O SOM DA MÚSICA: ÁLBUM DE RETRATOS

Tuesday, May 09, 2006

ÁLBUM DE RETRATOS

Novembro de 1987
A memória me leva a um tempo em que brotava aos olhos de quem se dispusesse a enxergar a bruta energia da águia. Para a traiçoeira miopia comum, mera histeria adolescente. Precoce a ao que sequer vivera até então em temporã atenção ao que lhe urgia em turbilhão sensorial, apenas percebeu naquele momento que devia descer o rio apresentado diante de si. A afluência era audiência de gente que conhecia desde a mais tenra idade misturada a coleguismos de safras mais recentes e também a algumas poucas desafeições cuja belicosidade lhe proporcionaria tons até então desapercebidos, mas inestimáveis para uma perspectiva futura. Pouco antes da ribalta, iniciou-se em rito de passagem ao qual sequer levaria em conta por não dissociar a normalidade dos sentidos da própria experiência em questão. Só realmente relembraria muitos anos depois, saudando com um sorriso singelo. Há quem dissesse à época que seu comportamento parecia ali se distinguir do costumeiro. Quanto a isto, achava que era nada menos que mera adrenalina a fluir pelo corpo. Momento solene. Apresentação. A mambembe preparação justificava o inusitado da situação. Saudação atípica. Esbravejo. Volume, que parecia a todos, ensurdecedor em inversa proporção à potência amplificada em duas pequenas caixas de som cadenciada pelo tamborilar de uma bateria sem pratos. Bumbo literalmente chutado. Duas guitarras das mais baratas. Sem distorção, tampouco outros artifícios de efeito. Uma delas mero adereço mudo a decorar o que poderia se passar por deslocada introversão. É engraçado notar que mesmo assim havia quem fizesse o possível para testemunhar o improvável, lançando mão de artifícios que lho permitissem freqüentar restrita comemoração. Talvez porque naquelas alturas só poderia fazer sentido amparado na fantasia de um aparelho de tevê ligado. Ali não haveria de existir enfeite. O baixo azulão em contínua flatulência de freqüências baixas. Isso mesmo, o instrumento peidava graves rudimentares. Bufava a marcação e pautava o que poderia haver de harmônico naquelas levadas. Qual é mesmo o nome daquela clássica sinfonia escatológica? Salieri manuseia o alfabeto numa sopa.
Texto de Marcus Marçal
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Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


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Sinta-se livre para expressar quaisquer opiniões a respeito dos textos contidos no blog, uma vez que de nada vale a pena esbravejar opiniões no cyber espaço sem o aval da resposta do interlocutor.

Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


De qualquer forma, sejam todos bem-vindos! Sintam-se como se estivessem em casa.

Caso queira entrar em contato, meu email é marcus.marcal@yahoo.com.br.
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