O SOM DA MÚSICA: JUKEBOX X: "Pobre Paulista"

Wednesday, December 31, 2008

JUKEBOX X: "Pobre Paulista"

"Pobre Paulista"

Moro em São Paulo há quase um ano. Mudei-me para cá com minha mulher no início de 2008 e, contabilizando minha chegada à cidade no início de dezembro do ano passado, confirmo meus 365 dias vividos na cidade. Maior cidade da América Latina porque há de convir à impessoalidade fria dos números das estatísticas do IBGE, entre outros...

Passei boa parte do meu ano trabalhando pra caralho! Dentro e fora do imenso aquário que é a redação do grande portal onde desempenhei tarefas a fim de acumular meus honorários. Gostava bastante de trabalhar por lá, mas aquilo me deu uma ilusão do que seria esta cidade. Acordava mais ou menos ao meio-dia, tomava banho, almoçava e seguia para a redação, onde passava umas dez horas diárias dentro do “aquário” -- fora plantões e corriqueiras horas extras.

A maior parte do meu excedente foi passado em shows e eventos externos. Tudo isso era uma espécie de anestésico em meio ao corre-corre frenético que acaba por consumir muita gente, que se vira para acumular o que vai gastar posteriormente em médicos e remédios. Enfim, é dessa forma que a lusitana roda e a multidão segue seu rumo.

Minha primeira impressão, na condição de futuro imigrante, da cidade foi assustadora! Minha primeira noite solitária na noite da cidade, cuja vida noturna é privilégio de uma minoria mais abastada, foi medonha.

Minha mulher estava no Rio organizando coisas para a mudança. Eu vim antes para correr atrás de trabalho e estava apto para aceitar qualquer função que me valesse alguns trocados ao final do mês.

Depois de passar o dia inteiro perambulando para lá e para cá a pé pelas principais avenidas, vi em minha caixa de e-mail um convite para um evento voltado a profissionais do entretenimento.

Não era lá grande coisa, mas me atrevi a aceitar o convite e conferir o que iria rolar. O que eu teria a perder a uma altura daquelas do campeonato? O interessante é que o mundo começou a desabar, pluviometricamente falando, enquanto eu me encaminhava de metrô ao local do evento, próximo ao Terminal Rodoviário do Tietê. Aquilo me parecia quase um convite ao arrego: “deixa de onda e volte para o Rio”, eu evitava pensar nisso.

Uma coisa que eu reparei logo de cara em São Paulo. O nível de pobreza e de deformação social aqui é muito mais avassalador do que jamais verifiquei em rincão algum de interior onde porventura eu tenha passado algum tempo.

É notável só de você se aventurar a pedir informação a algum transeunte.

No Rio de Janeiro, cidade onde vivi muito tempo, as classes baixas são dotadas de uma especialização na sobrevivência. Os mais fodidos na vida são suficientemente safos ao ponto de não deixarem que sua condição social impregne demasiadamente. A galera fica esperta de tanto se ferrar, você sabe… Isso virou até clichê do bom malandro carioca de um idealizado e eternizado Rio de Janeiro que não existe mais.

Talvez a praia seja, de alguma forma, niveladora de diferentes condições sociais --vá saber. E esse nivelamento se dissemina por outros quinhões onde aconteçam interações sociais -- tornando as diferenças menos gritantes. Não digo que elas inexistam, mas tornam-se levemente aniquiladas no dia-a-dia. Isso torna as relações humanas naturalmente mais calorosas.

Aqui a condição social segrega, delimita feudos de forma mais veemente. O magnata circula pela cidade de helicóptero, enquanto as redes viárias desaguam como podem o fluxo absurdo de gente que vai e vem...

CONTINUA...

Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br

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Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


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Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


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Caso queira entrar em contato, meu email é marcus.marcal@yahoo.com.br.
Grande abraço!
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