O SOM DA MÚSICA: ENTREVISTÃO XXXIV: "É legal as pessoas conhecerem nossa música por causa do Nirvana", diz baterista do Melvins

Friday, October 24, 2008

ENTREVISTÃO XXXIV: "É legal as pessoas conhecerem nossa música por causa do Nirvana", diz baterista do Melvins

24/07/2008 - 15h33
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/07/24/ult89u9408.jhtm

O grupo norte-americano Melvins faz sua primeira apresentação no Brasil em 6 de setembro, no festival Orloff Five, no Via Funchal, em São Paulo. A banda liderada por Buzz Osbourne (guitarra e voz) e Dale Crover (bateria e vocais) é uma das atrações do evento, que também conta com apresentações das bandas The Hives (Suécia), Plasticines (França), Vanguart (Brasil) e DJ Tittsworth (EUA).

O Melvins é considerado um dos pioneiros do rock grunge dos anos 90 pela mistura da faceta grotesca do rock pesado do Black Sabbath com a cômica postura punk dos Stooges. Seus integrantes chegaram a ser uma espécie de tutores de Kurt Cobain, líder do Nirvana morto em 1994, quando este ainda tentava montar suas primeiras bandas de rock.

Criado em 1985, o grupo já lançou mais de 20 discos, em quantidade que seus próprios integrantes não sabem precisar devido a infinidade de EPs, álbuns em parcerias com outras bandas e outros artigos em diferentes formatos --não bastasse o Melvins ser um dos poucos grupos do grunge até hoje na ativa.

Nos intervalos de uma passagem de som para um apresentação na cidade de Bend, em Oregon (EUA), o baterista Dale Crover falou ao UOL na noite dessa quarta-feira (23) sobre o show no Brasil, grandes gravadoras e selos independentes, entre outros assuntos.

Leia abaixo a entrevista com Dale Crover, baterista do Melvins:

UOL - Quais são suas expectativas quanto ao show no Brasil? King Buzzo falou alguma coisa sobre a vinda dele ao país com o Fantômas em 2005?
DALE CROVER - Acho que será nossa experiência mais incrível em todos os tempos. Buzz comentou que os brasileiros são muito loucos, mas muito gente fina. Ele me disse que foi muito divertido. Apresentaremos algumas músicas de nosso novo álbum, "Nude With Boots" e material de nossos discos antigos. Sempre tocamos uma ampla variedade de músicas de diferentes épocas da banda.

O roteiro é de basicamente 16 canções e contém uma música de nosso primeiro álbum, temas de "Stag", material do disco "A Senile Animal" e coisas que ninguém nunca ouviu antes. Todos nós gostamos bastante de "Nude With Boots" porque é um álbum novinho em folha. Mas temos orgulho de todos os nossos discos, não temos qualquer tipo de arrependimento a respeito de qualquer um deles.

Com a entrada do baterista Coady Willys e do baixista Jarren Warren, nossa música está mais caótica atualmente. É uma espécie de caos controlado, se é que podemos ter algum controle sobre isso. Com Jarred na banda, agora temos dois vocalistas principais. E definitivamente exploramos um número maior de harmonias vocais em nossos dois últimos álbuns de estúdio.

UOL - Quantos álbuns o Melvins já lançou até hoje?
DALE CROVER - Eu também não faço idéia (risos)! Parei de contar por algum tempo, pois até para nós mesmos é difícil acompanhar. Podemos dizer que provavelmente há um álbum para cada ano que estamos na ativa, fora compilações, EPs, discos de sete polegadas, livros e todo tipo de coisas estranhas que você pode contabilizar ou não.

UOL - Ao contrário de várias bandas relacionadas ao grunge e a antiga gravadora Sub Pop, o Melvins praticamente ignorou o elemento pop na estrutura de suas músicas. Seria essa uma das razões para vocês estarem na ativa até hoje, lançando álbuns regularmente?
DALE CROVER - Não necessariamente, mas também não saberia dizer exatamente qual é a razão. Somos uma banda muito focada no trabalho duro e musicalmente somos muito motivados --Buzz especialmente. Ele não aprecia a idéia de parar de trabalhar e gosta de sempre seguir adiante, em vez de sentar e esperar... E realmente não podemos nos dar a esse luxo, o Melvins não é uma banda que vende milhões de discos. Até vendemos certa quantidade de discos a cada lançamento, mas precisamos continuar trabalhando para pagar as contas.

UOL - Como você destaca sua amizade e parceria musical de longa data com Buzz Osbourne?
DALE CROVER - Buzz é um cara muito focado, tem muita energia e, se não fosse ele, o Melvins não existiria. Também o considero um guitarrista, cantor e compositor muito subestimado. Acho que ele está no topo em seu campo de atuação, acima de todos os esquisitos. Seu trabalho é sub-apreciado, mas ele é a força principal da banda e é a razão principal de eu estar no Melvins, pois sua música é sempre desafiadora e, principalmente, muito divertida.

UOL - Grunge foi uma cena criada pela indústria musical ou foi algo real incorporado a um cenário idealizado?
DALE CROVER - Na verdade, o grunge foi uma coisa anterior que só aconteceu depois. Originalmente, o apelo daquela área em Seattle dizia respeito a algumas poucas bandas, que estavam enredadas em uma mesma cena musical, mas com diferentes estilos. Esse foi um dos apelos que me levaram a integrar uma banda, ao descobrir essa cena musical que não era conectada à indústria. Quero dizer, havia bandas com perfil quase country, assim como outras soavam brutalmente como heavy metal. Não sei como, mas as pessoas sempre dão um jeito de rotular essas coisas. Mas o que havia de interessante é que diferentes estilos se conectavam em uma coisa só e, de alguma, se perderam pelo caminho. Mas não acho que sejamos conectados às bandas que se tornaram populares e representaram essa categoria. Estávamos à margem disso e fazíamos nossa própria coisa. Mas como éramos daquela área e as bandas de nossos amigos sempre nos mencionavam, acabamos catálogos dentro do grunge, apesar de nunca realmente termos nos sentido parte disso.

Certamente, isso ajudou ao Melvins obter popularidade, então não é uma coisa ruim, pois as pessoas ainda descobrem as particularidades de nosso trabalho em relação ao grunge rock. E acontece até hoje de as pessoas nos conhecerem devido a Kurt Cobain, grunge e seu próprio interesse pela história da música. E isso é demais, pois também somos fãs de música e gostamos de descobrir as raízes musicais e de onde algumas coisas surgiram. É legal saber que os jovens se ligam na música, desejam saber mais sobre de onde ela vem e acabam conhecendo o Melvins. Para nós, isso é bacana, pois talvez sejamos a última daquelas bandas a se manter na ativa até hoje sem interrupção.

Não temos qualquer tipo de arrependimento, quanto a dinheiro ou venda de discos. A maioria daquelas bandas que alcançaram sucesso com o grunge sequer faz discos hoje em dia e nós continuamos. Só não tenho certeza sobre as razões disso.

UOL - Como foi trabalhar com Nirvana e Kurt Cobain, que foi o produtor de "Houdini" (1993)?
DALE CROVER - Não sei se, naquela época, ele tinha alguma noção do que fazia. Ele nos ajudou mais ou menos por algum tempo, mas, infelizmente, seu vício em drogas acabou com ele. Gravei umas demos com o Nirvana, quando eles batalhavam por um contrato e precisavam de um baterista. E eu sempre gostei de tocar com Kurt, nos divertimos bastante e é muito ruim pensar que a situação em que estava o levou à morte, pois não acredito que ele tenha realizado plenamente seu potencial musical -- e isso é algo que a maioria das pessoas sequer pensa a respeito. Sim, ele deixou algumas canções que muita gente gosta, mas provavelmente ainda conheceríamos material ainda melhor composto por ele. Mas isso, nós nunca veremos e ninguém poderá ter idéia do que ele estaria fazendo hoje em dia. Ele era fã de todo tipo de música, assim como nós, e gosto de pensar que poderíamos ter voltado a tocar música juntos em algum momento no futuro. Isso poderia ser infindável, mas infelizmente chegou a um fim. É uma história triste.

UOL - Melvins é a banda que melhor entendeu a faceta grotesca do Black Sabbath, uma de suas principais influências. Você concorda que o senso de humor original do grupo se perdeu no misticismo e demonologia geralmente relacionados ao heavy metal?
DALE CROVER - Sim, certamente. A maioria do pessoal do metal não tem o menor senso de humor. E de modo geral apreciamos o trabalho de bandas que tenham algum componente bem humorado em seu trabalho. Ontem mesmo assisti a um documentário sobre o Who e me dei conta que sempre me interesso por esse tipo de apelo. Pois apesar de serem músicos incríveis, eles não se levam tão a sério. Admiro essa postura. A maioria das bandas se leva a sério demais e não possui senso de humor, o que as torna cheias de si e enfadonhas.

UOL - Nos anos 90, o Melvins lançou três álbuns pela Atlantic Records, "Houdini" (1993), "Stoner Witch" (1994) e "Stag" (1996), que pouco diferem de seus lançamentos independentes. Como foi para uma banda atípica como o Melvins lançar discos por uma grande gravadora?
DALE CROVER - Ninguém ficou mais surpreso do que nós mesmos. Obviamente nosso contrato vigorou enquanto as bandas de Seattle eram populares na esteira do sucesso do Nirvana. Mas estarmos em um selo desse porte nos possibilitou um maior orçamento para a gravação e produção de nossos discos em estúdios bacanas. E temos bastante orgulho desses álbuns, apesar de "Stag" ser o meu preferido. Acredito que, mesmo nesses álbuns, exista um elemento pop que possivelmente tornaria uma de suas faixas um sucesso. No entanto, a maioria das pessoas --especialmente as que trabalham em grandes gravadoras-- teve de se esforçar bastante para entender o tipo de banda que somos. Essas pessoas gostam de categorizar as coisas relacionadas à música, mas não somos uma típica banda de heavy metal, punk ou pop --apesar desses elementos serem parte de nosso som. Nossas influências musicais são bastante amplas e todas essas referências estão incorporadas em nossa banda. Nunca nos restringimos a um tipo de música e não seria possível nos categorizar, pois temos nosso próprio estilo. Agora, que estilo é esse? Eu não faço idéia. É do Melvins (rindo)!

UOL - Desde a associação à gravadora Ipecap Recordings no final dos anos 90, o Melvins nunca lançou tantos discos. É a gravadora que melhor se conecta aos ideais artísticos da banda?
DALE CROVER - Acho que sim, pois o pessoal do selo trata as bandas de forma muito justa. Em se tratando de contrato assinado, eles têm o que melhor funciona para nós. Se fôssemos assinar com uma grande gravadora hoje em dia que tivesse interesse em nosso catálogo anterior, ela estaria licenciada a relançar o material, pois nós somos os detentores das gravações. Não quero dizer que isso é o que faríamos, pois gostamos do pessoal da Ipecap e eles fazem um bom trabalho com nosso material. Mas se o selo fosse comprado por uma gravadora maior, não haveria nada nosso a ser comprado, pois a Ipecap não detém gravação alguma nossa, apenas tem o direito de lançar nossos discos, então está tudo OK.

Outra coisa bacana é que o Melvins e o pessoal da Ipecap possuem o mesmo tipo de formação. A postura com que também trabalhamos desde o início está ligada ao punk rock e, em minha opinião, eles provavelmente entendem nossa banda melhor do que qualquer outro selo ao qual já estivemos associados.

Alguns selos independentes com quem trabalhamos também foram bacanas, mas não relançam nossos discos antigos. Um deles é a Boner Records, que lançou vários de nossos primeiros discos. Outro exemplo é do Amphetamine Reptile que, apesar de ainda estar no ramo de alguma forma, hoje não é hoje um selo, funcionalmente falando.

O pessoal da Ipecap Recordings é sensacional, não importa o que você faça. É uma relação de trabalho bastante confortável e não há muita gente que trabalha no selo. Assim, fica fácil ligarmos para saber como andam as coisas. Além do mais, não questionam a respeito de nada.

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