O SOM DA MÚSICA: ENTREVISTÃO XXVIII: Max Cavalera diz que sua nova banda com Iggor serve para exorcizar demônios

Friday, October 24, 2008

ENTREVISTÃO XXVIII: Max Cavalera diz que sua nova banda com Iggor serve para exorcizar demônios

20/05/2008 - 16h43
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/05/20/ult89u9074.jhtm

Os irmãos Max e Iggor voltam a tocar juntos profissionalmente com seu novo projeto musical: Cavalera Conspiracy. Os dois se notabilizaram por seus trabalhos com o Sepultura, um dos maiores representantes da música brasileira contemporânea no exterior, e não tocavam juntos publicamente desde dezembro de 1996 -- quando desavenças de ordem profissional junto a Gloria Cavalera, então empresária do Sepultura e mulher de Max, ocasionou a saída do irmão mais velho da antiga banda e um gradativo distanciamento entre eles.

Depois disso, o Sepultura seguiu em frente com novo vocalista, Derrick Green, e Max montou o Soulfly, banda mais voltada à mistura de metal e hardcore, com pitadas de música étnica de diferentes lugares no mundo -- inaugurando um sub-gênero de rock pesado: o world metal, em referência à world music.

Com o Sepultura, Max gravou álbuns clássicos do metal oitentista nacional como "Morbid Visions" (1986) e "Schizophrenia" (1987). Sua linguagem musical evoluiu com a carrreira internacional, chegando à vanguarda do rock pesado com os álbuns "Chaos A.D." (1993) e "Roots" (1996).

Em âmbito musical, a paz entre Max e Iggor se consolidou publicamente em agosto de 2007, ocasião em que o baterista se juntou ao Soulfly no tributo D-Low Memorial, organizado em homenagem a Dana Wells, enteado de Max morto em 1996. Agora o Cavalera Conspiracy se prepara para uma turnê mundial que começa no continente europeu no final deste mês e pode chegar ao Brasil ainda em 2008.

De Phoenix, nos EUA, Max falou ao UOL sobre seu trabalho com CC e da satisfação de voltar a tocar com o irmão depois de mais de dez anos. "Hoje nossa relação é muito boa: nos telefonamos sempre para conversar. Agora a única coisa que falta é fazermos show no Brasil", declarou. Entre outros assuntos, também falou do novo álbum do Soulfly, "Conquer", que será lançado até o fim do ano e, durante a entrevista, Max deixou claro que continua intacto o discurso curto e grosso com o qual se tornou um dos líderes de banda mais carismáticos da história do rock no Brasil.

UOL - Você e Iggor eram a base do som do Sepultura. Como foi voltar a tocar com ele depois de mais de 10 anos?
MAX CAVALERA - Foi legal pra caramba! Tanto é que na próxima semana começaremos uma grande turnê pelo mundo inteiro. Fazer som com o Iggor é uma coisa que vem desde os primórdios, da nossa infância mesmo --pois antes mesmo de começarmos a tocar, nós já pensávamos em fazer uma banda. Foram difíceis os anos em que passamos separados e não queríamos isso, mas aconteceu e agora é bola pra frente. O mais importante é que retomamos a amizade e a irmandade. Hoje nossa relação é muito boa: nos telefonamos sempre para conversar. Agora a única coisa que falta é fazermos show no Brasil -- o que eu espero que role até o final do ano. Tocar com o Soulfly foi legal, mas acho que, principalmente, voltar a tocar com o Iggor no Cavalera Conspiracy é mais legal ainda. Temos uma longa história desde que começamos a tocar e o Sepultura foi uma das primeiras bandas brasileiras a fazer sucesso no mundo inteiro. Então vai ser demais eu e Iggor tocarmos juntos no Brasil. Não vejo a hora! Até mesmo aqui nos EUA e na Europa, muita gente não nos viu tocando juntos porque parte de nossos fãs é formada por gente muito nova ou então é aquela coisa de o pai ter visto, mas o filho não --mas às vezes acontece de três gerações irem ver meu show. E tem muita gente falando nessa turnê, mesmo porque a ansiedade é maior porque nos apresentaremos juntos. Acho que vai ser legal pra caramba, pois nós tocaremos o CD inteiro, além de alguns clássicos do Sepultura

UOL - Quais são as semelhanças e diferenças entre os projetos com os quais você já trabalhou: Sepultura, Nailbomb, Soulfly e Cavalera Conspiracy?
MAX CAVALERA - A meu ver eles são diferentes, pois o Nailbomb rolou em uma época em que eu escutava bastante Fudge Tunnel e umas barulheiras de rock industrial --razão de eu ter criado o projeto. E o Cavalera Conspiracy é diferente também, pois a minha idéia era trazer aquela parte mais danada da nossa música. Acho o "Roots" fora de série, mas não tem nada a ver copiar o disco e nem ficaria legal, pois é um trabalho impossível de se copiar. Então quis fazer uma coisa que fosse legal para mim e para o Iggor, por ser um regresso àquela época de death e thrash metal do "Arise" e até mesmo do Nailbomb, com aquela mistura de metal e hardcore. Já o Cavalera Conspiracy em disco combina perfeitamente metal e punk - que são os gêneros que nós quatro ouvimos mais. E para mim foi legal essa idéia de se fazer um CD mais nessa área mesmo: agressivo, pesado, rápido - e acho que o Iggor também gostou. Ele tocou pra caramba e nem esperava que fossem rolar tantas músicas rápidas, mas acabei convencendo-o no final. Continuo a fazer minhas experiências com metal, que estão presentes até mesmo no novo álbum do Soulfly, que foi gravado no Egito e será lançado no fim do ano. Mas eu fiz mesmo um regresso: começou no "Prophecy" e "Dark Ages" (álbuns do Soulfly de 2004 e 2005, respectivamente) e continua com Cavalera Conspiracy e o Soulfly novo, que se chamará "Conquer". Tudo é voltado a um som mais porrada e pesado, o tipo de música que escuto mesmo no meu dia-a-dia. Eu fico mais velho, mas cada vez mais eu escuto som porrada. O meu tesão na música está aí mesmo, não é nesses lances de moda e de coisas que rolam aqui nos EUA. Simplesmente eu segui meu caminho e, se você pensar direito, vai ver que não é tão diferente do que já fazia na época do Sepultura. Quando estávamos fazendo o "Chaos A.D." era o auge do grunge, o "Arise" (1991) foi no auge do glam metal do Guns N'Roses e o Sepultura sempre continuou à margem e fazendo seu próprio som. E eu gosto de tocar rápido, gosto de gritar e fazer barulho.

UOL - Chegou a ser noticiado que a banda se chamaria "Inflikted". Que tipo de problemas vocês tiveram com o nome da banda?
MAX CAVALERA - Não chegamos a ter problema, quisemos justamente evitá-lo. Daí nem chegamos a batizar a banda. No começo, só havia a idéia da música "Inflikted" e aí falei com o Iggor para chamarmos a banda com esse nome, pois era legal e diferente. Mas ao fazermos uma pesquisa pela Internet, descobrimos muita coisa com esse nome. Existem website, banda e gravadora e, para evitarmos qualquer dor de cabeça, resolvemos escolher outro nome. Aí pensei em outra sugestão que foi o Cavalera Conspiracy. Foi legal pra caramba, o Iggor gostou e acho que tem mais a ver com um projeto nosso. E aí o nome do disco acabou sendo "Inflikted", pois gosto muito do nome, então é mais ou menos as duas coisas.

UOL - As músicas do "Inflikted" poderiam ser resumidas em torno de algum conceito?
MAX CAVALERA - Não tem muito, não! É um pouco diferente do que eu faço no Soulfly, pois as letras são mais loucas, mais suicidas, baseadas em filmes como "Apocalypse Now" e até mesmo coisas do cinema nacional como "Cidade de Deus" ou "Tropa de Elite", coisas desse tipo. Tem um lado disso aí nas coisas mais pesadas. "Nevertrust" tem uma frase que fala mal do Fall Out Boy e dos garotos emo norte-americanos (risos), da mesma forma que fiz no Soulfly, zoando com o Hootie and the Blowfish. Acho que é legal, no lado mais punk da banda. O Iggor gostou pra caramba, falou do encaixe de vocais feito de forma rápida e percussiva. Por isso eu reafirmo que muito é legal voltar a trabalhar com ele, pois era uma coisa que não fazíamos há muito tempo. Acho o Iggor um baterista fora de série e vice-versa, pois ele também disse que se amarra nos meus riffs e letras. Foi até parecido com um lance que rolou aqui nos EUA com esse filme que ganhou o Oscar, o "No Country For Old Men", que foi feito por dois cineastas norte-americanos que também são irmãos. E eles trabalham dessa forma, um elogiando o outro o tempo inteiro e assim fazem a coisa juntos. Eu e o Iggor fazendo o disco foi assim mesmo: com bastante elogio, raça e tesão para fazer um disco muito bom. E é um álbum único pois, por mais que eu tente fazer um nos mesmos moldes, ele não vai sair desse jeito.

UOL - O Cavalera Conspiracy é uma banda de um só disco ou mesmo o Iggor pode ser incorporado ao Soulfly, pois você já trocou várias vezes de baterista na trajetória com a banda?
MAX CAVALERA - Com o Soulfly acho que não, pois não tem muito a ver. Nós temos trajetórias diferentes. Com o Conspiracy eu acho que tem jeito, sim. Seria legal, mas não planejamos nada ainda e isso é bacana, pois as coisas acontecem uma de cada vez e não temos planos muito grandes atrás. Fizemos o disco, acabou! Legal, e agora o que vamos fazer? Vamos fazer um vídeo? Então fizemos um vídeo lá na França. Depois foi a vez de fazer uma turnê e, quando acabarmos com a excursão, veremos o que fazer: se seria legal fazer logo outro disco ou dar um tempo maior. Não sabemos ainda, faremos o que nos der na telha. Mas para mim é ótimo tocar com o Cavalera Conspiracy para exorcizar uns demônios (rindo), aqueles que não saem no Soulfly.

UOL - O que você destaca no novo álbum do Soulfly: "Conquer"?
MAX CAVALERA - Ainda temos bastante tempo até o disco ser lançado. O álbum foi finalizado na semana passada e estou bastante empolgado. Gravei em Cali com músicos locais, mas na parte do metal eu estou cada vez mais pesado e agressivo desde o "Prophecy" (2004) - o que acho mais legal e interessante de fazer. Além de ser menos ligado a modismo, mesmo porque aqui nos EUA ainda rola aquela coisa tipo Limp Biskit, pois pegaram a moda depois. No início até foi legal quando o Sepultura estava gravando e havia aquelas bandas como o Deftones, mas depois a coisa ficou muito ruim por aqui porque ficou um lance muito ligado à moda mesmo e bandas sem atitude. Então ficou uma coisa da qual eu quis largar a mão, essa parada do nü-metal ou sei lá como eles chamam. O disco foi influenciado pelo Cavalera Conspiracy e foi parecido um pouco com a época em que fiz o "Pointblank" (1994), do Nailbomb, e o "Chaos A.D." (1993) juntos. Pois um disco acabou influenciando o outro de uma maneira legal. Então estou bastante orgulhoso de ter feito dois discos em um ano só. E não prometo fazer isso muitas vezes porque é muita loucura e dor de cabeça. De repente a cada dez anos vale a pena fazer dois discos em um só ano (risos). Eu nem sou muito de elogiar o Soulfly e os mais chegados até sabem que às vezes eu mesmo até falo mal da banda. O Soulfly é uma coisa mais largada, deixo rolar e não implico muito. Mas tem gente que gosta e acho que o novo álbum é um trabalho mais legal que o "Dark Ages". Tem um som melhor porque estamos tocando melhor. O guitarrista, Marc Rizzo, cada vez me impressiona mais. Ele é bastante técnico, mas sem exagerar. E tem música no disco que não tem nem solo de guitarra, pois falei com ele para fazermos uns ruídos diferentes, uns barulhos de avião como faz o cara do Rage Against the Machine. Ele achou legal a idéia e acho que vai ser bom para nós, pois muito solo também enche o saco. Então falei para ele não encher lingüiça (rindo).

UOL - A mídia brasileira deu o devido destaque ao seu trabalho com o Soulfly?
MAX CAVALERA - O Soulfly foi um lance que demorou para nós mesmos nos acostumarmos. E é aquilo: quem entendeu, OK! Mas quem não entendeu, nunca vai entender. O Soulfly é uma banda que tem bastante fãs no mundo inteiro. Tem gente que é até mais fanático por essa banda do que qualquer outra coisa que eu já fiz. Mas é uma coisa que eu entendo pois, desde o início, sabia que não seria uma coisa que as pessoas iriam gostar logo de cara - principalmente saindo depois de um álbum como o "Roots". Foi uma época difícil. Mas o Soulfly é uma banda guerreira e vitoriosa, pois seguiu por caminhos bem difíceis e passou por cima. E estamos no sexto disco, uma coisa que sequer imaginei que chegaria a fazer com o Soulfly --ainda mais em um ano em que fiz dois discos. Se você me falasse há quatro anos que eu faria dois discos em um ano e que um deles seria com o Iggor, eu não acreditaria. Então foi legal, pois 2007 e 2008 estão sendo anos bem legais para mim em termos de música.

UOL - De sua parte, uma volta do Sepultura no momento ainda é uma coisa muito utópica? Existe essa possibilidade?
MAX CAVALERA - Eu acho que até rola, mas não agora, pois seria a pior hora de pensarmos em uma reunião, pois o disco do Cavalera Conspiracy acabou de sair. Mas todo mundo sabe que eu sempre fui a fim de fazer a reunião e que ela contasse até mesmo com outros membros, como o Jairo Guedz, nosso guitarrista das antigas. Vamos ver o que rola, mas não vai ser este ano -- talvez em 2009 ou nos próximos anos. Mas não vou garantir nada porque não quero colocar meu nome na roda. Então eu deixo livre. Se rolar, OK. Vai ser demais! Mas se não rolar é porque não era pra ser.

Então estou deixando para ver o que acontece. Eu não me encontro mais com os outros caras, não conversamos, mas também não temos mais treta ou raiva. É uma coisa assim à parte. Hoje em dia eu sou bem pacifista mesmo, não quero treta com muita gente e quero apenas fazer o meu som. Quero fazer o que eu adoro e não tenho tempo pra brigar com gente assim, pois é uma perda de tempo. E essa reunião com o Iggor foi muito legal porque muita gente não achou que fosse acontecer e isso dá a todos um pouco mais de esperança em relação a possibilidade de uma reunião do Sepultura - se rolar. Mas é impossível eu dizer hoje se vai acontecer.

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