ENTREVISTÃO VI: Roger Glover fala da turnê de 40 anos do Deep Purple pelo Brasil
20/02/2008 - 12h48
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/02/20/ult89u8577.jhtm
O grupo britânico Deep Purple retorna ao Brasil neste mês em turnê comemorativa de seus 40 anos de estrada e promove seu mais recente lançamento: o CD/DVD "Live at Montreux" (2006). Os shows acontecem no Rio de Janeiro, no Citibank Hall (22/02), em Curitiba, no Hellooch (23/02), e em São Paulo, no Credicard Hall (24/02). Em entrevista ao UOL Música, de Monterrey (México), o baixista Roger Glover falou das apresentações. "Vários de nossos fãs brasileiros já nos assistiram ao vivo, eles já sabem o que esperar. Ou seja, o inesperado. Somos músicos e não integrantes de um show de circo. Nossos shows se referem apenas à música", define.
Essa é a oitava vinda do Deep Purple ao Brasil e não falta material para o repertório dos veteranos. Clássicos como "Black Night", "Highway Star", "Strange Kind of Woman", "Perfect Strangers" e "Smoke on the Water" constarão no espetáculo, além de temas mais recentes. Mas o músico se esquiva quando indagado sobre o que trazem de novo desta vez. "Mudamos o tempo todo, então não sei exatamente colocar em palavras o que pode haver de diferente. Possivelmente, uma camisa diferente", brinca.
Esse despojamento, comum a expoentes da era de ouro do rock, também se reflete na própria postura do grupo quanto à comemoração de sua quarta década. "Cabe aos fãs e à gravadora comemorarem, simplesmente seguimos em frente. É como o antigo tecladista John Lord certa vez declarou: 'Deep Purple é como um brinquedo atômico. Apenas continuamos'. Nós ignoramos jubileus, aniversários, essas coisas. Estou muito ciente de que este é nosso 40º ano, mas por que eu haveria de encher um balão e dizer: 'Ei, tenho 40 anos'? Nós somos apenas uma banda de música", resume.
A audiência brasileira sabe o que esperar de uma apresentação desta verdadeira instituição do rock, pois sempre acolheu muito bem o Deep Purple desde sua primeira vinda ao país em 1991, para promover o álbum "Slaves & Masters" (1990). Na época, o grupo ainda contava com ex-integrantes da de sua formação clássica como Ritchie Blackmore e John Lord, além do vocalista Joe Lynn Turner. Glover se recorda muito bem da ocasião. "Sim, é uma experiência fantástica retornarmos e sermos bem-recebidos. A audiência brasileira é sempre bastante emocional, quente e expressiva. Precisávamos disso, pois não estávamos em nossa melhor forma durante a primeira vinda ao país. Passávamos por uma fase difícil e os brasileiros sempre nos proporcionaram um fantástico acolhimento", afirmou.
Além de Glover, hoje o Deep Purple conta com Ian Gillan (vocais), Ian Paice (bateria), Steve Morse (guitarras) e Don Airey (teclados). Sua atual formação está na ativa desde meados de 2001 e já passou pelo país em 2006 e 2003. É certamente uma das melhores da história da banda, conforme avalia o próprio Roger Glover, o músico que mais teve contatos com as várias ramificações da gigantesca genealogia do Deep Purple. "Acho que passamos por um momento realmente muito criativo. Nossas diferenças se dão em âmbito criativo, é algo saudável para a banda. Nunca fomos consistentes nos anos 70 ou 80, mesmo porque nós não ensaiamos, apenas tocamos. E tocar ao vivo é sempre levemente perigoso. Coisas sutis mudam a cada noite e você tem de estar bastante ciente do que os demais integrantes estão fazendo, a fim de dar-lhes o devido suporte. Hoje somos musicalmente solidários uns com os outros no palco", avalia.
O Deep Purple já foi considerado no Livro Guiness como a banda que toca mais alto ao vivo no mundo, mas Glover não leva essas coisas a sério. "Na verdade, isso é uma grande besteira! Não acho que tocássemos particularmente mais alto do que outros nomes da época. Apenas aconteceu de medirem o volume de nosso som e acho que o título valia por aproximadamente um ano. O ponto crucial é: a aplicabilidade disso --se a banda toca mais alto, se é a maior ou a menor-- não tem nada a ver conosco ou com a música. Sim, usamos o volume como mais um instrumento, mas não está lá para esconder nossa inabilidade musical e, sim, porque é excitante", determina.
Dentre as bandas que fundamentaram o rock pesado na década de 70, como Led Zeppelin e Black Sabbath, o Deep Purple foi a única que mais regularmente lançou álbuns no decorrer das décadas e se mantém até hoje na ativa, com a exceção de um hiato entre 1976 e 1984. Glover ressalta a peculiaridade de sua trajetória em relação a seus contemporâneos e salienta que o grupo não compõe apenas devido à obrigatoriedade de novos álbuns. "Você não pode parar de escrever canções se cria uma banda. E o tempo todo nós fazemos, ainda que estejam apenas em nossas mentes. Há uma necessidade nossa de, aproximadamente vez por ano, entrarmos em estúdio e capturarmos algumas. É apenas uma coisa que precisamos realizar", professa. O baixista também comenta o atual estado da indústria do disco. "É triste, nos dias de hoje os álbuns se tornaram coisa do passado, pois é muito custoso fazê-los e não se consegue vender o suficiente para justificá-los. Há até pessoas me dizendo que deveríamos talvez gravar apenas um par de singles anualmente", lamenta a atual obsolescência do conceito do álbum, um dos maiores emblemas da década de 70.
O Deep Purple foi o primeiro dinossauro do rock setentista a voltar à ativa após um período separado e Roger Glover também comenta o retorno do Led Zeppelin no ano passado e a possibilidade de uma nova turnê do grupo. "Acho que esperar um pouco mais para reativar a banda talvez seja um pouco fora do comum. Para mim, eles nunca foram uma banda ao vivo e, sim, uma banda de estúdio. Eu vi o Led Zeppelin ao vivo nos velhos tempos e não gostei muito. Eram muito auto-indulgentes, se você me entende. A habilidade de tocar um instrumento musical não era a prioridade, você sabe, era aquele tipo de imagem. Sou grande fã, não me leve a mal. Mas os shows não eram a coisa mais importante para eles e, sim, os álbuns. E eles venderam toneladas e toneladas de álbuns. Desejo sorte a eles", finaliza.
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/02/20/ult89u8577.jhtm
O grupo britânico Deep Purple retorna ao Brasil neste mês em turnê comemorativa de seus 40 anos de estrada e promove seu mais recente lançamento: o CD/DVD "Live at Montreux" (2006). Os shows acontecem no Rio de Janeiro, no Citibank Hall (22/02), em Curitiba, no Hellooch (23/02), e em São Paulo, no Credicard Hall (24/02). Em entrevista ao UOL Música, de Monterrey (México), o baixista Roger Glover falou das apresentações. "Vários de nossos fãs brasileiros já nos assistiram ao vivo, eles já sabem o que esperar. Ou seja, o inesperado. Somos músicos e não integrantes de um show de circo. Nossos shows se referem apenas à música", define.
Essa é a oitava vinda do Deep Purple ao Brasil e não falta material para o repertório dos veteranos. Clássicos como "Black Night", "Highway Star", "Strange Kind of Woman", "Perfect Strangers" e "Smoke on the Water" constarão no espetáculo, além de temas mais recentes. Mas o músico se esquiva quando indagado sobre o que trazem de novo desta vez. "Mudamos o tempo todo, então não sei exatamente colocar em palavras o que pode haver de diferente. Possivelmente, uma camisa diferente", brinca.
Esse despojamento, comum a expoentes da era de ouro do rock, também se reflete na própria postura do grupo quanto à comemoração de sua quarta década. "Cabe aos fãs e à gravadora comemorarem, simplesmente seguimos em frente. É como o antigo tecladista John Lord certa vez declarou: 'Deep Purple é como um brinquedo atômico. Apenas continuamos'. Nós ignoramos jubileus, aniversários, essas coisas. Estou muito ciente de que este é nosso 40º ano, mas por que eu haveria de encher um balão e dizer: 'Ei, tenho 40 anos'? Nós somos apenas uma banda de música", resume.
A audiência brasileira sabe o que esperar de uma apresentação desta verdadeira instituição do rock, pois sempre acolheu muito bem o Deep Purple desde sua primeira vinda ao país em 1991, para promover o álbum "Slaves & Masters" (1990). Na época, o grupo ainda contava com ex-integrantes da de sua formação clássica como Ritchie Blackmore e John Lord, além do vocalista Joe Lynn Turner. Glover se recorda muito bem da ocasião. "Sim, é uma experiência fantástica retornarmos e sermos bem-recebidos. A audiência brasileira é sempre bastante emocional, quente e expressiva. Precisávamos disso, pois não estávamos em nossa melhor forma durante a primeira vinda ao país. Passávamos por uma fase difícil e os brasileiros sempre nos proporcionaram um fantástico acolhimento", afirmou.
Além de Glover, hoje o Deep Purple conta com Ian Gillan (vocais), Ian Paice (bateria), Steve Morse (guitarras) e Don Airey (teclados). Sua atual formação está na ativa desde meados de 2001 e já passou pelo país em 2006 e 2003. É certamente uma das melhores da história da banda, conforme avalia o próprio Roger Glover, o músico que mais teve contatos com as várias ramificações da gigantesca genealogia do Deep Purple. "Acho que passamos por um momento realmente muito criativo. Nossas diferenças se dão em âmbito criativo, é algo saudável para a banda. Nunca fomos consistentes nos anos 70 ou 80, mesmo porque nós não ensaiamos, apenas tocamos. E tocar ao vivo é sempre levemente perigoso. Coisas sutis mudam a cada noite e você tem de estar bastante ciente do que os demais integrantes estão fazendo, a fim de dar-lhes o devido suporte. Hoje somos musicalmente solidários uns com os outros no palco", avalia.
O Deep Purple já foi considerado no Livro Guiness como a banda que toca mais alto ao vivo no mundo, mas Glover não leva essas coisas a sério. "Na verdade, isso é uma grande besteira! Não acho que tocássemos particularmente mais alto do que outros nomes da época. Apenas aconteceu de medirem o volume de nosso som e acho que o título valia por aproximadamente um ano. O ponto crucial é: a aplicabilidade disso --se a banda toca mais alto, se é a maior ou a menor-- não tem nada a ver conosco ou com a música. Sim, usamos o volume como mais um instrumento, mas não está lá para esconder nossa inabilidade musical e, sim, porque é excitante", determina.
Dentre as bandas que fundamentaram o rock pesado na década de 70, como Led Zeppelin e Black Sabbath, o Deep Purple foi a única que mais regularmente lançou álbuns no decorrer das décadas e se mantém até hoje na ativa, com a exceção de um hiato entre 1976 e 1984. Glover ressalta a peculiaridade de sua trajetória em relação a seus contemporâneos e salienta que o grupo não compõe apenas devido à obrigatoriedade de novos álbuns. "Você não pode parar de escrever canções se cria uma banda. E o tempo todo nós fazemos, ainda que estejam apenas em nossas mentes. Há uma necessidade nossa de, aproximadamente vez por ano, entrarmos em estúdio e capturarmos algumas. É apenas uma coisa que precisamos realizar", professa. O baixista também comenta o atual estado da indústria do disco. "É triste, nos dias de hoje os álbuns se tornaram coisa do passado, pois é muito custoso fazê-los e não se consegue vender o suficiente para justificá-los. Há até pessoas me dizendo que deveríamos talvez gravar apenas um par de singles anualmente", lamenta a atual obsolescência do conceito do álbum, um dos maiores emblemas da década de 70.
O Deep Purple foi o primeiro dinossauro do rock setentista a voltar à ativa após um período separado e Roger Glover também comenta o retorno do Led Zeppelin no ano passado e a possibilidade de uma nova turnê do grupo. "Acho que esperar um pouco mais para reativar a banda talvez seja um pouco fora do comum. Para mim, eles nunca foram uma banda ao vivo e, sim, uma banda de estúdio. Eu vi o Led Zeppelin ao vivo nos velhos tempos e não gostei muito. Eram muito auto-indulgentes, se você me entende. A habilidade de tocar um instrumento musical não era a prioridade, você sabe, era aquele tipo de imagem. Sou grande fã, não me leve a mal. Mas os shows não eram a coisa mais importante para eles e, sim, os álbuns. E eles venderam toneladas e toneladas de álbuns. Desejo sorte a eles", finaliza.
Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br
0 Comments:
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home