DE ORELHADA V
O Segundo Solo
Calígula Freejack, Toni Platão (Rock-It!)
Calígula Freejack, Toni Platão (Rock-It!)
Um ano após uma série de festejadas apresentações com sua antiga banda, Hojerizah, Toni Platão lança pela Rock-It! seu segundo álbum solo. Com produção do brother Dado Villa-Lobos, Calígula Freejack contém registros fonográficos que o cantor apresentou em memoráveis shows solo no Rio de Janeiro no final de 1999.
A bolacha é recheada de bons momentos e flui bem do início ao fim. A faixa-título tem letra de Fausto Fawcett, este adorna de forma lasciva o rock'n roll básico da canção. Outros atrativos são as releituras de material alheio: de mundo livre S/A a Baden Powell, incluindo até um dos standards do Hojerizah.
“Bola do Jogo” aparece sem o caráter jorgebeniano do original, mas soa bastante apropriada ao contexto do disco. No entanto, o ouvinte mais atento vai mesmo é se surpreender com o upgrade de “Dentes da Frente”, do Hojerizah, repleto de elementos eletrônicos e com uma guitarrinha maravilhosa a cargo do produtor. Vale ressaltar que esta faceta eletrônica é quase a tônica do disco, uma vez que a maioria dos contrabaixos e baterias foram pré-programados.
Há também uma versão, em clima piano bar, de “Carne e Osso”, hit dos Picassos Falsos, seus contemporâneos do underground carioca do final dos 80. É bem diferente do original e este também é o caso de “Marcas no Pescoço”, parceria de Chacal e Mimi Lessa já gravada pelo Barão Vermelho em Rock'n Geral, de 1987. Aqui o rock básico dá o tom, apesar das programações de drum machine.
O ponta-pé inicial do projeto foi uma releitura radical de “Canto de Ossanha”, clássico da MPB composto por Baden Powell e Vinícius de Moraes. Nesta versão, peso e eletrônica se adequam perfeitamente em uma agradável equação. Inclusive a música é um dos pontos altos de shows recentes de Toni. Em determinado momento do arranjo, o caos se instaura capitaneado pelos berros do cantor, em perfeita sintonia com a narrativa casca-grossa da letra.
Mas Calígula Freejack não se resume a rock`n roll e eletrônica, cativantes baladas a flor da pele também se destacam no repertório heterogêneo, ornamentadas pelo belo timbre de seu poderoso gogó. Uma bissexta parceria entre Humberto Effe (ex-Picassos Falsos) e Dé (ex-Barão Vermelho) aparece em “Proteção”, balada que trata dos primeiros contatos entre futuros amantes de uma relação que hoje se consolida, atraídos em direção ao outro desde o primeiro momento conforme diz a bonita letra da canção. Outro belo momento do CD é “Não Faz Muito Tempo”, onde se destacam delicados timbres de teclados, inexistentes nas primeiras incursões ao vivo do cantor com este novo material.
E tome baladas! Contraditoriamente, uma das passagens mais luminosas do disco acabou se tornando um dos maiores dissabores de Toni quanto a este trabalho. É o caso de “Tudo o que Vai”, parceria de Dado Villa-Lobos e Alvin L, inicialmente programada para ser o primeiro hit do álbum. Motivo: uma pequena polêmica se instaurou após a gravação não-autorizada da música cometida pelo Capital Inicial em seu álbum Acústico. Tudo indica que o episódio não terá maiores conseqüências, pois é bem provável que a canção se torne hit na versão de Dinho e cia, mas a verdade é que o cantor contava com esta exclusividade a fim de iniciar o trabalho de divulgação do disco.
Portanto, não adianta chorar pelo leite derramando, ainda mais porque Calígula Freejack, o álbum, tem tudo para agradar iniciados e neófitos no trabalho de Toni Platão. Isso vale ainda mais com a impossibilidade de seu retorno ao Hojerizah, após a recente temporada de inesquecíveis apresentações que poderiam até ofuscar o brilhantismo desta sua segunda empreitada solo. Vale lembrar que o disco em nada se compara a seu anterior epônimo pois, conforme o próprio cantor ressaltou, este é um álbum apaixonado.
E ainda tem mais! O leque de referências sonoras é variado o suficiente para agradar a gregos e troianos. Este é o caso das radiofônicas “Preciso”, “O que você Quiser” e da lounge music à moda brasileira de “Estricnina”. Além de contar com o auxílio luxuoso de sua ótima banda, em Calígula Freejack Toni ainda conta com as participações especiais de um timão formado por Fábio Fonseca, João Barone, Fred Nascimento, Sérgio Serra, Marcelo Larrosa (ex-Hojerizah), entre vários outros amigos do cantor que aparecem no disco. Para finalizar, vale um aviso aos mais nostálgicos: confira, sem preconceitos!
Texto de Marcus Marçal publicado em 2000. Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via email.
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