O SOM DA MÚSICA: ENTREVISTÃO XVII: Ícone do hardcore, Bad Brains toca no Brasil pela primeira vez

Friday, October 24, 2008

ENTREVISTÃO XVII: Ícone do hardcore, Bad Brains toca no Brasil pela primeira vez

01/04/2008 - 22h52
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/04/01/ult89u8821.jhtm

Um dos principais nomes da cena de hardcore norte-americana oitentista, o grupo Bad Brains promove seu mais recente álbum de inéditas, "Build a Nation" (2007), em sua primeira excursão pelo Brasil em abril. Sua atual formação é Dr. Know (guitarra), Darryl Aaron Jennifer (baixo), Earl Hudson (bateria) e Israel Joseph-I.(voz), que já fez parte da banda nos anos 90, em substituição ao "excêntrico" vocalista H.R., radical em sua postura rastafári. O quarteto se apresenta em São Paulo (9), em Recife (11) e Rio de Janeiro (12).

O grupo foi criado em 1979 e seu trabalho mistura filosofia rastafári com a fúria do punk rock. Junto a bandas contemporâneas como Black Flag, Dead Kennedys e Minor Threat, o BB criou uma escola de rock alternativo, em termos de independência e ideias artísticos. Lançou álbuns clássicos do gênero como "Rock For Light" (1983) e "I Against I" (1986), entre outros, mas só obteve maior êxito comercial com o álbum "Rise" (1993), no embalo do funk metal do início dos 90, do qual foi uma das maiores referências. Isso porque o Bad Brains influenciou uma geração de fãs que posteriormente formaram bandas de sucesso como Red Hot Chili Peppers, Rage Against the Machine, Living Colour, Sepultura, Beastie Boys, Moby, System of a Down, entre outros.

Em entrevista ao UOL, o baixista Darryl Jennifer comentou sobre a turnê brasileira. "Vamos mostrar ao Brasil a festa punk reggae que Bob Marley mencionava em suas canções". E destacou que o repertório dos shows contará com temas como "Attitude", "Right Brigade", "Sailin' On", "Destroy Babylon", "Expand your Soul", "Don't Bother Me", "Sacred Love", "At the Movies", "Banned In D.C.", "Pay To Cum" e "I Against I", entre outros clássicos. O músico também falou sobre a inspiração rastafári para grande parte dos temas do grupo. "Esta filosofia apresentou-nos a nós mesmos e nos propiciou dignidade e valores próprios, pois a diáspora africana se disseminou por todo o mundo. E esta cultura nos mostrou que, em Washington D.C., no coração da Babilônia, jovens negros podem louvar a um deus de seu próprio círculo", declarou.

UOL - Como será a primeira turnê do Bad Brains no Brasil?
DARRYL JENNIFER: Vocês podem esperar a chegada de indivíduos realmente envolvidos em uma irmandade, que vão mostrar como fazemos punk e hardcore aqui em Washington D.C.. Vamos mostrar ao Brasil a festa punk reggae que Bob Marley mencionava em suas canções. Somos uma manifestação viva disso. Apresentaremos desde material antigo, pois, quando chegarmos ao palco, queremos que vocês tenham contato diretamente com o que fazíamos nos primórdios. E nós temos a seção rítmica original.

UOL - O vocalista H.R. participou de "Build a Nation". Por que ele não vem ao Brasil junto à banda?
DARRYL JENNIFER: Não poderemos trazer H.R., pois ele está fora de si e vocês não apreciariam isso. Queremos que o Brasil saiba como fazíamos no início da banda. E quem achar que o grupo não é o Bad Brains sem H.R. pode ficar em casa. Estamos animados com a possibilidade de nos apresentarmos na América do Sul e representaremos, em nome de Jah, tudo aquilo que vocês ouviram falar de nós. Isso mantém nossa música viva e faz as coisas andarem. Mas com o passar dos anos, H.R. não estava mais apto para administrar a força do Bad Brains, nosso exercício de vibrações positivas. Para nós, era um sacrifício. Ele pode até voltar a estar em condições para voltar a fazê-lo algum dia, mas não queremos nos arriscar viajar até a América do Sul só para constatar que H.R. não está apto a fazer shows. Não há mistério algum sobre essa situação em nossa carreira. H.R. é um camarada altamente excêntrico. E eu, Dr. Know e Earl não somos apenas excêntricos, pois importante é o profissionalismo em nossa missão. H.R. estava conosco, mas, de alguma forma, no decorrer da jornada, ele debilitou-se física e mentalmente. Com o passar dos anos, o Bad Brains se tornou como a Wu-Tang: nós temos uma família e as pessoas nos seguem. Então nós convocamos Israel Joseph I., que já gravou discos conosco e participa de nossa tribo há mais de 20 anos. Eu sei que as pessoas gostariam de ver H.R. no Bad Brains. Até podemos trazê-lo, mas ele não fará aquilo que todos esperam dele.

UOL - Qual é a melhor lição do Bad Brains para as novas gerações de fãs de hardcore, em termos de ética e liberdade artística?
DARRYL JENNIFER: Primeiramente há o grande espírito da humanidade. Não diria Jah, Alah ou Deus, eu prefiro mencionar o "Grande Espírito", por uma questão de neutralidade. Todos nós somos partes desse mesmo espírito. Alguns de nós são carpinteiros, outros têm dons para trabalhar com números, líderes ou seguidores. Agora, os artistas ou músicos têm a missão de levar adiante a linguagem musical e experimentar a extensão das vibrações positivas que o grande espírito nos proporcionou com arte e música. Não me refiro ao aspecto religioso que, como já disse, também é importante. Religião é sobre dinheiro e um monte de besteiras. Refiro-me às conexões espirituais entre as pessoas no soprar da vida. Se você é um artista espiritualmente inclinado a isso, seu dever é evoluir sua arte e assim vivem os integrantes do Bad Brains. Recebemos um chamado para nos tornarmos artistas e músicos. Não somos artistas de teatro de variedades que dançam e cantam, temos uma missão quanto à nossa música. Nossa mensagem é paz na Terra, atitude mental positiva, amar o grande espírito e ter uma existência simples. E isso não envolve políticos! Nossa afirmação política é atitude mental positiva em nome de Jah. Queremos fazer parte da mente superior no ventre da negatividade, pois é aí onde todas as fronteiras são suprimidas --e não em questões de Estado, presidentes, etc. É uma batalha cósmica e terrena entre o bem e o mal.

UOL - Qual é a relação do Bad Brains com bandas influentes de hardcore norte-americana dos anos 80 como Black Flag, Dead Kennedys e Minor Threat?
DARRYL JENNIFER: Fazíamos as coisas junto ao pessoal do Black Flag, Dead Kennedys, The Damned e The Ramones. Alguns se motivavam por questões políticas, como protestar contra a presidência de Ronald Reagan, enquanto outros pela essência da batalha revolucionária na arte. Alguns caras possuem não uma posição política tradicional, mas sim um senso artístico revolucionário --bandas como James Chance and the Contortions, Black Flag e D.N.A. Estávamos sempre juntos, éramos amigos e aquela foi a nossa era. Apresentávamos músicas novas uns para os outros. Vivíamos juntos com o pessoal do Minor Threat, desenvolvemos nossos estilos, fazíamos refeições juntos, e esta era a nossa comunidade. As pessoas costumam se referir à cena, mas não era somente isso. Cena é uma designação melhor para tudo aquilo que é falso. Quando chegaram os anos 80, nós aparecemos junto ao grupo Teen Idles, a comunidade de Washington e aquilo que chamavam de punk progressivo ou hardcore. Mas éramos apenas uma família! Esta é a melhor descrição para a cena toda, não havia competição a respeito de quem era maior ou menor. E a mesma coisa havia acontecido na Inglaterra com os Sex Pistols, Don Letts, o Clash, The Jam, The Damned, pois éramos o público uns dos outros. O vocalista do Black Flag Henry Rollins foi meu roadie e a primeira pessoa que me fez sentir como um artista legítimo, pois apreciava minha música a ponto de carregar meu equipamento.

UOL - O cenário underground oitentista norte-americano promoveu a verdadeira revolução do rock, em vez da cena grunge?
DARRYL JENNIFER: Nos anos 90, as pessoas declaravam que eram nossos fãs. Dave Grohl (ex-Nirvana) é de Washington D.C.. Em geral, foi uma cena musicalmente muito sofisticada, como uma nova onda, com um senso sofisticado de punk e hardcore. O punk em Seattle provinha de uma cultura diferente. Em Washington havia o pessoal do straight-edge interessado em evolução. Nos EUA, de acordo com as regiões, há diferentes níveis de abuso de drogas e em nossa comunidade isso não era item necessário para se fazer rock. A cena underground hoje é como qualquer outra coisa. Não precisamos ir lá fora para descobrir o que estava acontecendo. O que vivia nos subterrâneos agora está por cima. Mas não lidamos com questões temporais, apenas vivemos nossas vidas e não importa aonde vamos.

UOL - Como é para a bandas ter como fãs assumidos integrantes de bandas de sucesso como Red Hot Chili Peppers, Rage Against the Machine, Living Colour, Sepultura, Beastie Boys, Moby, System of a Down?
DARRYL JENNIFER: O grande espírito trabalha por caminhos misteriosos e o Bad Brains foi usado como um veículo para a propagação de sua mensagem -- não importa sua cor, origem ou poder aquisitivo. Você é capaz de criar qualquer música que o grande espírito colocou na paleta criativa da vida. E isso não é nada que criemos ou pré-concebemos, somos apenas a embarcação para isso. Não é minha intenção soar como um evangelista ou fanático religioso, eu me refiro ao fato de que todos os louvores dizem respeito ao grande espírito. E não ganho crédito ao afirmar isso. Meu único mérito é pedir a força necessária para perseverar na transmissão dessa mensagem, sempre que vou dormir. E talvez seja difícil para algumas pessoas entenderem isso, pois não acreditam no grande espírito. A meu ver, Chili Peppers, Beastie Boys ou Bad Brains são pequenas partes de uma coisa maior. Cada um ensina ao outro no intercâmbio de idéias. Não há mistério nisso, se seu coração e sua mente estão abertos. Poderia me gabar de todas as grandes bandas dos anos 80 influenciadas por nós, mas há coisas em nossas canções que mal poderia falar da origem.

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