JUKEBOX X: "Pobre Paulista"
"Pobre Paulista"
Moro em São Paulo há quase um ano. Mudei-me para cá com minha mulher no início de 2008 e, contabilizando minha chegada à cidade no início de dezembro do ano passado, confirmo meus 365 dias vividos na cidade. Maior cidade da América Latina porque há de convir à impessoalidade fria dos números das estatísticas do IBGE, entre outros...
Passei boa parte do meu ano trabalhando pra caralho! Dentro e fora do imenso aquário que é a redação do grande portal onde desempenhei tarefas a fim de acumular meus honorários. Gostava bastante de trabalhar por lá, mas aquilo me deu uma ilusão do que seria esta cidade. Acordava mais ou menos ao meio-dia, tomava banho, almoçava e seguia para a redação, onde passava umas dez horas diárias dentro do “aquário” -- fora plantões e corriqueiras horas extras.
A maior parte do meu excedente foi passado em shows e eventos externos. Tudo isso era uma espécie de anestésico em meio ao corre-corre frenético que acaba por consumir muita gente, que se vira para acumular o que vai gastar posteriormente em médicos e remédios. Enfim, é dessa forma que a lusitana roda e a multidão segue seu rumo.
Minha primeira impressão, na condição de futuro imigrante, da cidade foi assustadora! Minha primeira noite solitária na noite da cidade, cuja vida noturna é privilégio de uma minoria mais abastada, foi medonha.
Minha mulher estava no Rio organizando coisas para a mudança. Eu vim antes para correr atrás de trabalho e estava apto para aceitar qualquer função que me valesse alguns trocados ao final do mês.
Depois de passar o dia inteiro perambulando para lá e para cá a pé pelas principais avenidas, vi em minha caixa de e-mail um convite para um evento voltado a profissionais do entretenimento.
Não era lá grande coisa, mas me atrevi a aceitar o convite e conferir o que iria rolar. O que eu teria a perder a uma altura daquelas do campeonato? O interessante é que o mundo começou a desabar, pluviometricamente falando, enquanto eu me encaminhava de metrô ao local do evento, próximo ao Terminal Rodoviário do Tietê. Aquilo me parecia quase um convite ao arrego: “deixa de onda e volte para o Rio”, eu evitava pensar nisso.
Uma coisa que eu reparei logo de cara em São Paulo. O nível de pobreza e de deformação social aqui é muito mais avassalador do que jamais verifiquei em rincão algum de interior onde porventura eu tenha passado algum tempo.
É notável só de você se aventurar a pedir informação a algum transeunte.
No Rio de Janeiro, cidade onde vivi muito tempo, as classes baixas são dotadas de uma especialização na sobrevivência. Os mais fodidos na vida são suficientemente safos ao ponto de não deixarem que sua condição social impregne demasiadamente. A galera fica esperta de tanto se ferrar, você sabe… Isso virou até clichê do bom malandro carioca de um idealizado e eternizado Rio de Janeiro que não existe mais.
Talvez a praia seja, de alguma forma, niveladora de diferentes condições sociais --vá saber. E esse nivelamento se dissemina por outros quinhões onde aconteçam interações sociais -- tornando as diferenças menos gritantes. Não digo que elas inexistam, mas tornam-se levemente aniquiladas no dia-a-dia. Isso torna as relações humanas naturalmente mais calorosas.
Aqui a condição social segrega, delimita feudos de forma mais veemente. O magnata circula pela cidade de helicóptero, enquanto as redes viárias desaguam como podem o fluxo absurdo de gente que vai e vem...
Moro em São Paulo há quase um ano. Mudei-me para cá com minha mulher no início de 2008 e, contabilizando minha chegada à cidade no início de dezembro do ano passado, confirmo meus 365 dias vividos na cidade. Maior cidade da América Latina porque há de convir à impessoalidade fria dos números das estatísticas do IBGE, entre outros...
Passei boa parte do meu ano trabalhando pra caralho! Dentro e fora do imenso aquário que é a redação do grande portal onde desempenhei tarefas a fim de acumular meus honorários. Gostava bastante de trabalhar por lá, mas aquilo me deu uma ilusão do que seria esta cidade. Acordava mais ou menos ao meio-dia, tomava banho, almoçava e seguia para a redação, onde passava umas dez horas diárias dentro do “aquário” -- fora plantões e corriqueiras horas extras.
A maior parte do meu excedente foi passado em shows e eventos externos. Tudo isso era uma espécie de anestésico em meio ao corre-corre frenético que acaba por consumir muita gente, que se vira para acumular o que vai gastar posteriormente em médicos e remédios. Enfim, é dessa forma que a lusitana roda e a multidão segue seu rumo.
Minha primeira impressão, na condição de futuro imigrante, da cidade foi assustadora! Minha primeira noite solitária na noite da cidade, cuja vida noturna é privilégio de uma minoria mais abastada, foi medonha.
Minha mulher estava no Rio organizando coisas para a mudança. Eu vim antes para correr atrás de trabalho e estava apto para aceitar qualquer função que me valesse alguns trocados ao final do mês.
Depois de passar o dia inteiro perambulando para lá e para cá a pé pelas principais avenidas, vi em minha caixa de e-mail um convite para um evento voltado a profissionais do entretenimento.
Não era lá grande coisa, mas me atrevi a aceitar o convite e conferir o que iria rolar. O que eu teria a perder a uma altura daquelas do campeonato? O interessante é que o mundo começou a desabar, pluviometricamente falando, enquanto eu me encaminhava de metrô ao local do evento, próximo ao Terminal Rodoviário do Tietê. Aquilo me parecia quase um convite ao arrego: “deixa de onda e volte para o Rio”, eu evitava pensar nisso.
Uma coisa que eu reparei logo de cara em São Paulo. O nível de pobreza e de deformação social aqui é muito mais avassalador do que jamais verifiquei em rincão algum de interior onde porventura eu tenha passado algum tempo.
É notável só de você se aventurar a pedir informação a algum transeunte.
No Rio de Janeiro, cidade onde vivi muito tempo, as classes baixas são dotadas de uma especialização na sobrevivência. Os mais fodidos na vida são suficientemente safos ao ponto de não deixarem que sua condição social impregne demasiadamente. A galera fica esperta de tanto se ferrar, você sabe… Isso virou até clichê do bom malandro carioca de um idealizado e eternizado Rio de Janeiro que não existe mais.
Talvez a praia seja, de alguma forma, niveladora de diferentes condições sociais --vá saber. E esse nivelamento se dissemina por outros quinhões onde aconteçam interações sociais -- tornando as diferenças menos gritantes. Não digo que elas inexistam, mas tornam-se levemente aniquiladas no dia-a-dia. Isso torna as relações humanas naturalmente mais calorosas.
Aqui a condição social segrega, delimita feudos de forma mais veemente. O magnata circula pela cidade de helicóptero, enquanto as redes viárias desaguam como podem o fluxo absurdo de gente que vai e vem...
CONTINUA...
Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br
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