CANHOTO DE INGRESSO XXVII: Bob Dylan muda metade do repertório e canta sucessos em segundo show em São Paulo
07/03/2008 - 08h08
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/03/07/ult89u8656.jhtm
O cantor norte-americano Bob Dylan alterou mais da metade de seu repertório no segundo show da turnê brasileira, nesta quinta-feira (6), no Via Funchal, em São Paulo. O roteiro privilegiou seu mais recente álbum de inéditas, "Modern Times" (2006), mas o artista fez jus à fama de imprevisível e incluiu nove temas não apresentados na primeira etapa da excursão -- entre eles, alguns de seus maiores sucessos.
Dylan entrou no palco pontualmente às 22h, na companhia de seus músicos: Don Herron (slide guitar, violino, pedal steel, banjo elétrico, e lap steel), Denny Freeman (guitarra), Tony Garnier (baixo), Stuart Kimball (guitarra) e George Recile (bateria). De início, cantou clássicos como "Rainy Day Women #12 & 35", "Lay, Lady, Lay" e "I'll Be Your Baby Tonight", músicas dos discos "Blonde on Blonde" (1966), "Nashville Skyline" (1969) e "John Wesley Harding" (1967).
Em seguida, o artista cantou temas recentes como "Love Sick", "Rollin' and Tumblin'" e "Spirit on the Water" -- a primeira abre o álbum "Time Out of Mind" (1997) e as demais são destaques de "Modern Times". Depois foi a vez da releitura serena para "A Hard Rain's A-Gonna Fall", um dos números mais legendários de sua fase folk, seguida de "Honest With Me", de "Love & Theft" (2001), "Workingman's Blues #2", "Highway 61 Revisited" e "When the Deal Goes Down" -- esta última, canção das mais pungentes de seu repertório atual, com sonoridade característica dos temas de andamento lento de sua trilogia iniciada em "Time Out of Mind" (1997).
Ao final da apresentação de duas horas, o cantor ainda fez concessão a mais um de seus sucessos, "Tangled Up in Blue", de "Blood on the Tracks" (1975), em meio a material autoral de safra recente como "Ain't Talkin'" e "Summer Days", antes da praticamente obrigatória "Like a Rolling Stone", o momento mais festejado pela platéia nos dois shows de São Paulo nesta turnê.
Na volta para o bis, com "Thunder on the Mountain", uma fã subiu ao palco e agarrou o cantor, na intenção de beijá-lo, sendo contida pela segurança. Em seguida, o cantor apresentou uma irreconhecível versão de "Blowin' in the Wind", do álbum "The Freewheelin' Bob Dylan" (1963).
Bob Dylan se despediu da platéia e o decorrer do roteiro de 17 canções deixou claro que só mesmo um artista de sua relevância poderia dar-se ao luxo de pinçar o que quiser de seu farto catálogo, sem o risco de soar inoportuno, cabotino ou arrogante.
Audiência fiel renovada
Detentor de uma audiência fiel, o cantor hoje passa por um período de renovação de seu público e isto se deve a vários fatores. Dentre eles, a boa repercussão de lançamentos que reforçam sua importância histórica, tais como o documentário do cineasta Martin Scorsese, "No Direction Home" (2005), o primeiro volume de sua autobiografia "Chronicles" (2004), as edições oficiais dos novos volumes das "Bootleg Series", o mosaico das diferentes facetas de sua personalidade no filme de Todd Haynes, "I'm Not There" (2007), e o livro "Down the Highway: The Life of Bob Dylan" (2001), escrito por Howard Sounes. Razão maior para a notável presença de jovens dentre sua audiência cativa, boa parte deles ainda criança de colo na ocasião de suas primeiras passagens pelo Brasil em 1990 e 1991.
Notoriamente, Dylan ignora fronteiras entre gêneros musicais: faz ponte entre as referências picarescas de rockabilly e boogie-woogie elementares ao rock'n roll básico e ressalta suas interseções com o blues primitivo e a malandragem esquiva do jazz, sem desconectar-se do perfil solene legado pela tradição oral e ancestralidade musical do spiritual e gospel afro-americanos. Sua música resulta deste farto manancial, por intermédio de uma impura mistura, entranhada a diferentes linguajares de rua, das mais variadas épocas. Por esta razão, o artista consegue transitar por diferentes manifestações artísticas com personalidade ímpar.
No encerramento da turnê brasileira, Bob Dylan ainda se apresenta no Rio de Janeiro, onde toca no sábado (8). A turnê latino-americana teve início no México (26/02) e, depois da passagem pelo Brasil, o cantor segue para Chile (11), Argentina (13, 15 e 18) e Uruguai (20).
MARCUS MARÇAL
http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/03/07/ult89u8656.jhtm
O cantor norte-americano Bob Dylan alterou mais da metade de seu repertório no segundo show da turnê brasileira, nesta quinta-feira (6), no Via Funchal, em São Paulo. O roteiro privilegiou seu mais recente álbum de inéditas, "Modern Times" (2006), mas o artista fez jus à fama de imprevisível e incluiu nove temas não apresentados na primeira etapa da excursão -- entre eles, alguns de seus maiores sucessos.
Dylan entrou no palco pontualmente às 22h, na companhia de seus músicos: Don Herron (slide guitar, violino, pedal steel, banjo elétrico, e lap steel), Denny Freeman (guitarra), Tony Garnier (baixo), Stuart Kimball (guitarra) e George Recile (bateria). De início, cantou clássicos como "Rainy Day Women #12 & 35", "Lay, Lady, Lay" e "I'll Be Your Baby Tonight", músicas dos discos "Blonde on Blonde" (1966), "Nashville Skyline" (1969) e "John Wesley Harding" (1967).
Em seguida, o artista cantou temas recentes como "Love Sick", "Rollin' and Tumblin'" e "Spirit on the Water" -- a primeira abre o álbum "Time Out of Mind" (1997) e as demais são destaques de "Modern Times". Depois foi a vez da releitura serena para "A Hard Rain's A-Gonna Fall", um dos números mais legendários de sua fase folk, seguida de "Honest With Me", de "Love & Theft" (2001), "Workingman's Blues #2", "Highway 61 Revisited" e "When the Deal Goes Down" -- esta última, canção das mais pungentes de seu repertório atual, com sonoridade característica dos temas de andamento lento de sua trilogia iniciada em "Time Out of Mind" (1997).
Ao final da apresentação de duas horas, o cantor ainda fez concessão a mais um de seus sucessos, "Tangled Up in Blue", de "Blood on the Tracks" (1975), em meio a material autoral de safra recente como "Ain't Talkin'" e "Summer Days", antes da praticamente obrigatória "Like a Rolling Stone", o momento mais festejado pela platéia nos dois shows de São Paulo nesta turnê.
Na volta para o bis, com "Thunder on the Mountain", uma fã subiu ao palco e agarrou o cantor, na intenção de beijá-lo, sendo contida pela segurança. Em seguida, o cantor apresentou uma irreconhecível versão de "Blowin' in the Wind", do álbum "The Freewheelin' Bob Dylan" (1963).
Bob Dylan se despediu da platéia e o decorrer do roteiro de 17 canções deixou claro que só mesmo um artista de sua relevância poderia dar-se ao luxo de pinçar o que quiser de seu farto catálogo, sem o risco de soar inoportuno, cabotino ou arrogante.
Audiência fiel renovada
Detentor de uma audiência fiel, o cantor hoje passa por um período de renovação de seu público e isto se deve a vários fatores. Dentre eles, a boa repercussão de lançamentos que reforçam sua importância histórica, tais como o documentário do cineasta Martin Scorsese, "No Direction Home" (2005), o primeiro volume de sua autobiografia "Chronicles" (2004), as edições oficiais dos novos volumes das "Bootleg Series", o mosaico das diferentes facetas de sua personalidade no filme de Todd Haynes, "I'm Not There" (2007), e o livro "Down the Highway: The Life of Bob Dylan" (2001), escrito por Howard Sounes. Razão maior para a notável presença de jovens dentre sua audiência cativa, boa parte deles ainda criança de colo na ocasião de suas primeiras passagens pelo Brasil em 1990 e 1991.
Notoriamente, Dylan ignora fronteiras entre gêneros musicais: faz ponte entre as referências picarescas de rockabilly e boogie-woogie elementares ao rock'n roll básico e ressalta suas interseções com o blues primitivo e a malandragem esquiva do jazz, sem desconectar-se do perfil solene legado pela tradição oral e ancestralidade musical do spiritual e gospel afro-americanos. Sua música resulta deste farto manancial, por intermédio de uma impura mistura, entranhada a diferentes linguajares de rua, das mais variadas épocas. Por esta razão, o artista consegue transitar por diferentes manifestações artísticas com personalidade ímpar.
No encerramento da turnê brasileira, Bob Dylan ainda se apresenta no Rio de Janeiro, onde toca no sábado (8). A turnê latino-americana teve início no México (26/02) e, depois da passagem pelo Brasil, o cantor segue para Chile (11), Argentina (13, 15 e 18) e Uruguai (20).
Contatos pelo email marcus.marcal@uol.com.br
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