CANHOTO DE INGRESSO II
SACAROSE POP
Lulu Santos, Botafogo (Maio de 2006)
Show de Lulu Santos no Canecão é desde sempre como um jogo clássico de futebol no Maracanã. Garantia de música acessível a todos os gostos e da melhor qualidade, como é de praxe na longeva trajetória artística deste artesão da canção pop aqui no Brasil. Lulu se mantém em invejável forma artística para quem já está na ativa há tantos anos, sem perder a categoria com a qual maneja sua majestosa guitarra e coloca uma platéia de gregos e troianos de todas as idades a entoarem seus eternos clássicos, alguns deles com mais de vinte anos desde o lançamento, mas imunes ao fator tempo uma vez atemporais. E o sujeito ainda tem um arsenal tão variado que pode se dar ao luxo de, a cada turnê ou em alguns shows, retirar do set list as músicas sobre as quais certamente parte da platéia comentará ao final do espetáculo. “Poxa, mas bem que ele podia ter tocado aquela assim ou aquela assado...”. Ninguém seria ingênuo de questionar o fato de o maior apelo junto à audiência de seus shows ser justamente a certeza de um roteiro bem amarrado de canções que se entranharam de forma indelével no inconsciente coletivo. A quem possa discordar da validade dos, em minha opinião, incontestáveis argumentos acerca do apelo irresistível da sacarose pop em suas canções, vale conferir a oportunidade de assistir a algum concerto de Lulu, de preferência bem acompanhado. É tiro e queda, a não ser que você seja diabético pop, o que aí é uma outra questão. E o mais bacana é que a cada nova turnê ou álbum lançado, Lulu Santos incorpora novas pepitas ao seu repertório de clássicos em meio a uma ou outra pepita não-lapidada. Conferi-los ao vivo em plena pista do Canecão, cenário de tantas temporadas memoráveis nas quais o cantor muitas vezes mal conseguia deixar o palco é um privilégio ao qual não muitos cariocas sabem apreciar no decorrer dos anos, apesar da casa lotada e um entretenedor pop de primeira feliz com o formato de uma audiência não acomodada em mesas dispostas de frente ao palco. Popular populista na medida, o cantor chegou a declarar saudades daquele tipo de platéia. Maneiro. O plural roteiro de canções afirma as heterogêneas facetas deste compositor popular de primeira: da linguagem pop romântica à moda brasileira que ele ainda consegue arejar com inventividade ao balanço funk-rock-soul de seu sambalanço pop misturado a outras levadas, linkado à tradição da música preta brasileira de baile via linhagem de Tim Maia, Cassiano a outros emblemas setentistas deste segmento, Lulu Santos consegue manter uma trajetória atípica no cenário da música pop nativa, ainda que relegue ao segundo plano o real poderio de sua majestosa guitarra.
Texto de Marcus Marçal
Todos os direitos reservados ao autor. Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma, seja ela parcial ou integral, sem permissão prévia. Por favor, contate-me antes via e-mail.
Lulu Santos, Botafogo (Maio de 2006)
Show de Lulu Santos no Canecão é desde sempre como um jogo clássico de futebol no Maracanã. Garantia de música acessível a todos os gostos e da melhor qualidade, como é de praxe na longeva trajetória artística deste artesão da canção pop aqui no Brasil. Lulu se mantém em invejável forma artística para quem já está na ativa há tantos anos, sem perder a categoria com a qual maneja sua majestosa guitarra e coloca uma platéia de gregos e troianos de todas as idades a entoarem seus eternos clássicos, alguns deles com mais de vinte anos desde o lançamento, mas imunes ao fator tempo uma vez atemporais. E o sujeito ainda tem um arsenal tão variado que pode se dar ao luxo de, a cada turnê ou em alguns shows, retirar do set list as músicas sobre as quais certamente parte da platéia comentará ao final do espetáculo. “Poxa, mas bem que ele podia ter tocado aquela assim ou aquela assado...”. Ninguém seria ingênuo de questionar o fato de o maior apelo junto à audiência de seus shows ser justamente a certeza de um roteiro bem amarrado de canções que se entranharam de forma indelével no inconsciente coletivo. A quem possa discordar da validade dos, em minha opinião, incontestáveis argumentos acerca do apelo irresistível da sacarose pop em suas canções, vale conferir a oportunidade de assistir a algum concerto de Lulu, de preferência bem acompanhado. É tiro e queda, a não ser que você seja diabético pop, o que aí é uma outra questão. E o mais bacana é que a cada nova turnê ou álbum lançado, Lulu Santos incorpora novas pepitas ao seu repertório de clássicos em meio a uma ou outra pepita não-lapidada. Conferi-los ao vivo em plena pista do Canecão, cenário de tantas temporadas memoráveis nas quais o cantor muitas vezes mal conseguia deixar o palco é um privilégio ao qual não muitos cariocas sabem apreciar no decorrer dos anos, apesar da casa lotada e um entretenedor pop de primeira feliz com o formato de uma audiência não acomodada em mesas dispostas de frente ao palco. Popular populista na medida, o cantor chegou a declarar saudades daquele tipo de platéia. Maneiro. O plural roteiro de canções afirma as heterogêneas facetas deste compositor popular de primeira: da linguagem pop romântica à moda brasileira que ele ainda consegue arejar com inventividade ao balanço funk-rock-soul de seu sambalanço pop misturado a outras levadas, linkado à tradição da música preta brasileira de baile via linhagem de Tim Maia, Cassiano a outros emblemas setentistas deste segmento, Lulu Santos consegue manter uma trajetória atípica no cenário da música pop nativa, ainda que relegue ao segundo plano o real poderio de sua majestosa guitarra.
Texto de Marcus Marçal
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