O SOM DA MÚSICA: DE ORELHADA VII: Arnaldo Antunes brinca com seriedade em formato intimista

Tuesday, October 21, 2008

DE ORELHADA VII: Arnaldo Antunes brinca com seriedade em formato intimista

Janeiro de 2008


Arnaldo Antunes brinca com seriedade em formato intimista


ARNALDO ANTUNES – AO VIVO EM ESTÚDIO (Versão “feijoada”)


Arnaldo Antunes acaba de lançar pelo selo Biscoito Fino um DVD gravado ao vivo nos Estúdios Mosh (São Paulo) em agosto de 2007, apresentação que contou com a presença de uma seleta platéia de 50 pessoas. Assim comemora 25 anos de carreira em um momento luminoso de sua trajetória, ao afirmar a elegância de sua arte sem se mostrar blasé, revisando um repertório coeso, pautado por arranjos que tornam fluído e homogêneo o decorrer do roteiro do espetáculo.


Com produção do videomaker Tadeu Jungle, é um DVD para se assistir com as legendas em português acionadas, mesmo que se domine o idioma, para que se possa saborear adequadamente sua pródiga verve literária. Além disso, o registro de imagens coloca o espectador em perspectivas distintas: seja a de algum lugar privilegiado da platéia ou mesmo a de dentro da cabine de som. O preto-e-branco das imagens revela intenção impressionista alemã, mas destaca também a simplicidade tão presente até mesmo nas mais elaboradas criações de Arnaldo Antunes.


Assim transparece no roteiro uma certa ambiência bucólica. É como se o veterano artista, calejado autor de valor incontestável na produção de música e texto, pudesse pendular no tempo cronológico a fim de ressaltar o perfil lúdico de sua obra, ao portar-se no palco como um mero garoto a brincar com melodias assobiáveis e vocabulário típico de um provável “CDF” de outrora a involuntariamente causar um misto de inveja e admiração nos colegas, por sua facilidade no manejo e traquejo com as palavras. Até mesmo o vestuário de Arnaldo reforça esse “jeito moleque” de ser.


Fora isso, em vários momentos, sua mise-en-scène de palco nos remete aos trejeitos com os quais notabilizou sua performance com os Titãs. Mas é justamente matando e imitando a si mesmo que o “moleque-pimpão” Arnaldo Antunes se diverte durante o decorrer do set list de vinte e quatro canções distribuídas em pouco mais de hora e meia de show. Ou melhor, aproximadamente duas horas, pois são vinte e sete as canções do espetáculo na íntegra, se contarmos as três faixas extras do DVD: “O Buraco do Espelho” emendada à clássica jóia carnavalesca “Bandeira Branca”, “Cabimento” e “O Pulso”, que caberiam perfeitamente na narrativa proposta pelo roteiro.


Este também remonta momentos mais luminosos da trajetória do artista, embora boa parte do show privilegie “Qualquer(Biscoito Fino/2006), seu mais recente álbum de inéditas. Dez canções do álbum marcam presença: a faixa-título, “Hotel Fraternité”, “Sem Você”, a releitura de “Acabou Chorare”, “Para Lá”, “2 Perdidos”, “Num Dia”, “Eu não Sou da Sua Rua” (já gravada por Marisa Monte em “Mais”), “Contato Imediato” e “As Coisas”, esta última uma parceria com Gilberto Gil.


Mas o melhor de Arnaldo Antunes não se resume a sua safra recente. “Saiba”, “Pedido de Casamento” e “Cabimento” representam Saiba (BMG/2004). “Se tudo pode acontecer” e a releitura de Paulo Leminski em “Luzes” chamam atenção ao álbum “Paradeiro (BMG/2001). E até mesmo o material inicial da fase solo do ex-Titã se faz presente: “Fim do Dia” e “Socorro” foram originalmente lançadas em “Um Som (BMG/1998), enquanto “O Silêncio” e “O Buraco no Espelho” são de “O Silêncio” (BMG/1996), reforçando o perfil retrospectivo do DVD.


E o cantor também revisita suas empreitadas coletivas ao resgatar antigos sucessos populares. “O Que” (com citação de “Podes Crer, Amizade”, de Toni Tornado), “O Pulso” e “Não vou me Adaptar” são versões para músicas dos Titãs, esta última conta inclusive com a participação de Nando Reis, ex-colega de banda e amigo de longa data. Já “Um a Um” e “Velha Infância” são material oriundo do festejado projeto Os Tribalistas, cujo espectro musical parece moldar a ambiência sonora delicada desta coleção de polaróides sonoras.

“Quarto de Dormir” (parceria com Marcelo Jeneci) e as releituras de “Qualquer Coisa” (de Caetano Veloso) e “Judiaria” (de Lupicínio Rodrigues) fecham a bem elaborada seleção. Esta última é a única concessão a uma sonoridade mais roqueira e barulhenta em todo o espetáculo, muito em parte pela participação de Edgard Scandurra, peça importante na elaboração da identidade musical de Arnaldo Antunes em meados dos anos 90, rumo a esta trajetória solo hoje consolidada.


Em resumo, é como se todas as canções fossem parte de uma mesma obra e não um apanhado de vários momentos artísticos do ex-titã. Também vale ressaltar que se, logo após sair dos Titãs, sua carreira apontou em direção a um rumo mais rebuscado, o que até o distanciou de parte da audiência de sua antiga banda, Arnaldo hoje ressalta cada vez mais que a aparente erudição de um estilo de texto mais rebuscado nunca relegou ao segundo plano sua faceta lúdica, brincalhona. Assim, o cantor afirma a elegância de sua arte sem ser blasé, como se todas as canções pop fossem parte de uma mesma obra e não um apanhado de vários momentos da trajetória do ex-Titã mais cabeçudo.


O DVD é repleto de participações especiais de colaboradores das mais variadas fases, desde o titã Branco Mello, Dadi (ex-A Cor do Som) e até mesmo Marisa Monte e Carlinhos Brown. Os Tribalistas dão o ar de sua graça ao final do espetáculo e assim amarram o roteiro ao momento de maior visibilidade artística de Arnaldo desde sua saída dos Titãs, voltando ao ponto-de-partida este onde passou a valorizar a sutileza de seu trabalho como artista de música.


Além das já citadas faixas extras, o DVD apresenta uma versão multitake de “Hotel Fraternité”, com linguagem visual fragmentada em sete janelas, e um slideshow que reforça o bom astral deste momento memorável da trajetória artística de Arnaldo Antunes. Para comemorar 25 anos de carreira, nada melhor do que este belo presente aos fãs! (MARCUS MARÇAL)


Janeiro de 2008

Arnaldo Antunes brinca com seriedade em formato intimista (versão “diet”)


ARNALDO ANTUNES – AO VIVO EM ESTÚDIO

Arnaldo Antunes acaba de lançar pela Biscoito Fino este DVD gravado ao vivo em Sampa, em agosto de 2007, com presença de seleta platéia. É uma revisão de 25 anos de carreira, pautada por seleção correta e arranjos intimistas.


Produzido por Tadeu Jungle, é um DVD para se acionar legendas em português, a fim de se saborear adequadamente o texto. Destaque para a ambiência bucólica, onde o artista ressalta o perfil lúdico de sua obra, como um garoto a brincar com melodias assobiáveis e vocabulário rebuscado. Assim, o poeta-pimpão se diverte durante 27 canções distribuídas em duas horas de show.


Embora privilegie 10 temas de “Qualquer(2006), o melhor de Arnaldo não se resume a isso. Três canções representam Saiba (2004) e até mesmo material inicial de sua fase solo está presente: “Um Som (1998) e “O Silêncio” (1996) reforçam com duas faixas cada o perfil retrospectivo do DVD. Cinco músicas de empreitadas com Titãs e Tribalistas também foram pinçadas. Uma canção inédita mais as releituras de Caetano Veloso e Lupicínio fecham a coleção.


Participam do DVD Nando Reis, Edgard Scandurra, Branco Mello, Dadi, Marisa Monte e Carlinhos Brown. Os Tribalistas moldam a sonoridade desta seleção e amarram o roteiro ao momento de maior visibilidade de Arnaldo desde a saída dos Titãs, voltando ao ponto onde passou a valorizar a sutileza de sua música. Nos extras, a versão multitake de “Hotel Fraternité” e um slideshow reafirmam o alto astral deste momento favorável de sua trajetória. (MARCUS MARÇAL)


Gravadora: Biscoito Fino


Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br

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Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

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