DE ORELHADA XXXXVII: Novo Guns N’ Roses apela ao marketing negativo para indicar crise da indústria do disco
O lançamento do tão aguardado “Chinese Democracy”, primeiro disco de inéditas do grupo norte-americano Guns N’ Roses em 17 anos, atesta a falência dos antigos modelos mercadológicos da indústria fonográfica. O dono da banda, Axl Rose, parece não se incomodar muito com isso e novamente tira proveito do marketing negativo, pois tanto o título (“Democracia Chinesa”) quanto à própria capa do disco fazem alusão ao modo operante dos produtos piratas feitos na China: a arte fuleira, com destaque para uma bicicleta vagabunda, atenta propositalmente apenas a um “sinal dos tempos”, ao contrário da ostentação que se poderia esperar de uma banda de alguma forma ligada ao segmento hard rock.
Em seus tempos áureos, a representação visual do estilo era freqüentemente marcada por carrões, belas mulheres e artifícios do tipo. Mas em tempos do sucateamento do valor mercadológico do fonograma em tempos de uma pressuposta “revolução digital”, o lançamento de “Chinese Democracy” promove reflexões sobre o atual estado dos negócios da música.
Ostentação dá lugar à precariedade
Na ocasião do lançamento dos dois volumes de seu último disco de inéditas, “Use Your Illusion” (1991), o Guns N’ Roses contou com um aparato mercadológico sem precedentes: além do propiciado pela máquina promocional multinacional à serviço da banda, a imprensa noticiou largamente as imensas filas de jovens fãs que esperavam madrugada afora pela abertura das lojas no exterior na data em que o disco começaria a ser vendido, o que ocasionou ao grupo recorde de vendas na ocasião.
E assim como esse lançamento foi um dos melhores emblemas dos “velhos bons tempos”, com a indústria do disco deslumbrada com os picos de vendagem obtidos com o formato Compact Disc em seu apogeu enquanto suporte para música, “Chinese Democracy” retrata outro momento distinto deste mesmo nicho mercadológico. Desta vez, em vez de superar os patamares anteriores de vendagem, o disco foi “o mais ouvido na história” do portal MySpace, após ser liberado gratuitamente para audição na Internet há pouco mais de uma semana.
Seqüência ao hard rock noventista
Apesar do longo hiato sem disco de inéditas, “Chinese Democracy” é, musicalmente falando, um álbum que dá prosseguimento ao hard rock exuberante que a banda realizou na fase “Use Your Illusion” --segundo momento de sua carreira, no qual a gangue musical de vagabundos viciados deu lugar a uma formação megalomaníaca, marcada por egos inflados pelo sucesso, dinheiro e excessos de todo tipo.
A maior parte das músicas do disco novo lembram ao ouvinte a segunda fase do Guns N’ Roses (1991-1994), enquanto outras remetem ao híbrido de rock pesado e música eletrônica de meados dos anos 90 em diante, tais como “Shackler’s Revenge” e “Scraped”.
Canções memoráveis como “Better” e “Catcher In the Rye” acenam ao hard rock melódico setentista de um Aerosmith clássico ou mesmo soam aparentadas a material dos dois volumes “Use Your Illusion” -- caso da faixa-título, “Street of Dreams”, “This I Love”, “I.R.S.”, “Madagascar”, “Prostitute” e “Sorry” (com participação de Sebastian Bach, ex-Skid Row). Estas canções lembram o lado mais extravagante do Guns N Roses, de temas como “November Rain”, “Stranged” ou “Yesterdaze”, porém de forma mais comedida.
Mas nem tudo soa datado: ”If the World” tem acento latino e discreta orientação eletrônica. Soa distinta de qualquer coisa que o Guns N Roses tenha lançado até hoje, assim como “There Was A Time” e “Riad N' The Bedouins” – os melhores registros de novidade no som do grupo atualmente.
Novidades condizentes ao legado da banda
Longe de parecer um dinossauro decadente do rock’n roll, o Guns N’ Roses é atualmente apenas mais uma grande banda que lança disco de inéditas em um mercado morto-vivo regido por novo paradigma tecnológico. Portanto, ignore a unanimidade burra que tacha a formação atual do grupo como mero simulacro do que um dia foi -- não o é, pelo menos enquanto não tenta desastrosamente emular êxitos passados.
Liderado apenas por Axl, o Guns N’ Roses de “Chinese Democracy” atesta que a formação clássica do grupo só teria sentido se os músicos voltassem a fazer rock’n roll sujo e garageiro, como no final dos anos 80. E em se tratando de um dos principais nomes do rock, em termos mercadológicos, o repertório de 14 canções de “Chinese Democracy” cumpre bem sua função, pois acrescenta mais um ítem à discografia do grupo.
Portanto, deixe de lado o preconceito e esqueça as inúmeras piadas às quais este disco protagonizou. “Chinese Democracy” é um excelente trabalho, que atesta a seqüência natural ao que o Guns N’ Roses sinalizava em seus últimos volumes de inéditas. E além do mais, não tenha dúvidas de que este disco vai vender bastante -- mesmo que você não goste ou ser fã do grupo hoje seja demodê (MARCUS MARÇAL).
Em seus tempos áureos, a representação visual do estilo era freqüentemente marcada por carrões, belas mulheres e artifícios do tipo. Mas em tempos do sucateamento do valor mercadológico do fonograma em tempos de uma pressuposta “revolução digital”, o lançamento de “Chinese Democracy” promove reflexões sobre o atual estado dos negócios da música.
Ostentação dá lugar à precariedade
Na ocasião do lançamento dos dois volumes de seu último disco de inéditas, “Use Your Illusion” (1991), o Guns N’ Roses contou com um aparato mercadológico sem precedentes: além do propiciado pela máquina promocional multinacional à serviço da banda, a imprensa noticiou largamente as imensas filas de jovens fãs que esperavam madrugada afora pela abertura das lojas no exterior na data em que o disco começaria a ser vendido, o que ocasionou ao grupo recorde de vendas na ocasião.
E assim como esse lançamento foi um dos melhores emblemas dos “velhos bons tempos”, com a indústria do disco deslumbrada com os picos de vendagem obtidos com o formato Compact Disc em seu apogeu enquanto suporte para música, “Chinese Democracy” retrata outro momento distinto deste mesmo nicho mercadológico. Desta vez, em vez de superar os patamares anteriores de vendagem, o disco foi “o mais ouvido na história” do portal MySpace, após ser liberado gratuitamente para audição na Internet há pouco mais de uma semana.
Seqüência ao hard rock noventista
Apesar do longo hiato sem disco de inéditas, “Chinese Democracy” é, musicalmente falando, um álbum que dá prosseguimento ao hard rock exuberante que a banda realizou na fase “Use Your Illusion” --segundo momento de sua carreira, no qual a gangue musical de vagabundos viciados deu lugar a uma formação megalomaníaca, marcada por egos inflados pelo sucesso, dinheiro e excessos de todo tipo.
A maior parte das músicas do disco novo lembram ao ouvinte a segunda fase do Guns N’ Roses (1991-1994), enquanto outras remetem ao híbrido de rock pesado e música eletrônica de meados dos anos 90 em diante, tais como “Shackler’s Revenge” e “Scraped”.
Canções memoráveis como “Better” e “Catcher In the Rye” acenam ao hard rock melódico setentista de um Aerosmith clássico ou mesmo soam aparentadas a material dos dois volumes “Use Your Illusion” -- caso da faixa-título, “Street of Dreams”, “This I Love”, “I.R.S.”, “Madagascar”, “Prostitute” e “Sorry” (com participação de Sebastian Bach, ex-Skid Row). Estas canções lembram o lado mais extravagante do Guns N Roses, de temas como “November Rain”, “Stranged” ou “Yesterdaze”, porém de forma mais comedida.
Mas nem tudo soa datado: ”If the World” tem acento latino e discreta orientação eletrônica. Soa distinta de qualquer coisa que o Guns N Roses tenha lançado até hoje, assim como “There Was A Time” e “Riad N' The Bedouins” – os melhores registros de novidade no som do grupo atualmente.
Novidades condizentes ao legado da banda
Longe de parecer um dinossauro decadente do rock’n roll, o Guns N’ Roses é atualmente apenas mais uma grande banda que lança disco de inéditas em um mercado morto-vivo regido por novo paradigma tecnológico. Portanto, ignore a unanimidade burra que tacha a formação atual do grupo como mero simulacro do que um dia foi -- não o é, pelo menos enquanto não tenta desastrosamente emular êxitos passados.
Liderado apenas por Axl, o Guns N’ Roses de “Chinese Democracy” atesta que a formação clássica do grupo só teria sentido se os músicos voltassem a fazer rock’n roll sujo e garageiro, como no final dos anos 80. E em se tratando de um dos principais nomes do rock, em termos mercadológicos, o repertório de 14 canções de “Chinese Democracy” cumpre bem sua função, pois acrescenta mais um ítem à discografia do grupo.
Portanto, deixe de lado o preconceito e esqueça as inúmeras piadas às quais este disco protagonizou. “Chinese Democracy” é um excelente trabalho, que atesta a seqüência natural ao que o Guns N’ Roses sinalizava em seus últimos volumes de inéditas. E além do mais, não tenha dúvidas de que este disco vai vender bastante -- mesmo que você não goste ou ser fã do grupo hoje seja demodê (MARCUS MARÇAL).
Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br
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2 Comments:
muito legal o texto, ainda mais que a maioria das pessoas sempre tem tendência ou com predisposição de falar mal sem ouvir...
Valeu André!
Se bem que não posso falar muito a respeito, pois só ouvi o disco uma vez.
abraço
Marcus
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