DE ORELHADA XXXXVIII: Marcelo D2 incrementa sua mistura de rap com samba com novos elementos em "A Arte do Barulho"
O rapper carioca Marcelo D2 acrescenta novos elementos ao sotaque brasileiro de seu rap no quarto álbum de inéditas de sua bem-sucedida carreira solo. “A Arte do Barulho” apresenta o ex-líder do Planet Hemp transitando veladamente por outras sonoridades distintas da junção de rap com samba que melhor caracteriza sua trajetória individual, tais como funk carioca e levadas afro-brasileiras –- em temas como “Oquêcêqué”, “Minha Missão” e “Meu Tambor”, dentre outros.
Desta forma, prevalece o modo operante do cantor que, a cada disco novo, mexe sutilmente em sua fórmula de fazer rap. Assim não provoca maiores solavancos na receptividade de suas novas empreitadas, enquanto ganha fôlego para planejar sua próxima cartada.
Espécie de Zé Carioca de nosso cenário pop mainstream, D2 também tira proveito da repetição como ferramenta para consolidação de sua "marca" -- apesar de sua espontaneidade calculada já demonstrar certo cansaço, em âmbito criativo.
Rap popular brasileiro
Em “A Arte do Barulho”, você encontra menções a tradicionais elementos da música de D2. Mestre em fazer colagens diversas e sobrepô-las com suas rimas faladas, o cantor se notabilizou por fazer rap sobre bases instrumentais de clássicos esquecidos da MPB desde os primórdios de sua fase solo, marcada por forte apelo populista. Uma canção do Planet Hemp, “Contexto”, já indicava essa tendência em seu trabalho, ainda de forma incipiente, no disco “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” (1996).
Mas aqui D2 prossegue o caminho inaugurado em “A Procura da Batida Perfeita” (2003) e continuado discretamente no nebuloso “Meu Samba é Assim” (2006). Com produção de Mario Caldato, pré-produção de Mauro Berman e finalização a cargo de DJ Nuts, o rapper acelera o andamento de seu novo repertório, mas mantém a leveza de sempre ao pinçar fortes referências do universo carioca -- de seu querido Flamengo (N.R.: ô mau gosto) até às inestimáveis lições de vida aprendidas no subúrbio, durante a juventude.
Tendo sempre em vista a origem pobre, seu discurso populista retrata de forma leve e desencanada a realidade das periferias cariocas. Muitas vezes, o tom de suas mensagens é de quase auto-ajuda e incentivo aos menos favorecidos, não bastasse o rapper um forte baluarte de resistência cultural no Rio atualmente.
Celebração de um Rio idealizado que fica para trás
Lançando mão do legado da Pilantragem da MPB maldita do final dos anos 60, da qual Wilson Simonal (1939-2000) era rei, D2 celebra as coisas boas da vida como um malandro do bem. Apesar do clima de terror implantado pela tríade “polícia, traficantes & milícias”, o cantor celebra a faceta lúdica da história recente de um Rio de Janeiro que aparenta já ter ficado para trás, linchado pela crônica policial: a mulher de responsa, a diversão com os amigos e os baratos de seu dia-a-dia.
D2 conta com parceiros de modus vivendi como Seu Jorge, Roberta Sá, Mariana Aydar, Thalma de Freitas e a funkeira Zuzuca Poderosa. Todos deram particular contribuição ao disco, que conta até mesmo com colaboração de sua própria cria: seu filho Stephan Peixoto, o menino da canção “Loadendo” (2003), é parceiro na faixa “Atividade na Laje”, vale frisar.
Com as crônicas de seu cotidiano em formato de rap carregadas das tradicionais referências ao seu passado pobre, a popularidade de D2 instaurou um padrão de sonoridade contemporânea seguido por muitos aspirantes a pop star com marra de cão pelo Brasil afora. Verdade é que o cantor contou com sua própria inteligência e um pouco de sorte em meio às turbulências de mercado de discos no Brasil, às quais soube atravessar quase incólume, inclusive até ao desmantelamento definitivo de sua banda de origem, o Planet Hemp, em 2005.
Suas duas primeiras empreitadas solo, “Eu Tiro é Onda” (1998) e “A Procura da Batida Perfeita” (2003) foram importantes para a consolidação da marca “Marcelo D2”, no que diz respeito à sua credibilidade na disseminação de uma linguagem musical, carregada de elementos característicos das ruas do Grande Rio – mais até do que o caldeirão fervilhante de referências sonoras de sua antiga banda. (MARCUS MARÇAL)
Desta forma, prevalece o modo operante do cantor que, a cada disco novo, mexe sutilmente em sua fórmula de fazer rap. Assim não provoca maiores solavancos na receptividade de suas novas empreitadas, enquanto ganha fôlego para planejar sua próxima cartada.
Espécie de Zé Carioca de nosso cenário pop mainstream, D2 também tira proveito da repetição como ferramenta para consolidação de sua "marca" -- apesar de sua espontaneidade calculada já demonstrar certo cansaço, em âmbito criativo.
Rap popular brasileiro
Em “A Arte do Barulho”, você encontra menções a tradicionais elementos da música de D2. Mestre em fazer colagens diversas e sobrepô-las com suas rimas faladas, o cantor se notabilizou por fazer rap sobre bases instrumentais de clássicos esquecidos da MPB desde os primórdios de sua fase solo, marcada por forte apelo populista. Uma canção do Planet Hemp, “Contexto”, já indicava essa tendência em seu trabalho, ainda de forma incipiente, no disco “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” (1996).
Mas aqui D2 prossegue o caminho inaugurado em “A Procura da Batida Perfeita” (2003) e continuado discretamente no nebuloso “Meu Samba é Assim” (2006). Com produção de Mario Caldato, pré-produção de Mauro Berman e finalização a cargo de DJ Nuts, o rapper acelera o andamento de seu novo repertório, mas mantém a leveza de sempre ao pinçar fortes referências do universo carioca -- de seu querido Flamengo (N.R.: ô mau gosto) até às inestimáveis lições de vida aprendidas no subúrbio, durante a juventude.
Tendo sempre em vista a origem pobre, seu discurso populista retrata de forma leve e desencanada a realidade das periferias cariocas. Muitas vezes, o tom de suas mensagens é de quase auto-ajuda e incentivo aos menos favorecidos, não bastasse o rapper um forte baluarte de resistência cultural no Rio atualmente.
Celebração de um Rio idealizado que fica para trás
Lançando mão do legado da Pilantragem da MPB maldita do final dos anos 60, da qual Wilson Simonal (1939-2000) era rei, D2 celebra as coisas boas da vida como um malandro do bem. Apesar do clima de terror implantado pela tríade “polícia, traficantes & milícias”, o cantor celebra a faceta lúdica da história recente de um Rio de Janeiro que aparenta já ter ficado para trás, linchado pela crônica policial: a mulher de responsa, a diversão com os amigos e os baratos de seu dia-a-dia.
D2 conta com parceiros de modus vivendi como Seu Jorge, Roberta Sá, Mariana Aydar, Thalma de Freitas e a funkeira Zuzuca Poderosa. Todos deram particular contribuição ao disco, que conta até mesmo com colaboração de sua própria cria: seu filho Stephan Peixoto, o menino da canção “Loadendo” (2003), é parceiro na faixa “Atividade na Laje”, vale frisar.
Com as crônicas de seu cotidiano em formato de rap carregadas das tradicionais referências ao seu passado pobre, a popularidade de D2 instaurou um padrão de sonoridade contemporânea seguido por muitos aspirantes a pop star com marra de cão pelo Brasil afora. Verdade é que o cantor contou com sua própria inteligência e um pouco de sorte em meio às turbulências de mercado de discos no Brasil, às quais soube atravessar quase incólume, inclusive até ao desmantelamento definitivo de sua banda de origem, o Planet Hemp, em 2005.
Suas duas primeiras empreitadas solo, “Eu Tiro é Onda” (1998) e “A Procura da Batida Perfeita” (2003) foram importantes para a consolidação da marca “Marcelo D2”, no que diz respeito à sua credibilidade na disseminação de uma linguagem musical, carregada de elementos característicos das ruas do Grande Rio – mais até do que o caldeirão fervilhante de referências sonoras de sua antiga banda. (MARCUS MARÇAL)
Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br
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