O SOM DA MÚSICA: JORNALISMO PSICÓTICO III

Friday, May 18, 2007

JORNALISMO PSICÓTICO III

Violência gera violência

Eu iria publicar este texto logo na semana em que ocorreu a tragédia lá na Virgínia, mas tendo noção da mentalidade típica de parte dos visitantes eventuais deste espaço, resolvi deixar quieto e só emitir uma opinião, a partir de minha perspectiva distante, quando a poeira tivesse baixado e ninguém mais lembrasse disso, pelo menos até o próximo incidente que certamente mais dia menos dia deve rolar na terra de Sam. Infelizmente, pois isso parece estar se tornando habitual.

Antes de emitir qualquer opinião, acho importante ressaltar minhas condolências a todos os que sofreram com o incidente. É com o devido respeito que me permito à digressão logo abaixo. Pois muito se falou do resultado final da barbárie, mas muito pouco sobre o que poderia levar um indivíduo a cometer uma atrocidade daquelas. Em se tratando de uma bestialidade daquele vulto, nenhum de nós seria capaz de arcar com a responsa de apontar motivos para o injustificável. No entanto, ninguém também conseguiria me convencer de que tudo aquilo é somente responsabilidade de uma mente doentia. Isto seria nada mais que apenas colocar a culpa no imponderável para assim podermos todos hipocritamente lavar as mãos. Escapismo...

Violência gera violência, não? E a cobertura da mídia em geral adotou mais ou menos a postura de abafar o caso, para que o infeliz não ganhasse mais “notoriedade” naquela terra um tanto afeita a um, digamos, particularíssimo fundamentalismo cristão enrustido. Dylan chamou atenção a isto em 1966, mas aqui é apenas alegoria genérica de minha parte, ok? Como se isso lá fizesse alguma diferença para o facínora onde quer que esteja agora. No inferno? Sei... Ou se o sujeito fosse apenas um palhaço querendo aparecer, tsc - o que me parece mais uma revanche de um jogo que já acabou! E assim, infelizmente se perde a oportunidade de colocar em discussão muitas das, digamos, disfunções que caracterizam nossos tempos. A reincidência de casos desse tipo acontecendo em um mesmo lugar só enfatiza que há algo de muito errado nos hábitos e costumes daquela galera, conseqüentemente disseminados em virtude da hegemonia global. Mas tudo bem, isso é apenas material para estudiosos e autoridades realmente interessadas em diagnosticar o mal a fim de combatê-lo. Não para penseteiros como este escriba aqui!

Mas acho extremamente salutar nos dias de hoje, até mesmo para nosso próprio benefício, tentarmos entender no mínimo as razões que levariam um sujeito a cometer um ato daqueles. A imprensa, em geral, adotou o tom de condená-lo, o que não discordo em hipótese alguma. No entanto, verifiquei na abordagem da maioria dos grandes veículos de imprensa aqui no país uma certa unanimidade que nos leva até a achar que todo jornal diário é igual. Apenas em um periódico percebi um velado enumerar das razões recônditas que poderiam justificar tanto ódio no coração daquele maluco. Mais notadamente no caso de dois colunistas de jornais de São Paulo, dentre os sete periódicos que li regularmente durante o período.

Vale lembrar que, em outro jornal diário, chegou a ser publicado inclusive que alguns colegas de Chô se recusaram a se identificar com medo de represália e retaliações, notadamente imigrantes. Estes declararam que os insultos mais rasteiros aos quais o rapaz se acostumara eram mais ou menos assim. "Volta pra China, fpd#$@#@$", o que me faz lembrar de Axl Rose em “One in a Million”. Alguns até mencionaram a rotineira incidência de bullying - tema de matérias até em nosso Fantástico - nas salas de aula que o rapaz freqüentava, ao ponto de o cara sequer poder se dar ao luxo de fazer uma leitura em sala de aula, pois o que geralmente acontecia coisas do tipo e galhardias generalizadas. E você sabe: violência gera... Como é mesmo o dito popular?

E veja bem, estes foram apenas alguns depoimentos de pessoas que tiveram a coragem de expôr o lado obscuro desta história triste. Um deles, com mesma ascendência que o suicida chegou a entrar na porrada, pois inicialmente se pensava que se tratava de dois terroristas asiáticos e não somente um estudante em dia de fúria como um personagem de cinema. O leitor mais atento há até de lembrar da imagem do outro estudante que foi confundindo com o assassino suicida e algemado em imagens transmitidas para o mundo inteiro logo nas primeiras transmissões de imagens do incidente na tevê - o que levou a muitos imigrantes radicados no local a vislumbrarem a possibilidade de se transferirem para outros lugares, pois a reação nativa inicialmente foi a de rechaçar a diferença.

E é aí que uma espécie de Lado B do Carrossel Pop mostra uma face que a grande maioria se recusa a encarar. Mas até quando? A violência aparece travestida de muitas formas, até mesmo nos anúncios que borbadilho nossa atenção em todo lugar, no osmótico status que nossa imagem pública obtém via consumo de todo o tipo de tralhas desnecessárias propagadas como artefatos de urgente necessidade. Também está velada nos programas de tevê, nos filmes, nas músicas que representam um mundo mágico de Oz restrito a uma pequena parcela de “agraciados” que representam apenas projeções do ideal, caso contrário dinheiro seria um bálsamo sem contra-indicações de qualquer espécie. Rubem Fonseca certa vez até inoculou brilhantemente a reação contra tudo isso resumida numa bela cagada no tecido fino de uma toalha de mesa. Você já leu este conto do renomado escritor a que me refiro? Não? Então o que você está fazendo aqui perdendo o seu tempo, quando existem coisas muito mais interessantes para você exercitar sua leitura? Tsc...

No entanto, também vale ressaltar que a visibilidade excessiva de ícones do mais banal desinterÉsse bate de frente também com a invisibilidade de muitos párias à margem deste mundo de faz-de-conta disseminado em escala global. Ok, é claro, muitos hão de dizer que uma pessoa em sã consciência é passível do discernimento do que é real e do que é irreal. Mas não podemos ignorar que o “conto-de-fodas” pop, realidade anabolizada pela mentira da maquiagem do pop globalizado, não é nem mais água fria nas aspirações daqueles que não se enquadram nos padrões para consumo “fast foda” da cultura de massa. Pior, em algum momento inapropriado aquilo ali pode servir de estopim para reações psicóticas e efeitos colaterais que não constam na bula dos artefatos pop, sejamos alegóricos...

Aprimoramento dos mecanismos de comunicação de massa perpetrados pelos nazistas, arquitetado por Joseph Goebbels e anabolizado pela mitomania inerente à raça humana desde os primórdios - isso para não adentrarmos no pantanoso terreno das filosofias religiosas - a cultura pop não poderia ser tão inofensiva assim como poderia se imaginar. A história demonstra que a comunicação massiva se dá até mesmo quando não há sequer menção a vocábulo qualquer. Portanto, há lugar para inocência? Veja bem, não estamos falando dos Teletubbies destinados à primeira infância...

Pois bem, hoje arca-se com o ônus da mentirada toda. Isto também não é problema da família que não soube criar o cara, pois eles também são vítimas de tudo isso e talvez até deles mesmos. E é predominantemente fruto da própria violência gerada pelos próprios mecanismos de massa, onde a relação de transferência se dá ao ponto de o cara se equiparar de uma identidade alheia uma vez que fragmentos de sua própria afirmação não lhe são suficientes para lhe satisfazer. Ou de repente até são, mas quem há de se contentar com pouco com tantos chamarizes para o consumo cada vez mais desenfreado e descarrilado.

É claro que, em se tratando de uma merda dessas exibida nas tevês em várias partes do mundo, os ânimos da galera se voltam mais ao apelo emotivo da tragédia. Absolutamente normal! Mas é uma boa oportunidade de se refletir sobre os mecanismos de massa, sem falsas morais ou iniciativas de repreensão ou censura. Quanto mais a galera tiver conhecimento e domínio dos mecanismos e ferramentas comumente utilizados na comunicação de massa, mais fácil será a prevenção de incidentes deste tipo, pois se pop é �gnazismo�h, xô Satanás... Então a informação liberta!

Texto open-source de Marcus Marçal. Todos os direitos reservados ao autor. Não é permitida a reprodução deste texto de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via email.

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