófico marco histórico tachado por alguns como prenúncio de barbarismos gerais. Um ou outro até chegou a equiparar o texto de certas canções do play com os próprios acontecimentos em escala global. Uns mais antenados, outros menos, no entanto destoava do geral teor crítico da verve dylanesca justo a escolha do aspirante. Em meio a tantas canções fortes disponíveis na vasta discografia oficial do pai do Jacó, o rapaz tratou de escolher "Country Pie", a faixa instrumental do mais emblemático disco realizado por Dylan em seu retiro doméstico. Nas suas mãos, reedições em SuperAudio CD dos trabalhos de Bob em meio a uma ou outra reedição menos exuberante. Eram quase dez CDs que figuravam o case do rapaz a arrumar as malas para se apresentar a uma missão rumo a outro país. Um depoimento dele demonstrava toda a sua preocupação, mas não haveria de um aspirante a oficial arrefecer diante do temor. Sobre a razão de sua escolha, alegou que a música, um inocente vaudeville e emblema mais evidente retrato da descontração caseira de um artista, lhe remetia à frugalidade confortável que somente uma atividade tão corriqueira como a de comer uma torta no interior poderia lhe propiciar no retorno ao lar. Sorri inocentemente ao despedir-se da equipe de filmagens enquanto se prepara para embarcar na missão. No decorrer do filme, todas as personagens foram procuradas tempos depois a fim de a equipe certificar-se como estava a vida destas pessoas e, no caso de uma delas havia apenas uma caixa de madeira com um pano tricolor em cima.
Texto de Marcus Marçal escrito originalmente em julho de 2006. Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
Esta canção me remeteu imediatamente ao documentário How Many Roads produzido pelo holandês Jos de Putter em 2005, sutil retrato em road movie dos EUA da era Bush Jr. baseado em algumas canções de Dylan, sem que o próprio sequer apareça no filme. Em meio às quase duas dezenas de pessoas que se tornaram personagens na narrativa do documentário, havia um rapaz estrangeiro prestes a se apresentar a sua junta a fim de exercer seu ofício. No filme, todas as personagens elegem uma música da majestosa vasta obra de Bob e explicam a razão de a terem escolhido. O bacana é que todo tipo de gente aparece na tela, desde contemporâneos de Village, até mesmo uma dona-de-casa dylanfreak ou mesmo malucos comuns e até um aspirante a oficial das Forças Armadas. Uns escolhem material da fase inicial, outros canções mais recentes de Love and Theft, até o lançamento do novo álbum Modern Times, o último disco do bardo. Eles pinçam trechos, associam suas próprias biografias sob a forma de reflexões sobre texto, música e peculiaridades. Enfim, tudo aquilo que nos interessa na assimilação de uma canção. Alguns se apresentavam espantados com o teor "premonitório" das alegorias poéticas de Dylan em Love & Theft lançado em 11 de setembro e a comoção gerada pelo catastrófico marco histórico tachado por alguns como prenúncio de barbarismos gerais. Um ou outro até chegou a equiparar o texto de certas canções do play com os próprios acontecimentos em escala global. Uns mais antenados, outros menos, no entanto destoava do geral teor crítico da verve dylanesca justo a escolha do aspirante. Em meio a tantas canções fortes disponíveis na vasta discografia oficial do pai do Jacó, o rapaz tratou de escolher "Country Pie", a faixa instrumental do mais emblemático disco realizado por Dylan em seu retiro doméstico. Nas suas mãos, reedições em SuperAudio CD dos trabalhos de Bob em meio a uma ou outra reedição menos exuberante. Eram quase dez CDs que figuravam o case do rapaz a arrumar as malas para se apresentar a uma missão rumo a outro país. Um depoimento dele demonstrava toda a sua preocupação, mas não haveria de um aspirante a oficial arrefecer diante do temor. Sobre a razão de sua escolha, alegou que a música, um inocente vaudeville e emblema mais evidente retrato da descontração caseira de um artista, lhe remetia à frugalidade confortável que somente uma atividade tão corriqueira como a de comer uma torta no interior poderia lhe propiciar no retorno ao lar. Sorri inocentemente ao despedir-se da equipe de filmagens enquanto se prepara para embarcar na missão. No decorrer do filme, todas as personagens foram procuradas tempos depois a fim de a equipe certificar-se como estava a vida destas pessoas e, no caso de uma delas havia apenas uma caixa de madeira com um pano tricolor em cima.
Texto de Marcus Marçal escrito originalmente em julho de 2006. Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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