IMAGEM DA MÚSICA VIII: Filme celebra os 70 anos de Philip Glass e mostra bastidores da ópera "Waiting for the Barbarians"
24/03/2008 - 12h17
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/03/24/ult89u8755.jhtm
MARCUS MARÇAL
Da Redação
O filme "Glass: Retrato em 12 Partes" (2007), do cineasta australiano Scott Hicks, comemora os 70 anos do compositor norte-americano Philip Glass e documenta em 12 partes sua biografia e os bastidores da elaboração da ópera "Waiting for the Barbarians" ("Esperando pelos Bárbaros"). Baseada no livro de J.M. Coetzee, a ópera mostra "a história de um homem capturado em uma terrível e absurda jornada, sendo sua revolta um antídoto para as mazelas de seu mundo e o que dá sentido a sua existência", conforme definição do próprio artista no documentário.
O filme participa da competição internacional do festival "É Tudo Verdade", na categoria longa ou média-metragem, que acontece no Rio de Janeiro (27/03 a 06/04) e São Paulo (26/03 a 06/04), com extensões em Bauru (10 a 13/04), Brasília (14 a 20/04) Recife (17 a 20/04) e Caxias do Sul (24 a 27/04). Veja serviço ao final da página.
Durante dezoito meses, Hicks teve acesso ao cotidiano de Glass e também registrou preparativos de suas turnês por três continentes, relevando sua intimidade por meio de depoimentos de familiares, amigos e testemunhos dos cineastas Woody Allen, Martin Scorsese e Godfrey Reggio, para quem o músico já compôs trilhas sonoras.
As primeiras partes do documentário de pouco menos de duas horas --"One Day at the Office" ("Um dia no escritório"), "Downtown" ("Centro da Cidade"), "Summer in New Scottia" ("Verão em Nova Scottia") e "Snapshots" ("Instantâneos") -- mostram a faceta frugal do compositor, que cozinha, brinca com os filhos pequenos e remonta aos primórdios de sua trajetória musical e familiar. Um dos momentos mais memoráveis remete aos tempos em que Glass realizava shows improvisados em acampamentos e galerias de arte sem a acústica apropriada para a execução de suas obras sofisticadas. Ao relembrarem uma dessas ocasiões, compositor e amigos riem de um professor de música a esbravejar equivocadamente que seu trabalho não era música.
Os capítulos seguintes --"Riding to Work on Mars" ("Viajando para trabalhar em Marte"), "A Door into Another World" ("Uma porta para outro mundo"), "Einstein on the Beach" ("Einstein na Praia") -- atentam à importância de sua música, espécie de refúgio no qual o artista consegue melhor expressar seus sentimentos e individualidade. Mostram cenas do compositor trabalhando em seu Looking Glass Studios, em Nova York, e de sua mulher, Holly Glass, se impressionando com o fato de o marido nunca tirar folga. Trechos relembram as divertidas elaborações de trilhas sonoras para filmes como "Koyaanisqatsi" (1982) e "Kundun" (1997), entre outros. E uma das cenas mais interessantes mostra Glass assustando um concentrado Woody Allen durante a produção do longa "Cassandra's Dream" (2007), do qual o compositor chegou a lançar CD autoral com os temas da trilha em janeiro de 2008.
Nos intervalos da realização de um recital solo em Melbourne, na Austrália, o artista relembra com ternura a rigidez dos conselhos de uma antiga professora de piano, imprescindíveis ao desenvolvimento de sua técnica e que o tornaram um compositor, na acepção mais plena do termo. O mestre da música indiana Ravi Shankar também compartilha da intimidade de seu antigo assistente Philip Glass no filme.
Em "The Foggy Field" ("O Campo Nublado"), o compositor segue para a Brooklyn Academy, nos EUA, onde acompanha os preparativos para a execução de sua "Sinfonia nº 8" (2005). Ao ler a partitura da peça, o artista se indaga sobre as origens da música e surpreende ao responder que ela vem do submundo -- o que importa é se a ouvimos ou não. Pois uma vez imaginado um tema musical que precisa ser transcrito à pauta, Glass confessa se sentir impelido a buscar as partes seguintes de suas composições -- o que torna todo o processo de elaboração musical um verdadeiro mistério, segundo suas próprias palavras. Por esta razão, não é à toa o diretor mostrar o músico sorrindo como criança, ao se deparar com outra complexa obra realizada.
A nona parte, "The Spirit Within" ("O espírito interior"), mostra o compositor buscando uma vida mais saudável e o aprimoramento com as conexões espirituais que propiciam sua arte, por meio de práticas orientais como a yoga -- o que leva os mais próximos a tacharem-no de budista involuntário. Glass foi iniciado nos rituais orientais pelo poeta beat Allen Ginsberg e chegou a conhecer o Dalai Lama nos anos 70 -- desde então é defensor da causa tibetana. Também aparece em um lugarejo perto de Santa Fé, no México, onde conversa sobre as origens das tradições xamânicas com um nativo, que o denomina como um aprendiz sempre aberto ao conhecimento.
As partes finais do documentário - "Rehersing Barbarians" ("Ensaiando Bárbaros"), "The Underlying Passion" ("A Paixão Velada") e "The Opening Night" ("A Noite de Abertura") -- mostram tudo o que envolve a conclusão da ópera, em âmbito profissional e pessoal. Também ressaltam a importância da sincronia entre música e cenografia para a realização do projeto, com o qual promove digressões sobre o bem e o mal. Ou melhor, "Música soturna para uma história obscura", conforme definição do próprio Philip Glass, que também empreende reflexões sobre a psicoacústica, ao declarar que existe um espaço entre o que se ouve e aquilo que se pensa que ouve.
Sua mulher fala das dificuldades do casal, tamanho o envolvimento do marido com o trabalho, e afirma que sua arte é hoje mais profunda do que toda sua obra pregressa. Pois música é a terapia do artista, sua melhor forma de comunicação e o lugar onde ele se realiza. Glass endossa o comentário ao afirmar que seu interesse por música é estritamente pessoal.
Obra notável ao concatenar música, teatro e artes visuais, a estréia de "Waiting For the Barbarians" em Erfurt, na Alemanha, mostra o compositor cumprimentando os envolvidos com uma produção. Além da satisfação pessoal de ver a realização de mais um ambicioso projeto pessoal bem-sucedido, o final do filme apresenta Glass em frente ao mar, em um atípico momento de descanso.
Um dos compositores mais inovadores do século 20, Philip Glass é referência da vertente musical do movimento artístico Minimalismo, inaugurada por La Monte Young nos anos 60 nos EUA. Prolífico, se notabilizou pela composição de obras orquestrais, óperas, concertos e trilhas de filmes. Músico erudito, já trabalhou com nomes do rock e música eletrônica como Aphex Twin, Tangerine Dream, John Williams, entre outros.
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GLASS: RETRATO EM 12 PARTES
É TUDO VERDADE - 13º Festival Internacional de Documentários
SÃO PAULO
Quando: 30/03, domingo, às 17h
Onde: Cine Sesc (r. Augusta, 2075)
Quanto: Grátis
Informações: 0/XX/11/3087-0500
RIO DE JANEIRO
Quando: 03/04, quinta-feira, às 20h30
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66)
Quanto: De R$ 4 a R$ 8 (Cinepasse válido por 30 dias) Informações: 0/XX/21/3808-2020
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/03/24/ult89u8755.jhtm
MARCUS MARÇAL
Da Redação
O filme "Glass: Retrato em 12 Partes" (2007), do cineasta australiano Scott Hicks, comemora os 70 anos do compositor norte-americano Philip Glass e documenta em 12 partes sua biografia e os bastidores da elaboração da ópera "Waiting for the Barbarians" ("Esperando pelos Bárbaros"). Baseada no livro de J.M. Coetzee, a ópera mostra "a história de um homem capturado em uma terrível e absurda jornada, sendo sua revolta um antídoto para as mazelas de seu mundo e o que dá sentido a sua existência", conforme definição do próprio artista no documentário.
O filme participa da competição internacional do festival "É Tudo Verdade", na categoria longa ou média-metragem, que acontece no Rio de Janeiro (27/03 a 06/04) e São Paulo (26/03 a 06/04), com extensões em Bauru (10 a 13/04), Brasília (14 a 20/04) Recife (17 a 20/04) e Caxias do Sul (24 a 27/04). Veja serviço ao final da página.
Durante dezoito meses, Hicks teve acesso ao cotidiano de Glass e também registrou preparativos de suas turnês por três continentes, relevando sua intimidade por meio de depoimentos de familiares, amigos e testemunhos dos cineastas Woody Allen, Martin Scorsese e Godfrey Reggio, para quem o músico já compôs trilhas sonoras.
As primeiras partes do documentário de pouco menos de duas horas --"One Day at the Office" ("Um dia no escritório"), "Downtown" ("Centro da Cidade"), "Summer in New Scottia" ("Verão em Nova Scottia") e "Snapshots" ("Instantâneos") -- mostram a faceta frugal do compositor, que cozinha, brinca com os filhos pequenos e remonta aos primórdios de sua trajetória musical e familiar. Um dos momentos mais memoráveis remete aos tempos em que Glass realizava shows improvisados em acampamentos e galerias de arte sem a acústica apropriada para a execução de suas obras sofisticadas. Ao relembrarem uma dessas ocasiões, compositor e amigos riem de um professor de música a esbravejar equivocadamente que seu trabalho não era música.
Os capítulos seguintes --"Riding to Work on Mars" ("Viajando para trabalhar em Marte"), "A Door into Another World" ("Uma porta para outro mundo"), "Einstein on the Beach" ("Einstein na Praia") -- atentam à importância de sua música, espécie de refúgio no qual o artista consegue melhor expressar seus sentimentos e individualidade. Mostram cenas do compositor trabalhando em seu Looking Glass Studios, em Nova York, e de sua mulher, Holly Glass, se impressionando com o fato de o marido nunca tirar folga. Trechos relembram as divertidas elaborações de trilhas sonoras para filmes como "Koyaanisqatsi" (1982) e "Kundun" (1997), entre outros. E uma das cenas mais interessantes mostra Glass assustando um concentrado Woody Allen durante a produção do longa "Cassandra's Dream" (2007), do qual o compositor chegou a lançar CD autoral com os temas da trilha em janeiro de 2008.
Nos intervalos da realização de um recital solo em Melbourne, na Austrália, o artista relembra com ternura a rigidez dos conselhos de uma antiga professora de piano, imprescindíveis ao desenvolvimento de sua técnica e que o tornaram um compositor, na acepção mais plena do termo. O mestre da música indiana Ravi Shankar também compartilha da intimidade de seu antigo assistente Philip Glass no filme.
Em "The Foggy Field" ("O Campo Nublado"), o compositor segue para a Brooklyn Academy, nos EUA, onde acompanha os preparativos para a execução de sua "Sinfonia nº 8" (2005). Ao ler a partitura da peça, o artista se indaga sobre as origens da música e surpreende ao responder que ela vem do submundo -- o que importa é se a ouvimos ou não. Pois uma vez imaginado um tema musical que precisa ser transcrito à pauta, Glass confessa se sentir impelido a buscar as partes seguintes de suas composições -- o que torna todo o processo de elaboração musical um verdadeiro mistério, segundo suas próprias palavras. Por esta razão, não é à toa o diretor mostrar o músico sorrindo como criança, ao se deparar com outra complexa obra realizada.
A nona parte, "The Spirit Within" ("O espírito interior"), mostra o compositor buscando uma vida mais saudável e o aprimoramento com as conexões espirituais que propiciam sua arte, por meio de práticas orientais como a yoga -- o que leva os mais próximos a tacharem-no de budista involuntário. Glass foi iniciado nos rituais orientais pelo poeta beat Allen Ginsberg e chegou a conhecer o Dalai Lama nos anos 70 -- desde então é defensor da causa tibetana. Também aparece em um lugarejo perto de Santa Fé, no México, onde conversa sobre as origens das tradições xamânicas com um nativo, que o denomina como um aprendiz sempre aberto ao conhecimento.
As partes finais do documentário - "Rehersing Barbarians" ("Ensaiando Bárbaros"), "The Underlying Passion" ("A Paixão Velada") e "The Opening Night" ("A Noite de Abertura") -- mostram tudo o que envolve a conclusão da ópera, em âmbito profissional e pessoal. Também ressaltam a importância da sincronia entre música e cenografia para a realização do projeto, com o qual promove digressões sobre o bem e o mal. Ou melhor, "Música soturna para uma história obscura", conforme definição do próprio Philip Glass, que também empreende reflexões sobre a psicoacústica, ao declarar que existe um espaço entre o que se ouve e aquilo que se pensa que ouve.
Sua mulher fala das dificuldades do casal, tamanho o envolvimento do marido com o trabalho, e afirma que sua arte é hoje mais profunda do que toda sua obra pregressa. Pois música é a terapia do artista, sua melhor forma de comunicação e o lugar onde ele se realiza. Glass endossa o comentário ao afirmar que seu interesse por música é estritamente pessoal.
Obra notável ao concatenar música, teatro e artes visuais, a estréia de "Waiting For the Barbarians" em Erfurt, na Alemanha, mostra o compositor cumprimentando os envolvidos com uma produção. Além da satisfação pessoal de ver a realização de mais um ambicioso projeto pessoal bem-sucedido, o final do filme apresenta Glass em frente ao mar, em um atípico momento de descanso.
Um dos compositores mais inovadores do século 20, Philip Glass é referência da vertente musical do movimento artístico Minimalismo, inaugurada por La Monte Young nos anos 60 nos EUA. Prolífico, se notabilizou pela composição de obras orquestrais, óperas, concertos e trilhas de filmes. Músico erudito, já trabalhou com nomes do rock e música eletrônica como Aphex Twin, Tangerine Dream, John Williams, entre outros.
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GLASS: RETRATO EM 12 PARTES
É TUDO VERDADE - 13º Festival Internacional de Documentários
SÃO PAULO
Quando: 30/03, domingo, às 17h
Onde: Cine Sesc (r. Augusta, 2075)
Quanto: Grátis
Informações: 0/XX/11/3087-0500
RIO DE JANEIRO
Quando: 03/04, quinta-feira, às 20h30
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66)
Quanto: De R$ 4 a R$ 8 (Cinepasse válido por 30 dias) Informações: 0/XX/21/3808-2020
Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br
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