JORNALISMO PSICÓTICO I
Abominações Unidas
A aldeia da globalização tem se mostrado a grosso modo um verdadeiro rolo compressor em se tratando da prevalência do pensamento único. Esta mazela infesta as diferenças regionais em prol de uma velada padronização de gostos e costumes, o que deixaria envergonhado até mesmo Joseph Goebells, mentor da propaganda de Hitler. A maquiagem do mundo globalizado no modelo hollywoodiano pode até atenuar um pouco suas mazelas nas mídias de massa atuais. Mas com a iminência da hipotética liberdade promovida pelo advento da tevê digital e o ocaso das unanimidades pop de ontem, este verdadeiro photoshop utilizado no mundo real é nada mais que uma certa "cosmética" a escorrer pela face esburacada do planeta exposta pela própria cultura de massa.
Por essas e outras razões, é bem verdade que nos salta aos olhos cada vez mais a necessidade de ações coletivas. Ações estas, agora sim, tipicamente globalizadas, emblemas de um mundo sem fronteiras. Atividades que atendam aos apelos de socorro de um mundo que começa a se deparar com problemas sérios em escala inédita. E é aí que de figurante no início da trama, as organizações não-governamentais já começam a ocupar papel importante neste verdadeiro melodrama planetário. Algo que talvez nem o mais lunático roteirista apocalíptico poderia antever no início do século XX. “Salve, beato Salu!”
Vale lembrar que a primeira globalização se deu no século XVI e com o decorrer de todo um processo histórico que começou a se tornar mais perceptível com o advento da Revolução Industrial, hoje o mundo inteiro arca com as contas desta farta festança promovida pelos “excessos” da produção em larga escala, entre outros. Pelo menos, no que diz respeito à limpeza da “casa”. “Miséria é miséria em qualquer canto”, já dizia o refrão do sucesso pop aqui neste país nos estertores da década de 80. E acontece que, no limiar da Revolução Digital, a supracitada bagunça convive com a assepsia típica de um mundo em upgrade nas mais variadas instâncias, a ponto de a ciência vislumbrar o posto que divindades religiosas ocupavam anteriormente enquanto reverência máxima coletiva. Paradoxalmente, em meio a tanta evolução, é o próprio planeta que começa a pedir arrego. É como se dissesse: "Socorro! É bom você também fazer a sua parte, cidadão da Terra!"
Na verdade, paralelamente à devastadora ação humana, é a própria Terra que começa a reagir fisicamente. E só agora começamos a ter maior noção do resultado destas reações, conforme oficialmente constou no mais recente relatório global das Nações Unidas. Parece que somente assim começa a cair a ficha da necessidade de ação imediata, pois o ocaso das utopias coletivas a partir do final dos sessenta nos relega hoje seu tão desmoralizado vaticínio como uma espécie de maldição. Pois o que vinha se enunciando como mera lenda urbana e falácia do mais sem noção pregador apocalíptico de praça pública hoje é endossado por especialistas dos mais diversos campos do saber. Quem diria!
E não bastassem os problemas de “ordem física”, o neoliberalismo que endossa os ditames da nova ordem global mundial dá uma conotação ainda mais dramática a esta problemática. O conceito de nação cada vez mais perde sua validade, pois governos, em grande parte em se tratando de nações periféricas, são elementos meramente decorativos em função da ditadura do capital transnacional. Este mesmo capital alheio a fronteiras que não sejam somente as dos lucros das matrizes nas filiais disseminadas pelo globo, o que destrói o equilíbrio de economias mais frágeis e disseminam desolação com poderio tão destrutivo quanto às mais nocivas armas de destruição em massa. Fala, Frederico!
Não é de se estranhar que estas mesmas corporações possuem tentáculos nas mais variadas frentes, inclusive em alguns casos mais periféricos com intervenções nas produções de armamentos, trabalho escravo e tráfico de substâncias ilícitas. Além disso, uma certa sensação caótica, inicialmente típica dos grandes centros, hoje em dia dissemina-se em larga escala, ainda que, no termômetro do caos urbano nas metrópoles, a situação tenha extrapolado os limites da calamidade pública diversas vezes. Violência gera violência, mesmo que travestida! E a situação se generaliza como diques que libertam água represada. Acontece no mundo inteiro.
Prova disso são as pautas do jornalismo diário em nossa urbe. Não é por menos que hoje aqui também se confunda milícia com traficantes, pois já não se sabe mais quem é polícia e quem é bandido. Esta inversão de valores generalizada, misturada à insatisfação salarial, leva os policiais a atuarem nas milícias, tendo em vista uma possível melhoria de vida proposta pela máquina policial oficiosa - o que atesta a ineficácia do Estado em preparar adequadamente e recompensar, exceto nos casos de má índole, aqueles mesmos que em tese são responsáveis por instaurar a ordem. No entanto, as milícias acabam por fim se tornando um "mal necessário" aos olhos da opinião pública, pois o combate oficial contra os próprios colegas pode sugerir problemas ainda maiores relacionados à segurança pública. Ainda que, no cômputo geral, este talvez seja mais uma solução paliativa em que a cobra come o próprio rabo.
Já no âmbito do microcosmo social, ainda que haja uma maior “tolerância” às diferenças, não se vê de fato um ajustamento desta diversidade, ainda que este seja um mal menor. Porém, este é maior ao passo que cada vez mais é relegado ao segundo plano do mero formalismo das solenidades comemorativas. Fora isso, muitos passam fome, mesmo em um país pródigo em riquezas naturais como é o Brasil. A educação ainda consiste no maior entrave para este país ocupar o devido lugar de destaque no cenário mundial. É em função das deformidades educacionais que o país ainda vive à sombra da pecha de esta quase-colônia ser “o bobo-alegre país de um futuro que nunca chega”.
É em razão da educação deficiente que nosso povo feliz ainda é gado admirável de manipulações diversas. O poder público está fora de alcance, nas esferas que decidem de fato os rumos desta nação. Como não é novidade para ninguém, está enclausurado numa espécie de “Olimpo” povoado, em grande parte, por uma escória da pior espécie a se perpetuar geração após geração no comando das decisões políticas mais importantes do rumo deste país.
No entanto, a política nossa de cada dia, no sentido clássico da República de Platão, está cada vez mais próxima de nós, mas não ao alcance de nossas vistas, como se esta fosse dotada de uma luz demasiadamente forte - conforme consta na legendária Alegoria da Caverna. Mas as ONGs "em tese" ajudariam a “desembaçar” a visão turva generalizada de que a solução de nossos problemas coletivos está muito além de nossa alçada, como se esperássemos eternamente pela ação dos salvadores da pátria. Terreno fértil para a manipulação de massa e para a inclusão de alcatéias em meio às ovelhas mais fiéis do rebanho nacional, onde o mal se instaura como espécie travestida de cordeiro. E é justamente neste espaço que a ação das organizações não-governamentais se mostra cada vez mais importante no enfrentamento e solução de nossos problemas na "pólis", seja em âmbito de macro ou microcosmo. Pois o terceiro setor cada vez mais terá função efetiva na condução de nossas resoluções neste milênio, ainda que também possa mascarar a maldade de forma maquiavélica. United Abominations é o novo álbum de Dave Mustaine...
Textos open-source de Marcus Marçal. Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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A aldeia da globalização tem se mostrado a grosso modo um verdadeiro rolo compressor em se tratando da prevalência do pensamento único. Esta mazela infesta as diferenças regionais em prol de uma velada padronização de gostos e costumes, o que deixaria envergonhado até mesmo Joseph Goebells, mentor da propaganda de Hitler. A maquiagem do mundo globalizado no modelo hollywoodiano pode até atenuar um pouco suas mazelas nas mídias de massa atuais. Mas com a iminência da hipotética liberdade promovida pelo advento da tevê digital e o ocaso das unanimidades pop de ontem, este verdadeiro photoshop utilizado no mundo real é nada mais que uma certa "cosmética" a escorrer pela face esburacada do planeta exposta pela própria cultura de massa.
Por essas e outras razões, é bem verdade que nos salta aos olhos cada vez mais a necessidade de ações coletivas. Ações estas, agora sim, tipicamente globalizadas, emblemas de um mundo sem fronteiras. Atividades que atendam aos apelos de socorro de um mundo que começa a se deparar com problemas sérios em escala inédita. E é aí que de figurante no início da trama, as organizações não-governamentais já começam a ocupar papel importante neste verdadeiro melodrama planetário. Algo que talvez nem o mais lunático roteirista apocalíptico poderia antever no início do século XX. “Salve, beato Salu!”
Vale lembrar que a primeira globalização se deu no século XVI e com o decorrer de todo um processo histórico que começou a se tornar mais perceptível com o advento da Revolução Industrial, hoje o mundo inteiro arca com as contas desta farta festança promovida pelos “excessos” da produção em larga escala, entre outros. Pelo menos, no que diz respeito à limpeza da “casa”. “Miséria é miséria em qualquer canto”, já dizia o refrão do sucesso pop aqui neste país nos estertores da década de 80. E acontece que, no limiar da Revolução Digital, a supracitada bagunça convive com a assepsia típica de um mundo em upgrade nas mais variadas instâncias, a ponto de a ciência vislumbrar o posto que divindades religiosas ocupavam anteriormente enquanto reverência máxima coletiva. Paradoxalmente, em meio a tanta evolução, é o próprio planeta que começa a pedir arrego. É como se dissesse: "Socorro! É bom você também fazer a sua parte, cidadão da Terra!"
Na verdade, paralelamente à devastadora ação humana, é a própria Terra que começa a reagir fisicamente. E só agora começamos a ter maior noção do resultado destas reações, conforme oficialmente constou no mais recente relatório global das Nações Unidas. Parece que somente assim começa a cair a ficha da necessidade de ação imediata, pois o ocaso das utopias coletivas a partir do final dos sessenta nos relega hoje seu tão desmoralizado vaticínio como uma espécie de maldição. Pois o que vinha se enunciando como mera lenda urbana e falácia do mais sem noção pregador apocalíptico de praça pública hoje é endossado por especialistas dos mais diversos campos do saber. Quem diria!
E não bastassem os problemas de “ordem física”, o neoliberalismo que endossa os ditames da nova ordem global mundial dá uma conotação ainda mais dramática a esta problemática. O conceito de nação cada vez mais perde sua validade, pois governos, em grande parte em se tratando de nações periféricas, são elementos meramente decorativos em função da ditadura do capital transnacional. Este mesmo capital alheio a fronteiras que não sejam somente as dos lucros das matrizes nas filiais disseminadas pelo globo, o que destrói o equilíbrio de economias mais frágeis e disseminam desolação com poderio tão destrutivo quanto às mais nocivas armas de destruição em massa. Fala, Frederico!
Não é de se estranhar que estas mesmas corporações possuem tentáculos nas mais variadas frentes, inclusive em alguns casos mais periféricos com intervenções nas produções de armamentos, trabalho escravo e tráfico de substâncias ilícitas. Além disso, uma certa sensação caótica, inicialmente típica dos grandes centros, hoje em dia dissemina-se em larga escala, ainda que, no termômetro do caos urbano nas metrópoles, a situação tenha extrapolado os limites da calamidade pública diversas vezes. Violência gera violência, mesmo que travestida! E a situação se generaliza como diques que libertam água represada. Acontece no mundo inteiro.
Prova disso são as pautas do jornalismo diário em nossa urbe. Não é por menos que hoje aqui também se confunda milícia com traficantes, pois já não se sabe mais quem é polícia e quem é bandido. Esta inversão de valores generalizada, misturada à insatisfação salarial, leva os policiais a atuarem nas milícias, tendo em vista uma possível melhoria de vida proposta pela máquina policial oficiosa - o que atesta a ineficácia do Estado em preparar adequadamente e recompensar, exceto nos casos de má índole, aqueles mesmos que em tese são responsáveis por instaurar a ordem. No entanto, as milícias acabam por fim se tornando um "mal necessário" aos olhos da opinião pública, pois o combate oficial contra os próprios colegas pode sugerir problemas ainda maiores relacionados à segurança pública. Ainda que, no cômputo geral, este talvez seja mais uma solução paliativa em que a cobra come o próprio rabo.
Já no âmbito do microcosmo social, ainda que haja uma maior “tolerância” às diferenças, não se vê de fato um ajustamento desta diversidade, ainda que este seja um mal menor. Porém, este é maior ao passo que cada vez mais é relegado ao segundo plano do mero formalismo das solenidades comemorativas. Fora isso, muitos passam fome, mesmo em um país pródigo em riquezas naturais como é o Brasil. A educação ainda consiste no maior entrave para este país ocupar o devido lugar de destaque no cenário mundial. É em função das deformidades educacionais que o país ainda vive à sombra da pecha de esta quase-colônia ser “o bobo-alegre país de um futuro que nunca chega”.
É em razão da educação deficiente que nosso povo feliz ainda é gado admirável de manipulações diversas. O poder público está fora de alcance, nas esferas que decidem de fato os rumos desta nação. Como não é novidade para ninguém, está enclausurado numa espécie de “Olimpo” povoado, em grande parte, por uma escória da pior espécie a se perpetuar geração após geração no comando das decisões políticas mais importantes do rumo deste país.
No entanto, a política nossa de cada dia, no sentido clássico da República de Platão, está cada vez mais próxima de nós, mas não ao alcance de nossas vistas, como se esta fosse dotada de uma luz demasiadamente forte - conforme consta na legendária Alegoria da Caverna. Mas as ONGs "em tese" ajudariam a “desembaçar” a visão turva generalizada de que a solução de nossos problemas coletivos está muito além de nossa alçada, como se esperássemos eternamente pela ação dos salvadores da pátria. Terreno fértil para a manipulação de massa e para a inclusão de alcatéias em meio às ovelhas mais fiéis do rebanho nacional, onde o mal se instaura como espécie travestida de cordeiro. E é justamente neste espaço que a ação das organizações não-governamentais se mostra cada vez mais importante no enfrentamento e solução de nossos problemas na "pólis", seja em âmbito de macro ou microcosmo. Pois o terceiro setor cada vez mais terá função efetiva na condução de nossas resoluções neste milênio, ainda que também possa mascarar a maldade de forma maquiavélica. United Abominations é o novo álbum de Dave Mustaine...
Textos open-source de Marcus Marçal. Não é permitida a reprodução destes textos de forma alguma sem permissão prévia, seja em sua forma integral ou parcial. Por favor, contate-me antes via e-mail.
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