O SOM DA MÚSICA: DE ORELHADA V

Tuesday, December 18, 2007

DE ORELHADA V

O Segundo Solo
Calígula Freejack, Toni Platão (Rock-It!)


Um ano após uma série de festejadas apresentações com sua antiga banda, Hojerizah, Toni Platão lança pela Rock-It! seu segundo álbum solo. Com produção do brother Dado Villa-Lobos, Calígula Freejack contém registros fonográficos que o cantor apresentou em memoráveis shows solo no Rio de Janeiro no final de 1999.

A bolacha é recheada de bons momentos e flui bem do início ao fim. A faixa-título tem letra de Fausto Fawcett, este adorna de forma lasciva o rock'n roll básico da canção. Outros atrativos são as releituras de material alheio: de mundo livre S/A a Baden Powell, incluindo até um dos standards do Hojerizah.

“Bola do Jogo” aparece sem o caráter jorgebeniano do original, mas soa bastante apropriada ao contexto do disco. No entanto, o ouvinte mais atento vai mesmo é se surpreender com o upgrade de “Dentes da Frente”, do Hojerizah, repleto de elementos eletrônicos e com uma guitarrinha maravilhosa a cargo do produtor. Vale ressaltar que esta faceta eletrônica é quase a tônica do disco, uma vez que a maioria dos contrabaixos e baterias foram pré-programados.

Há também uma versão, em clima piano bar, de “Carne e Osso”, hit dos Picassos Falsos, seus contemporâneos do underground carioca do final dos 80. É bem diferente do original e este também é o caso de “Marcas no Pescoço”, parceria de Chacal e Mimi Lessa já gravada pelo Barão Vermelho em Rock'n Geral, de 1987. Aqui o rock básico dá o tom, apesar das programações de drum machine.

O ponta-pé inicial do projeto foi uma releitura radical de “Canto de Ossanha”, clássico da MPB composto por Baden Powell e Vinícius de Moraes. Nesta versão, peso e eletrônica se adequam perfeitamente em uma agradável equação. Inclusive a música é um dos pontos altos de shows recentes de Toni. Em determinado momento do arranjo, o caos se instaura capitaneado pelos berros do cantor, em perfeita sintonia com a narrativa casca-grossa da letra.

Mas Calígula Freejack não se resume a rock`n roll e eletrônica, cativantes baladas a flor da pele também se destacam no repertório heterogêneo, ornamentadas pelo belo timbre de seu poderoso gogó. Uma bissexta parceria entre Humberto Effe (ex-Picassos Falsos) e Dé (ex-Barão Vermelho) aparece em “Proteção”, balada que trata dos primeiros contatos entre futuros amantes de uma relação que hoje se consolida, atraídos em direção ao outro desde o primeiro momento conforme diz a bonita letra da canção. Outro belo momento do CD é “Não Faz Muito Tempo”, onde se destacam delicados timbres de teclados, inexistentes nas primeiras incursões ao vivo do cantor com este novo material.

E tome baladas! Contraditoriamente, uma das passagens mais luminosas do disco acabou se tornando um dos maiores dissabores de Toni quanto a este trabalho. É o caso de “Tudo o que Vai”, parceria de Dado Villa-Lobos e Alvin L, inicialmente programada para ser o primeiro hit do álbum. Motivo: uma pequena polêmica se instaurou após a gravação não-autorizada da música cometida pelo Capital Inicial em seu álbum Acústico. Tudo indica que o episódio não terá maiores conseqüências, pois é bem provável que a canção se torne hit na versão de Dinho e cia, mas a verdade é que o cantor contava com esta exclusividade a fim de iniciar o trabalho de divulgação do disco.

Portanto, não adianta chorar pelo leite derramando, ainda mais porque Calígula Freejack, o álbum, tem tudo para agradar iniciados e neófitos no trabalho de Toni Platão. Isso vale ainda mais com a impossibilidade de seu retorno ao Hojerizah, após a recente temporada de inesquecíveis apresentações que poderiam até ofuscar o brilhantismo desta sua segunda empreitada solo. Vale lembrar que o disco em nada se compara a seu anterior epônimo pois, conforme o próprio cantor ressaltou, este é um álbum apaixonado.

E ainda tem mais! O leque de referências sonoras é variado o suficiente para agradar a gregos e troianos. Este é o caso das radiofônicas “Preciso”, “O que você Quiser” e da lounge music à moda brasileira de “Estricnina”. Além de contar com o auxílio luxuoso de sua ótima banda, em Calígula Freejack Toni ainda conta com as participações especiais de um timão formado por Fábio Fonseca, João Barone, Fred Nascimento, Sérgio Serra, Marcelo Larrosa (ex-Hojerizah), entre vários outros amigos do cantor que aparecem no disco. Para finalizar, vale um aviso aos mais nostálgicos: confira, sem preconceitos!

Texto de Marcus Marçal publicado em 2000. Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via email.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home



 

 



Sou Marcus Marçal, jornalista de profissão e músico de coração.

Veja bem, se esta é sua primeira visita, afirmo de antemão que, para usufruir dos textos deste blog, é necessário um mínimo de inteligência. Este blog contém reflexões sobre música, material ficcional, devaneios biográficos, desvarios em prosa, egotrips sonoras e até mesmo material de cunho jornalístico.

E, se você não é muito acostumado à leitura, provavelmente pode ter um pouco de dificuldades com a forma caótica com que as informações são despejadas neste espaço.

Gostaria de deixar claro que os referenciais sobre texto e música aqui dispostos são vastos e muitas das vezes antagônicos entre si. Por essa razão, narrativa-linear não é sobrenome deste espaço, entende?

Tendo isto em mente, fica mais fácil dialogarmos sobre nossos interesses em comum dispostos aqui, pois o entendimento de parte dos textos contidos neste blog não deve ser feito ao pé da letra. E se você por acaso tiver conhecimento ou mesmo noção das funções da linguagem então poderá usufruir mais adequadamente do material contido neste site, munido de ferramentas de responsabilidade de ordem exclusiva ao leitor.

Quero dizer que, apesar da minha formação como jornalista, apenas uma parcela pequena dos textos aqui expostos foi e é concebida com este intuito, o que me permite escrever sem maiores preocupações com formatos ou convenções. Geralmente escrevo o que me dá na telha e só depois eventualmente faço alguma revisão mais atenta, daí a razão de por essas e outras eu deixar como subtítulo para este O SOM DA MÚSICA o bordão VERBORRAGIA DE CÓDIGO-FONTE ABERTO COM VALIDADE RESTRITA, e também porque me reservo ao direito de minhas opiniões se transformarem com o passar do tempo.

Portanto, faço um pedido encarecidamente às pessoas dotadas de pensamento obtuso, aos fanáticos de todos os tipos, aos analfabetos funcionais e às aberrações do tipo: por gentileza, não percam seu tempo com minha leitura a fim de lhes poupar atenção dispensada indevidamente.

Aos leitores tradicionais e visitantes ocasionais com flexibilidade de raciocínio, peço minhas sinceras desculpas. Faço esse blá-blá-blá todo apenas para afastar qualquer pessoa com pouca inteligência. Mesmo porque tem tanta gente por aí que domina as normas da língua portuguesa, mas são praticamente analfabetos funcionais...


As seções do blog você encontra ao lado, sempre no post ÍNDICE DE SEÇÕES, e a partir dele fica fácil navegar por este site pessoal intitulado O SOM DA MÚSICA.

Sinta-se livre para expressar quaisquer opiniões a respeito dos textos contidos no blog, uma vez que de nada vale a pena esbravejar opiniões no cyber espaço sem o aval da resposta do interlocutor.

Espero que este seja um território livre para a discussão e expressão de opiniões, ainda que contrárias as minhas, acerca de nossa paixão pela música. Afinal, de nada valeria escutarmos discos, fazermos músicas, lermos textos, irmos a shows e vivermos nossas vidas sem que pudéssemos compartilhar nossas opiniões a respeito disso tudo.

Espero que você seja o tipo de leitor que aprecie a abordagem sobre música contida neste blog.


De qualquer forma, sejam todos bem-vindos! Sintam-se como se estivessem em casa.

Caso queira entrar em contato, meu email é marcus.marcal@yahoo.com.br.
Grande abraço!
Powered by Blogger