O SOM DA MÚSICA: ENTREVISTÃO XIII: "Morrerei sendo transgressor", diz Ney Matogrosso; leia entrevista

Friday, October 24, 2008

ENTREVISTÃO XIII: "Morrerei sendo transgressor", diz Ney Matogrosso; leia entrevista

25/03/2008 - 22h22
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/03/25/ult89u8764.jhtm

Ney Matogrosso inicia temporada no Citibank Hall, em São Paulo, para promover o álbum "Inclassificáveis", que chega às lojas nesta sexta-feira (28). Das apresentações inicialmente agendadas de 28 a 30 de março, o cantor estendeu a temporada para de 3 a 5 de abril, devido à procura por ingressos.

Em entrevista ao UOL, o cantor discorreu sobre seus 35 anos de carreira e declarou que sempre foi transgressor e morrerá assim. Matogrosso sempre manteve uma postura anárquica nos palcos desde o início de carreira e comentou a respeito: "Gostaria que as pessoas se manifestassem independentemente do ambiente dos shows. Mostro às pessoas que é possível existir de uma maneira diferente de 99% da população - que um pensamento diferente pode se manifestar no mundo", disse.

No repertório do show, Ney Matogrosso interpreta temas como "O Tempo Não Pára" (Cazuza), "Divino e Maravilhoso" (Caetano Veloso), "Um Pouco de Calor" (Dan Nakawaga), "Ouça-me" (Itamar Assumpção) e a faixa-título, entre outros.

A direção musical do espetáculo de aproximadamente hora e meia é assinada por Emilio Carreira, ex-integrante do grupo Secos e Molhados, que também toca piano e teclado. Sua banda ainda é formada por Carlinhos Noronha (baixo), Júnior Meirelles (guitarra e violão), Sérgio Machado (bateria), DJ Tubarão (percussão e toca-discos) e Felipe Roseno (percussão). O estilista Ocimar Versolato foi responsável pelo figurino e Milton Cunha assina a cenografia.

UOL - Como você define o álbum "Inclassificáveis"?
NEY MATOGROSSO: Eu gosto muito dele, acho diferente dos que já fiz até agora. Estou com uma banda nova e gosto muito do resultado. Consegui um repertório e formar uma história interessante para o disco, que é um resumo do repertório do show.

UOL - "Inclassificáveis" é marcado pelo pop-rock. O show é uma espécie de divisor de águas na sua carreira, ao promover conexões com seus primórdios, mas sem deixar de ser atual?
NEY MATOGROSSO: Só não concordo que ele remeta aos Secos e Molhados, pois já desenvolvi outros trabalhos voltados ao pop-rock. Em nenhum momento, eu tive isso em mente. Acho que isso acontece devido à participação do Emílio, mas eu não fui atrás dele com esse intuito. Um trabalho como esse me permite uma atitude mais enfática. Quando eu faço um recital com quatro violões, naturalmente preciso me mostrar mais contido. E eu tenho muito mais liberdade de ação, quando é um trabalho com uma banda e um repertório como esses. Estamos vivendo o momento presente e minha conexão é com o agora. Não renego o que já fiz, mas não tenho saudade. E meu trabalho naturalmente representa o presente.

UOL - O roteiro do espetáculo foi moldado durante a turnê?
NEY MATOGROSSO: É impossível começar um trabalho com certezas absolutas, sem passar pelo crivo do público. O que determina as mudanças é o funcionamento das coisas. Vi que o show estava muito extenso e cortei músicas, trocas de acessórios, para deixar o show enxuto. Isso só aconteceu no último show na última temporada em São Paulo.

UOL - Fale um pouco sobre o apelo visual de álbum e show.
NEY MATOGROSSO: Sempre me preocupo muito com isso, mas em "Inclassificáveis" eu particularmente dei uma atenção maior a isso. Meu interesse foi fazer um trabalho com um aspecto visual muito bem colocado. Fiz as fotos em estúdio, com iluminação de show, mas no DVD optei por enfatizar minha movimentação no palco. O álbum ao vivo é uma segunda etapa. Quando eu entrei em estúdio, o show já estava pronto. Então gostei de manter esse arquétipo, que se multiplica durante as apresentações ao vivo. E posso dizer o que me inspirou a chegar aí, mas se trata de uma reprodução. Eu vi um documentário sobre os incas e, em certo trecho, dizia-se que, durante cerimônias no Lago Titicaca, os imperadores incas ficavam nus e passavam ouro em pó no corpo e mergulhavam no lago a fim de que o ouro pudesse voltar para os deuses. Achei essa história engraçada e a partir daí desenvolvemos o figurino. Conversei com Ocimar e elaboramos essas idéias.

UOL - Como se deu a escolha das músicas?
NEY MATOGROSSO: Gosto muito de fazer roteiro e o show possui uma espinha dorsal nas músicas "O Tempo Não Pára", "Mal Necessário", "Ode Aos Ratos", "Inclassificáveis" e "Divino Maravilhoso". Essas canções sustentam toda a história, com uma abordagem muito específica. E nos intervalos entre as músicas, eu abro o leque temático para outros assuntos. Meu critério quanto à escolha do repertório é: eu ouvir a música, entender a letra e me perguntar se gostaria de comunicar isso, caso eu fosse compositor - se este assunto faz parte do meu universo e me interessa de alguma forma. Isso é o que me move. Sou apenas um intérprete e meu trabalho é dar meu ponto-de-vista sobre o repertório que não foi composto por mim - desde que eu esteja de acordo com a proposta.

UOL - "Inclassificáveis" é também uma resposta ao pragmatismo previsível das verdades absolutas a respeito de música?
NEY MATOGROSSO: Eu não tenho esse tipo de preocupação e não sou dono da verdade. Estou apenas me colocando dentro do espectro da música brasileira com a minha verdade e com aquilo em que acredito. Essa questão não compete a mim. As pessoas é que vão ou não fazer esse julgamento.

UOL - Sua postura de enaltecer sua individualidade torna o material uma afirmação política?
NEY MATOGROSSO: Resguardo minha individualidade em parte, pois aquilo ali reflete o meu pensamento. Sim, expressar o que se pensa e não seguir os ditames pré-estabelecidos é sempre transgressor. Eu sou assim e morrerei sendo. De uma maneira geral, acho que as pessoas não se expõem verdadeiramente e esse é o problema. Falo isso de uma forma bem genérica. Acho significativo você ver o trabalho de uma pessoa e saber quem é ela por trás daquilo, seus pensamentos, o que ela pretende. Não acho que seja uma obrigação, mas certamente isso é mais interessante.

UOL - Quais fatores foram primordiais para a criação sua persona pop nos palcos?
NEY MATOGROSSO: Durante muito tempo, eu achei que era dois e por isso, esquizofrênico. A partir de determinado momento, percebi que isso não era verdade e juntei essas duas facetas. Eu sou tudo isso e é claro que, fora do palco, minha postura é outra, pois prefiro observar a ser observado. O que faço no palco foi liberado pelo meu inconsciente, mas também faz parte de mim. Não é uma elaboração, simplesmente abri a porta e deixei sair.

UOL - Você é um artista veterano e consegue ser sucesso de público e crítica. A que atribui a razão do apelo de seu trabalho no decorrer das décadas?
NEY MATOGROSSO: Eu não sei, só posso dizer que tudo é verdadeiro de minha parte. Não faço as coisas apenas para ganhar dinheiro. Quando me jogo nesses trabalhos, eu realmente acredito nos temas que abordo e me jogo com essa fé. É atraente as pessoas verem um artista totalmente entregue em cena. Acho que já confiam em mim e sabem que, se eu lanço um trabalho, é realmente alguma coisa interessante. Sabem que não vou perder meu tempo fazendo bobagem porque antes de tudo é uma questão individual que está em jogo. Pois isso, sempre há essa necessidade de apresentar material interessante, tanto em disco quanto nos palcos.

UOL - A resposta da audiência seria devido à transgressão comportamental que você simboliza há muitos anos?
NEY MATOGROSSO: Não sei, acho que são várias coisas que devem chamar a atenção das pessoas. Não acho que a transgressão seja a razão, é apenas um dos fatores. Gostaria que as pessoas se manifestassem independentemente do ambiente dos shows. Mostro às pessoas que é possível existir de uma maneira diferente de 99% da população - que um pensamento diferente pode se manifestar no mundo. Então gostaria de influenciar as pessoas nesse sentido: sejam, vivam, existam plenamente, sem se submeter a critérios pré-estabelecidos. Quais são os critérios que estabelecem essas regras? Acredito que eu mesmo possa determinar meus limites e saber o que é bom ou ruim para mim -- até o que me é permitido sou eu quem vai estabelecer.

Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br


CLIQUE AQUI PARA VOLTAR AO ÍNDICE DE SEÇÕES

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home



 

 



Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


As seções do blog você encontra ao lado, sempre no post ÍNDICE DE SEÇÕES, e a partir dele fica fácil navegar por este site pessoal intitulado O SOM DA MÚSICA.

Sinta-se livre para expressar quaisquer opiniões a respeito dos textos contidos no blog, uma vez que de nada vale a pena esbravejar opiniões no cyber espaço sem o aval da resposta do interlocutor.

Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


De qualquer forma, sejam todos bem-vindos! Sintam-se como se estivessem em casa.

Caso queira entrar em contato, meu email é marcus.marcal@yahoo.com.br.
Grande abraço!
Powered by Blogger