O SOM DA MÚSICA: ENTREVISTÃO XXXI: "Não nos confundam com a nostalgia do rock nacional, me dá asco", diz Dinho, do Capital Inicial

Friday, October 24, 2008

ENTREVISTÃO XXXI: "Não nos confundam com a nostalgia do rock nacional, me dá asco", diz Dinho, do Capital Inicial

11/07/2008 - 10h41
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/07/11/ult89u9343.jhtm

O grupo Capital Inicial lança neste mês o CD/DVD "Multishow ao Vivo", gravado ao vivo em 21 de abril deste ano, em grande evento que reuniu 200 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A capital federal é terra natal do quarteto formado atualmente por Dinho Ouro Preto (vocal) Yves Passarell (guitarra), Fê Lemos (bateria) e Flávio Lemos (baixo). O material chega às lojas pela Sony BMG e conta com 17 faixas na versão CD e 23 no DVD.

Este é o terceiro registro ao vivo da banda criada em 1982 pelos irmãos Fê e Flávio Lemos após o fim do Aborto Elétrico, grupo seminal da cena brasiliense do final dos anos 70 e início dos 80, liderado por um Renato Russo (1960-1996) ainda adolescente, antes de formar a Legião Urbana. Os demais discos ao vivo do grupo são "Capital Inicial ao Vivo" (1996) e "Acústico MTV: Capital Inicial" (2000), que renovou o público da banda após a reunião de sua formação clássica em 1998.

Segundo o vocalista Dinho Ouro Preto, o disco novo registra fielmente o Capital Inicial ao vivo, conforme falou ao UOL. "Conheço esses caras há 30 anos, tocamos juntos há 25 e hoje nossa convivência é mais tranqüila. Somos uma banda de estrada e fatalmente haveríamos de gravar disco ao vivo algum dia, pois não havia registro de nossas turnês. Então, quando nos consultaram para a gravação deste álbum no início do ano, concluímos que seria possível e era o momento ideal de fazê-lo. Documentamos uma apresentação em arena e, particularmente, gosto muito do perfil grandioso de um show de rock", declarou.

"Multishow ao Vivo" reúne material recente da banda e alguns de seus maiores sucessos, como "Independência", "Fogo" e temas do Aborto Elétrico, imprescindíveis em suas apresentações. "Esse foi o ponto-chave da gravação", afirmou Dinho sobre a mistura. "Demoramos a lançar material com este perfil, pois muitos de nossos contemporâneos lançavam trabalhos ao vivo com material antigo, o que evitávamos gravar, pois não queríamos ser confundidos com essa tendência nostálgica. Várias bandas e artistas participavam de tributos e isso me dava um certo asco, pois tenho 44 anos e ainda me considero muito jovem para homenagear a mim mesmo", declarou.

Com mais de 25 anos de carreira e mais de 12 álbuns lançados com o grupo, o cantor destacou a dificuldade na seleção do repertório para o disco. "O problema é que temos muitas músicas e não poderíamos usar todos os nossos sucessos, como 'Belos e Malditos' e 'Mickey Mouse em Moscou', que tiveram de sair do roteiro, entre outros. Foi difícil montar o repertório, e mesmo alguns singles de 98 para cá ficaram de fora. A idéia era só gravarmos músicas novas e apenas um bis com material antigo. Mas seríamos linchados se deixássemos de fora as canções imprescindíveis em nossos shows", explica.

Inéditas
Duas canções novas fazem parte do disco: "Passos Falsos" e "Dançando com a Lua". Segundo o cantor, a primeira foi composta ao violão e tem um bom riff de guitarra aos moldes de "A Sua Maneira", releitura de "De Musica Ligera", hit do grupo argentino Soda Stereo, e um dos sucessos recentes do grupo.

"Dançando com a Lua" teve o nome inspirado em "Dancing With Myself", hit de Billy Idol, e foi composta pelo vocalista em parceria com Alvin L. "É uma música que trata de um tema batido --abandono, desejo de extravasar-- de forma pouco ortodoxa", contou Ouro Preto. "Acho que é possível escrever sobre essas coisas sem ser banal e isso me lembra muito a minha adolescência quando eu pogava ou dançava até suar para esquecer os problemas, como uma forma de extravasar".

O vocalista afirma que, para se manter viva no decorrer dos anos, uma banda precisa de discos novos e platéias renovadas, se não passa a viver de nostalgia. E desde a volta, o Capital Inicial passa por uma fase bastante produtiva e já lançou quatro discos de inéditas: "Atrás dos Olhos" (1998), "Rosas e Vinho Tinto" (2002), "Gigante" (2004) e "Eu Nunca Disse Adeus" (2007). Também remontou ao punk rock de sua iniciação musical no disco "MTV Especial: Aborto Elétrico" (2005).

Segundo Ouro Preto, os lançamentos revigoraram a popularidade do Capital Inicial. "Nossos discos mais recentes estão diretamente relacionados a nossa longevidade. Um exemplo oposto a isso acontece com o pessoal da jovem guarda, que vive de nostalgia se comparado aos tropicalistas, que nunca deixaram de lançar material novo. E adotamos essa opção para a banda, pois nós continuamos a gravar discos. Assim, as músicas novas tocam no rádio, a molecada nos conhece e nosso público se renova", avalia.

Tributo ao rock de Brasília
Junto à Legião Urbana e Plebe Rude, o Capital Inicial foi uma das principais bandas do rock brasiliense oitentista. O início de carreira foi influenciado pelo punk, mas os registros da primeira fase da banda, até a saída de Dinho em 1993, sempre demonstraram forte ligação com a música pop. No entanto, diferentemente da maioria de seus contemporâneos, o auge de popularidade do grupo aconteceu somente após a reunião de sua formação clássica em 1998.

Em "Multishow ao Vivo" o grupo presta tributo ao rock de Brasília e homenageia nomes locais como Aborto Elétrico, Legião Urbana, Cássia Eller e Raimundos, com releituras de canções como "Fátima", "Música Urbana", "Por Enquanto", "Mulher de Fases", entre outras.

Para o cantor, essa foi a principal razão do disco ter sido gravado em Brasília. "Em relação aos covers, optamos por fazer um tributo à cidade e por isso o disco foi gravado lá. A cidade tem suas peculiaridades e isso se refletiu nas sonoridades das bandas locais. Isso nos ficou muito evidente nos primeiros shows do Capital Inicial em outros estados. Por exemplo, a cena paulista era muito fragmentada em várias dissidências, mas havia unidade na cena brasiliense. Éramos amigos, todo mundo tocava junto e essa unidade é característica do rock de Brasília. Guardadas as devidas proporções, o rock de Brasília é o equivalente da Tropicália na Bahia e do Clube da Esquina em Minas, no sentido da representatividade de uma cidade ou lugar", avaliou.

Para Ouro Preto, o público atual do Capital Inicial é formado por jovens que conheceram a banda em seus discos mais recentes. "O Capital Inicial se mantém fiel ao que faz e a conseqüência disso é a renovação de nosso público. Uma vez criada uma identidade, é mais digno você ser fiel a si mesmo do que propriamente embarcar em modismos. E o Capital Inicial se manteve fiel a sua simplicidade, com letras despretensiosas e de fácil compreensão. Somos fiéis a nossa identidade e temos noção de que nossa platéia muda, pois sempre se renova", afirmou.

Dinho Ouro Preto ficou de fora do Capital entre 1993 e 98, quando foi substituído pelo cantor Murilo Lima, e por isso prefere não comparar o novo disco com "Capital Inicial ao Vivo" (1996). "Como não participei do disco, não sou a pessoa mais adequada a falar a respeito, mas considero que o Capital Inicial estava descaracterizado ali. O grunge nos tirou do eixo e não foi à toa que nos separamos nos anos 80, pois acabamos por nos tornar o 'inimigo' que tanto criticávamos na juventude."

Apesar disso, o cantor reconhece a importância de sua saída para o sucesso da banda após a reunião o final dos 90. "Acho que foi bom passarmos por essa pausa, pois eu lancei discos independentes e o Capital Inicial tentou ser mais pesado do que nunca. Esse hiato nos ajudou a entender qual era a identidade da banda e corrigimos nossos desvios de rota quando voltamos a tocar juntos", avaliou.

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